A RESTAURAÇÃO DOS SILVA

A restauração dos Silva

Até bem pouco tempo, o sobrenome Silva era sinônimo de ninguém ou o mais comum, até, muitas vezes, evitado por seus portadores, apesar de estar no nome de Tiradentes

Por Adair Rocha  

A construção do processo democrático trouxe, simplesmente, para os planos nacional e internacional: Marina Silva e a questão do Meio Ambiente, Benedita da Silva e a discussão do Racismo e a representação do gestor público e Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, portanto, ocupando cadeiras do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e da Presidência da República, mais de uma vez, algo inédito para um operário, no processo histórico brasileiro e mundial.

A inversão está feita. Silva vai pras cabeças. Pais e parentes o usam com orgulho.

Nesse bonde, emergem das Favelas e das periferias, também com acesso às Universidades, o reconhecimento do que se pode chamar dos “novos Intelectuais orgânicos”, com Itamar Silva, Marinete (mãe de Marielle), Michel, Eliana, Jailson e o grande Comunicador Comunitário Rene, todas/os Silva.

Tal repercussão chega também aos meios de Comunicação, ainda que, historicamente, ignorassem os Silva.

Temos que parabenizar nosso Rene Silva e a VOZ das COMUNIDADES que, a partir de agosto próximo terá um Programa na Rede Globo de Televisão, como Apresentador, exatamente, enaltecendo os “Silva”!

Viva a democracia, no fortalecimento do processo político do acesso, do público e do comum, onde os “Silva” do Brasil se assinam!

Imagem do WhatsApp de 2023 08 16 as 10.10.29Adair Rocha – Professor Titular da FCS/ UERJ. Conselheiro da Revista Xapuri


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A RESTAURAÇÃO DOS SILVA
Foto: Rodrigo Oliveira/Time

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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