Adeus, Orlando Brito, gigante do fotojornalismo brasileiro

Adeus, Orlando Brito, gigante do fotojornalismo brasileiro

Buscamos uma forma de homenagear Orlando Brito, esse gigante do fotojornalismo brasileiro. O post de Silvio Küster expressa nosso sentimento: “Vai fazer muita falta.” 

“O sol, na altura do horizonte, invadia o andar térreo do Congresso. Réstia de raios cristalinos. Doutor Ulysses parou em frente do elevador. Do lugar onde eu estava, no contra-luz, via a silhueta de Ulysses. Quatro fotogramas.” Palavras de Orlando Brito, um dos maiores fotojornalistas da imprensa brasileira, que morreu nesta madrugada em Brasília, (11/03) aos 72 anos. Vai fazer muita falta.

Fotógrafo Orlando Brito morre aos 72 anos em Brasília

Profissional foi um dos mais reconhecidos do país

 
Por O Primeiro Portal
O fotógrafo Orlando Brito morreu hoje (11/ 03) em Brasília de falência múltipla de órgãos. Ele estava internado há algumas semanas e passou por cirurgia no intestino, mas não resistiu.ebcebc
Brito morreu de madrugada no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), onde estava internado na unidade de terapia intensiva (UTI) há 34 dias. O profissional é um dos mais reconhecidos fotógrafos políticos do , tendo registrado os bastidores do poder desde a época da ditadura militar.
Orlando Brito nasceu em 8 de fevereiro de 1950 em Janaúba, . Chegou a Brasília no início da construção da cidade, em 1957. Entre os temas de seu  estão também , questões sociais, terra, indígenas e eventos esportivos. Ele viajou para mais de 60 países em coberturas presidenciais, viagens de papas e eventos esportivos, como copas do e Jogos Olímpicos.
Autodidata, começou a trabalhar como laboratorista da sucursal do jornal carioca Última Hora aos 14 anos de idade e passou a fotografar dois anos mais tarde. Entre 1968 e 1982 trabalhou no jornal O Globo. Depois, foi contratado pela Veja, onde ficou por 16 anos e ocupou a editoria de fotografia. Trabalhou também no Jornal do Brasil, no Rio.
Brito tem publicados os de fotografia Perfil do Poder (1982), Senhoras e Senhores (1992), Poder, Glória e Solidão (2002), Iluminada Capital (2003) e  e Alma (2006).
Ganhou o prêmio World Press Photo, do Museu Van Gogh de Amsterdã, na Holanda, em 1979. Por 11 vezes recebeu o Prêmio Abril de Fotografia, inclusive o de hors-concours. Recebeu a distinta Bolsa de Fotografia da Fundação Vitae, de , em 1991, além dos prêmios de Aquisição da I Bienal de Fotografia do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e da Bienal Internacional de Fotografia de Curitiba.
Tem fotografias no de colecionadores institucionais e privados. Entre elas estão a Coleção Pirelli, do Masp, o Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio e de São Paulo; o Instituto Moreira Salles; a Enciclopédia de Artes Visuais do Instituto Cultural Itaú e o Museu Georges Pompidou, de Paris.
Fez várias exposições individuais, inclusive Um Sonho Intenso, no Masp, além do Museu da República, do Palácio do Catete, no Rio, do Teatro Nacional de Brasília e outras capitais brasileiras. Na sede da Federação das Indústrias, em Belo Horizonte, bem como na galeria da Caixa, em Curitiba, apresentou Fotografia é .
Entre as cidades onde expôs também estão Londres, Nova York, Tóquio, Madri, Lisboa, Basileia, Buenos Aires e México.
Fonte: O Primeiro Portal/Agência Brasil. Foto interna acompanha a matéria. Capa: Poder 360.
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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