A COP 30 E O DESAFIO GLOBAL DA DESINFORMAÇÃO CLIMÁTICA

A COP 30 E O DESAFIO GLOBAL DA DESINFORMAÇÃO CLIMÁTICA

A COP 30 E O DESAFIO GLOBAL DA DESINFORMAÇÃO CLIMÁTICA

A integridade da informação climática é um tema desafiador e urgente, que ganhou tração no processo da COP 30. Ela é hoje compreendida como uma questão transversal e de alta sensibilidade: a desinformação está impedindo a humanidade de vencer a luta contra as mudanças do clima.

Por Frederico Assis

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Foto: Ricardo Stuckert

Impulsionados por interesses políticos, econômicos e ideológicos — e movidos por algoritmos opacos — conteúdos enganosos minam a confiança na ciência e nas instituições, enfraquecem políticas públicas, desmobilizam a opinião pública e alimentam narrativas que justificam a paralisia da ação coletiva. 

Em um mundo hiperconectado e assolado por crises sobrepostas, a integridade da informação tornou-se uma base essencial para a construção de respostas coletivas aos desafios globais. Nenhum deles é tão incontornável quanto a emergência climática.

O Brasil reencontrou seu lugar no cenário global após um período de obscurantismo e isolamento internacional. Hoje, o país voltou ao centro das discussões multilaterais, impulsionado por uma diplomacia presidencial de alto nível sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

O país retoma sua tradição diplomática de construir pontes, reafirmando seu compromisso com o multilateralismo, a paz e a busca por soluções conjuntas aos desafios da humanidade. Essa reaproximação se expressa em eventos recentes, como as cúpulas do G20 e dos BRICS, e culminará em Belém, na conferência climática mais importante da década.

O Brasil é historicamente um protagonista da agenda climática. Possui a Amazônia, fundamental para o equilíbrio do planeta; uma matriz energética majoritariamente limpa; e um presidente respeitado nos quatro cantos do globo.

Tudo isso ocorre no marco simbólico dos dez anos do Acordo de Paris, o que amplia ainda mais a responsabilidade do momento. Para corresponder a essa expectativa, o Brasil formou um time de excelência, liderado pelo embaixador André Corrêa do Lago e pelos high-level champions Dan Ioschpe e Marcelle Oliveira. 

O ministro Fernando Haddad, que conduz brilhantemente o círculo de ministros da economia, e as ministras Marina Silva e Sônia Guajajara, referências mundiais na defesa do meio ambiente e dos povos originários, também integram essa estrutura.

UM NOVO PAPEL GLOBAL 

Nesse espírito, a Presidência da COP 30 criou a figura dos Enviados Especiais — entre eles, o Enviado Especial para Integridade da Informação. A função é reunir demandas do setor e criar canais diretos com sociedade civil, especialistas, ativistas e comunicadores, fortalecendo o diálogo e a circulação responsável de informações. 

A missão é garantir que o debate público ocorra com responsabilidade, mobilizar influenciadores e romper bolhas, mantendo o tema vivo no debate público e sensibilizando as grandes plataformas digitais, as chamadas big techs. Como afirmou o presidente Lula, esta será a “COP da Verdade” — e sem verdade, não há confiança nem ação coletiva.

O Relatório de Riscos Globais deste ano, do Fórum Econômico Mundial, alerta: a desinformação é hoje o principal risco global no curto prazo, enquanto a emergência climática vem logo em seguida. Vivemos o que o Painel Internacional sobre o Ambiente da Informação define como “uma emergência dentro da emergência”. 

Nesse cenário, o Brasil ocupa posição singular. É protagonista tanto na agenda climática quanto na defesa da integridade da informação. Em reuniões preparatórias em Bonn, Londres, Rio de Janeiro e Cidade do México, o tema tem ganhado centralidade e reconhecimento internacional.

INFORMAÇÃO CONFIÁVEL E AÇÃO COLETIVA 

A atuação brasileira ocorre em duas frentes. A primeira é a promoção de informação confiável — um esforço por um debate público saudável, plural e responsável. Isso inclui valorizar o jornalismo profissional, fomentar a educação midiática e investir em campanhas de comunicação estratégica sobre temas prioritários. 

A segunda é o combate direto à desinformação. As campanhas de desinformação climática estão cada vez mais sofisticadas, minando consensos, polarizando o debate e tentando deslegitimar o processo da COP e seus atores. Enfrentar esse fenômeno é essencial para preservar a democracia e a própria possibilidade de ação coletiva.

Por isso, pela primeira vez, a integridade da informação integra a Agenda de Ação da COP, gerando compromissos concretos de implementação. A Presidência brasileira atua como facilitadora desse processo, articulando setores da sociedade civil e instituições internacionais em um verdadeiro mutirão global pela verdade climática.

INICIATIVA GLOBAL PELA INTEGRIDADE DA INFORMAÇÃO

Entre as iniciativas destacadas está a Iniciativa Global pela Integridade da Informação, lançada pelo presidente Lula em parceria com a ONU e a UNESCO durante o G20 no Rio de Janeiro. 

O objetivo é oferecer uma resposta multilateral ao desafio da desinformação, com ações concretas e coordenação global. O projeto já conta com a adesão de países de diferentes regiões — França, Reino Unido, Dinamarca, Suécia, Chile, Uruguai e Marrocos — e o envolvimento direto da sociedade civil. 

Seus eixos de atuação incluem a produção de evidências sobre os impactos da desinformação, o desenvolvimento de estratégias de comunicação baseadas em ciência e o apoio ao jornalismo investigativo. 

Essas ações refletem um compromisso político com a verdade, a democracia e a sustentabilidade.

O AVANÇO DO NEGACIONISMO E SEUS RISCOS

Quando falamos em negacionismo científico, tratamos da recusa em aceitar as evidências sobre as mudanças climáticas. Essa negação, motivada por interesses políticos, econômicos ou ideológicos, assume novas formas — do ceticismo estratégico ao obstrucionismo climático — que buscam relativizar a urgência das soluções. 

O perigo é claro: o negacionismo atrasa medidas de prevenção e mitigação, desorienta ações diante de desastres e afeta, sobretudo, os mais vulneráveis. Estudos mostram que mentiras têm 70% mais chances de serem compartilhadas do que informações verdadeiras.

O Painel Internacional sobre o Ambiente da Informação alertou que existe uma rede global de desinformação, alimentada por grandes companhias, partidos de extrema direita e influenciadores, que sistematicamente minimizam responsabilidades ambientais e transferem a culpa para países mais pobres.

Essa engrenagem global da desinformação corrói a convivência democrática e aprofunda desigualdades.

O PAPEL DAS GRANDES PLATAFORMAS 

No centro desse debate estão as grandes plataformas digitais. As big techs são hoje atores políticos globais e não apenas empresas privadas. Seu modelo de negócios, baseado na disputa pela atenção, favorece a polêmica, a indignação e a mentira. 

A tecnologia não é neutra — ela premia o conflito e estimula a polarização. As soluções passam por três pilares: regulação inteligente, capaz de proteger a liberdade sem abrir mão da responsabilidade; transparência algorítmica, para que se compreenda como funcionam os mecanismos que determinam o que chega a cada usuário; e educação midiática, para formar cidadãos mais preparados diante desse ecossistema informacional.

Superar a desinformação é mais do que proteger fatos — é proteger vidas. Promover a integridade da informação climática é pôr em marcha nossa capacidade de enfrentar a maior crise da humanidade com diálogo, inteligência e coragem. 

A mensagem que o Brasil levou à COP30 é inequívoca: a integridade da informação não é um requisito técnico, é um compromisso político com o futuro do planeta.

Frederico AssisEnviado Especial da Presidência da COP30 para Integridade da Informação. Matéria publicada originalmente na Revista Focus Brasil.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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