Antes tarde do que tarde demais

Antes tarde do que tarde demais

Supremo reconhece parcialidade de Moro na condenação de , que ainda espera por justiça

Por Reginaldo Lopes

agiu politicamente e trabalhou para eleger Bolsonaro, de quem virou ministro. A decisão da mais alta Corte do país de excluir a delação de Antônio Palocci do processo contra o ex- reconhece isso. Justamente, alegando “ato político”, o STF apontou a parcialidade do ex-juiz.

Uma vez reconhecida a suspeição de Moro para ter julgado Lula, o que falta para a condenação do ex-presidente ser anulada e para que ele tenha seus direitos políticos reabilitados?

Ninguém está pedindo para que a Justiça peça desculpas de joelhos ao país. Apenas para que as injustiças sejam reparadas.

Para os representantes da elite brasileira, não basta excluir do processo eleitoral. Há o interesse escuso e pouco democrático de banir Lula também do político. A jornalista que hoje coordena o histórico Roda Viva, o mais importante programa de debates da televisão brasileira, afirmou que enquanto ela estiver à frente da atração, o ex-presidente não será convidado. Não pode ser o estômago o critério para decidir isso, e sim o interesse público. Não é interessante ouvir o que um ex-presidente da República reeleito tem a dizer? Não é interessante… para quem?

Ninguém há de negar que Lula é uma liderança histórica e popular e que sempre percorreu os caminhos democráticos. Jamais lhe incorreu, por exemplo, a tentação de um terceiro mandato, erro que inclusive companheiros da esquerda latino-americana cometeram. Trabalhou incessantemente por pautas cristãs, humanas, solidárias, como o combate à fome e à . Tem milhões de eleitores e de amigos por todo .

Se alguém, de fato, quiser, derrotar o , não pode abrir mão da força política de Lula. Até porque Bolsonaro é um político e só será combatido com a ajuda de um grande político. Com experiência, disposição e coragem para percorrer o país defendendo a . É a liderança brasileira capaz de apresentar uma alternativa generosa e viável também ao ultraliberalismo de Paulo Guedes e o mercado financeiro, que, como vimos, pouco se importa com a democracia dos países, caso consiga impor sua política.

Defender a anulação da condenação fraudulenta de Moro e das ações da República de Curitiba contra o ex-presidente já é um imperativo moral e democrático. Defender e em campo pela democracia e contra Bolsonaro é sinal de inteligência e amor ao país.

Não virá de Lula, necessariamente, a salvação deste país, mas a salvação desse país passa por derrotar Bolsonaro. E não se derrota Bolsonaro com um player como Lula no banco de reservas.

Fonte: Revista Fórum

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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