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Tortura: uma aberração, ignomínia, uma desgraça

Tortura: uma aberração, ignomínia, uma desgraça

Tortura: uma aberração, ignomínia, uma desgraça

Bolsonaro e a tortura

Recebido via Nonô Noleto, jornalista e colaboradora da Xapuri, e membro efetivo da ALANEG/RIDE. O artigo traz a fala de Pinheiro Salles, jornalista goiano, vítima e sobrevivente da Ditadura no Brasil.

Quando o presidente da República era deputado federal, eu cheguei a supor que ele tivesse atuado nas câmaras de tortura da . É que seus pronunciamentos e esdrúxulas declarações em defesa do regime autoritário, do terrorismo de Estado e dos torturadores me levaram a acreditar nessa possibilidade. Todavia, observando seu comportamento no Palácio do Planalto, estou convencido de que lhe falta a competência mínima que os tiranos exigiam dos seus verdugos.

Como afirma a ex-coordenadora da Comissão Nacional da Verdade Rosa Maria Cardoso, “a ditadura de 64 criou uma ossatura própria, constituída por instalações militares e civis providas de instrumentos, serviços burocráticos e equipes especializadas no uso sistemático da tortura contra seus opositores”. E já está provado que Bolsonaro jamais teria condições de ser aproveitado pelos nazifascistas que controlaram o País durante 21 anos. Ao longo desse trágico período, ele não deve ter passado de um mero lambe-botas dos generais aboletados no governo.

Afinal, a tortura não era uma prática de pessoas tresloucadas, desqualificadas e sádicas como o capitão reformado Jair Bolsonaro. O regime assegurava o oficio de torturador, necessariamente oferecendo cursos, instrução reiterada, difusão de técnicas, rigorosos treinamentos. O Estado ditatorial preparava seus agentes para o eficaz exercício da sua atividade. E aí se incluíam os impulsos sádicos e destrutivos, que eram emanados da institucionalizada.

Frise-se que a tortura é uma excrescência, uma aberração, ignomínia, desgraça que absolutamente nenhuma situação conseguiria justificar. Não se admite a tortura para salvar 500 ou mil vidas. Mais de que qualquer outro crime de lesa-humanidade, é a suprema violação do direito da pessoa que um ser humano pode infligir a seu semelhante. A propósito, a Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1948, determinou que “ninguém será submetido a tortura ou crueldade, tratamento ou punição degradante ou desumana”. Entretanto, no Brasil, mais de que na maioria das outras nações que subscreveram o documento, esse suplício continua sendo praticado e até enaltecido pelo titular do Poder Executivo.

Os algozes violentaram mulheres e homens. Arrancaram dentes e unhas com alicate. Quebraram braços, costelas, pernas, mandíbulas. Furaram olhos. Urinaram em cara de presos desfalecidos, pendurados em paus-de-arara. Castraram, estupraram, extirparam seios. Afundaram crânios. Com viaturas, moeram o de pessoas encobertas com a areia de praias. Na Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, um cachorro foi treinado para morder os testículos do preso colocado em sua frente. Se os não conseguem refutar as mentiras de Bolsonaro, os sobreviventes têm o dever de contribuir para que um dia a verdade possa prevalecer.

De tudo, fica a certeza de que não se deve cobrar desse presidente o necessário respeito por e pelos demais brasileiros torturados porque defendiam a democracia, a e o socialismo. Ele não tem discernimento para entender nada disso. Em escala inferior aos ditadores e aos seus prepostos, Bolsonaro será, sem demora, definitivamente sepultado no lixo da História. O que se exige, ainda hoje, é a punição dos torturadores, incluindo a funesta memória dos que já faleceram, como Sérgio Fleury e Carlos Alberto Brilhante Ustra. Ditadura nunca mais.

Pinheiro Salles: Preso político de 1970 a 1979. Presidente da Comissão de Direitos Humanos e de Imprensa do Sindjor- .

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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