Águas menos barrentas
Pesquisa divulgada em 2017 pela conceituada revista Nature deu um alerta jamais esperado. O Rio Amazonas pode ficar com suas águas menos barrentas, o que significa menos peixe e terra menos fértil. O mesmo pode acontecer com os demais rios amazônicos.
Por Felício Pontes Jr.
A notícia chegou ao Brasil pelo jornalista Claudio Angelo, do Observatório do Clima. Ele informa que a causa para esse verdadeiro colapso ecológico é a construção de mais de 500 hidrelétricas na região, nas próximas décadas.
Muitas delas já foram construídas e estão retendo os sedimentos que esses rios carregavam, como, por exemplo, as hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio, no Rio Madeira, em Rondônia.
O geólogo argentino Edgardo Latrubesse, responsável pela equipe de 16 cientistas que estudam o tema, informa que a China, ao concluir a construção no início do século da hidrelétrica de Três Gargantas – a maior do mundo –, vive um drama.
O Rio Yangtzé perdeu 70% dos sedimentos que carregava – uma tragédia que os chineses ainda tentam reverter.
No Brasil, os impactados diretamente pelo problema são povos e comunidades tradicionais que vivem e dependem dos rios amazônicos. O Rio Teles Pires, em Mato Grosso e Pará, por exemplo, sobre o impacto das barragens recentes, e que não distam 50 quilômetros uma da outra – São Manoel e Teles Pires.
Na vizinhança estão os povos indígenas Kayabi, Munduruku e Apiaká. Eles resolveram sair da invisibilidade que lhes foi imposta e utilizar nossas armas tecnológicas para serem ouvidos.
Com a ajuda do Instituto Cento de Vida (ICV0, fizeram vídeos com depoimentos sobre o que aconteceu com o Rio Teles Pires depois das barragens. O material está circula na internet com o sugestivo nome de “Vozes dos Atingidos”.
Os entrevistados mostram uma lógica de pensamento completamente diferente da propaganda pela sociedade dominante. Denunciam que os peixes diminuíram drasticamente, comprometendo a segurança alimentar; alertam que as águas estão poluídas e causam doenças de pele; informam a fuga dos animais…
É necessário conter a sanha barragista que promove desastres, como o do Rio Xingu, com a hidrelétrica de Belo Monte – a mais polêmica de todas. Nenhum ribeirinho merece que a paisagem do seu rio se torne monótona, sem a surpresa de sua transformação, que torna a vida dinâmica e alegre.
Felício Pontes Jr., em “Povos da Floresta – Culura, Resistênc ia e Esperança” – Paulinas, 2017. Capa: Encontro das Águas – Somos Todos Amazonas. ]