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Amazônia: Esse patrimônio é nosso. Defenda-o!

: Esse patrimônio é nosso. Defenda-o!

POR LÚCIO FLÁVIO PINTO

Este texto não tem a pretensão de ser informativo. Quer apenas – e, sobretudo – transmitir o estado de espírito no qual me encontro neste momento, de forte emoção. Acabo de ver uma reportagem do Globo Repórter sobre a expedição científica às maiores árvores da Amazônia. Elas ficam no alto rio Paru, no noroeste do Pará. É uma das áreas mais preservadas da região. O local onde os exploradores encontraram, em uma concentração que percorreram, 15 árvores acima de 70 metros, está numa unidade de proteção com 3,6 milhões de hectares, que vem do Amapá, no maior corredor ecológico do mundo.

Um bolsonarista da vida, um madeireiro, um “desenvolvimentista”,  especuladores e destruidores da Amazônia serão capazes de arregalar os olhos e gritar: tudo isso? Ao menos isso, deveríamos reagir, tanto os que aqui nasceram como os que aqui vivem ou esta terra amam. Quase chorei de emoção ao ver um angelim (nome que dei a um dos meus filhos, em à árvore e ao homem, famosos por sua bravura e sua força, na geografia e na história, a árvore e o cearense Eduardo Nogueira, da cabanagem).

Um angelim com 82 metros de altura, mais de oito metros de circunferência, de tronco linear, altivo e rijo, no topo de um uma elevação, resistindo às intempéries da natureza: ventos, tempestades, raios, trovão, perda de nutrientes, lixiviação. Sempre vencedor, porque até ele, de humanos, só chegaram os cientistas, a equipe do bendito Globo Repórter e os mateiros da ilha do Itajapuru, por onde passei numa das várias viagens que fiz pelo Jari, que já foi do coronel José Júlio de Andrade e do milionário americano de Daniel Ludwig.


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Sentimentos combinados de emoção, respeito, felicidade e honra por estar diante do grande personagem posto na terra por um processo da natureza originado de um toque divino. Na hora, um dos pesquisadores estimou a idade da árvore: entre 400 e 600 anos. Já era planta – ou muda, pelo menos – quando Cabral deu início à corrida devastadora sobre os componentes milenares do ecossistema, salvados dos incêndios que ainda nos cabe manter e usar racionalmente.

Resistirá esse angelim ao avanço das frentes econômicas? Conseguirá sobreviver à obsessão humana pelo “desenvolvimento”, o apetite voraz dessas formigas gigantescas com suas armas potentes, como as terríveis motosserras, exibidas, propagandeadas e comercializadas pelo maior fabricante mundial dessa máquina, a Stihl, em pleno campus de uma universidade dita florestal, a Ufra, sem provocar qualquer sinal de escândalo e indignação (equipamento de trabalho quando sujeita a um plano de uso inteligente, arma de matar árvores quando no coldre dos “bandeirantes” preadores de índios).

A experiência alerta que não. A paisagem que a Globo acaba de exibir é a materialização da famosa frase centenária de Euclides da Cunha: a Amazônia é a última página do Gênesis, delegada por Deus aos homens. Mata alta, densa e fechada. Morros e serras ao fundo, no extremo meridional do . Populações nativas nos limites fluviais acessíveis; combinação de frutos e animais. Um Éden, se o homem ainda pretende manter um espaço reservado à harmonia, ao império do saber e da inteligência no convívio com o esplendor da natureza, o último patamar da comunicação com algo superior a nós mesmos.

Não podemos deixar que esse patrimônio seja dilapidado por quem só consegue ver cifrões nas árvores que esse momento de excelente jornalismo nos presenteou. Somos filhos das águas e da floresta, como sinto neste momento, movido pelo palpitar de uma emoção genuína, que atesta minha condição amazônida.

Essa reportagem deveria ser reproduzida aos milhares e mandada pelo governo (claro, desde que a Globo faça cessão gratuita, diante do uso não comercial da sua produção) por todas as escolas, universidades, bibliotecas, clubes de serviço e quem mais desejasse, tornando-se item obrigatório nos currículos e fomentador de debates. Os anos letivos deveriam começar no Estado com a exibição desse documentário.

Obrigado, Globo. Por este momento, e por mais alguns, esperando que não sejam apenas fruto inevitável de uma posição política transitória,, desejo que resista à perseguição do capitão do (anti) mato e a concorrência cínica e imoral dos Edir Macedo e Sílvio Santos, com seus apêndices, dependurados nas tetas oficiais, a Record e o SBT, apostando na luta contra a Globo no tapetão bolsonarista e não na concorrência comercial e de produção televisiva.

A Amazônia agradece. A Amazônia quer viver como é, não como querem que seja os seus conquistadores e exploradores.

Fonte: lucioflaviopinto.wordpress.com


 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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