A lenda da Mãe Samaúma
Diz a sabedoria da floresta que a Samaúma tem na sua base, chamada de sacupema, uma grande porta invisível aos olhos humanos, que é usada como uma passagem para conectar o mundo humano com o universo espiritual.
Por Arnaldo Quispe
É por essa porta que entram e saem os seres mitológicos da floresta e, em especial, uma bela garota, que antes foi uma grande curandeira e protetora dos animais e das plantas da Amazônia e hoje vive dentro da própria árvore, como o espírito essencial da Samaúma.
Conta a lenda que em tempos muito antigos o marido dessa curandeira foi picado por uma cobra venenosa, e ela nada pôde fazer para salvá-lo. Passado o luto, a moça se dedicou a pesquisar a cura para a picada de cobras. Ela descobriu que o tubérculo da planta jérgon sacha (Dracontium lorettense) não só curava as picadas, mas também dava à pessoa imunidade contra o veneno de outras picadas.
Infelizmente, um dia o filho da curandeira foi picado, e o remédio não funcionou. Desesperada, ela tomou uma medida radical: usando rapé, suplicou ao espírito da planta que deixasse seu filho viver. Em troca, a curandeira concordou em tornar-se espírito e viver para sempre na base da Samaúma.
Por isso é que hoje tem “Mãe Samaúma”, esse espírito que ocupa um lugar de honra no reino da floresta. É ela quem, com sua poderosa energia, olha e protege as plantas e os animais das matas e da natureza.
Fonte: Este texto é um excerto editado de “Um Conto Amazônico”, de Arnaldo Quispe, publicado em 2013 no Blog Terras Náuas, do jornalista acreano Leandro Altheman Lopes – terranauas.