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Metáforas Caboclas

METÁFORAS CABOCLAS: UMA IMERSÃO NOS DITOS POPULARES DE RONDÔNIA

Metáforas Caboclas: Uma imersão nos ditos populares de Rondônia

O povo, através dos tempos, tem cunhado ditos que são verdadeiros fragrantes da vida. O povo da Amazônia usa, geralmente, a forma comparativa nas suas metáforas, revelando vivacidade e inteligência aguçadas

Por Yêdda Pinheiro Borzacov

O caboclo sabe, como ninguém, surpreender o ridículo dos homens e das coisas, imprimindo nos seus ditos o traço, o acento burlesco, transformando-os em autênticas joias da literatura oral.

Não é tarefa fácil fazer o balanço da linguagem popular de uma região ou estado. A primeira dificuldade, como acontece com a história em geral, consiste em separar uma linguagem, tipicamente rondoniense – coisa praticamente impossível-, da linguagem amazônica e nordestina. O que se observa nitidamente é que os nossos ditos são quase os mesmos de toda a Amazônia e do Nordeste, embora, no espaço e no tempo, surjam versões e variantes.

Para ilustrar esta crônica, selecionei alguns exemplos que correm de boca em boca em Rondônia:

  • Só quer ser trinta e um de fevereiro“, ou “só quer ser o que a folhinha não marca“, expressões utilizadas para indicar gente orgulhosa, que se julga melhor que as demais;
  • Sofre que nem sovaco de aleijado“, equivalente a uma pessoa que vive sofrendo;
  • Nasci nu e já estou vestido“, quer dizer que ao nascer não tinha bens materiais, porém como conseguiu algum, já se sente realizado;
  • Dobrou o Cabo da Boa Esperança“, alusão de que a pessoa já está velha, impedida de realizar algum feito;
  • É hora da onça beber água“, quer dizer que o momento esperado chegou;
  • Jogar verde pra colher maduro“, expressão que indica quando uma pessoa faz perguntas capciosas procurando descobrir algo;
  • Mistura alhos com bugalhos“, diz-seda pessoa que mistura a informação certa com a incorreta;
  • Vá pro quinto dos infernos“, expressão usada quando não se quer saber do indívuduo com quem se conversa;
  • Dar nome aos bois“, alusão às pessoas que realmente realizaram o feito e não são lembradas;
  • Praga de urubu não mata cavalo gordo“, alude que o mal que um inimigo deseja não atinge o alvo;
  • Por as cartas na mesa“, esclarecer algo,  tirar todas as dúvidas;
  • Liso que nem caminho de cobra“, ou “está na pindaíba“, ditos que traduzem a falta de dinheiro do indivíduo;
  • Deu com os burros n´água” significa que a pessoa errou;
  • Tirar o cavalinho da chuva“, expressão usada para aconselhar a pessoa para perder a esperança do que almeja;
  • Macaco velho não põe a mão em cumbuca“, isto é, uma pessoa experiente tem prudência em realizar um feito ou tomar uam atitude;
  • Estou de orelha em pé“, quer dizer, fiquei atento;
  • Tem boi na linha“, dito exclamado quando há desconfiança;
  • Dar com o nariz na porta“, significa fazer uma visita e não encontrar ninguém na residência visitada;
  • Muito cacique pra pouco índio“, expressão usada quando tem muita gente pra mandar e pouca gente pra excecutar;
  • Conversa pra boi dormir“, significa conversa tola, jogada fora;
  • Chove mas não molha“, diz-se quando uma pessoa remancha para resolver um negócio;
  • Dar com a língua nos dentes“, quando a pessoa fala o que não deve;
  • “Engoliu sapos e lagartos”, isto é, engoliu desaforos;
  • “Estou com um pulga atrás da orelha”, significa que desconfio de alguma coisa;
  • Falar cobras e lagartos”, corresponde a dizer xingamentos (…)

A lista continua, ainda, interminável: “à noite todos os gatos são pardos“, “dois bicudos não se beijam“, “quando um não quer, dois não brigam“, “em tempos de vacas magras, urubu anda de banda“…

Metáforas Caboclas:


Fonte: A crônica “Metáforas Caboclas” encontra-se no livro Rondônia Cabocla, da escritora rondoniense Iêdda Pinheiro Borzacov, publicado em 2002 pela Academia de Letras de Rondônia/Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia – IHG/RO, aqui publicada com pequenas edições da Redação Xapuri.


 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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