DE SANTO ANTÔNIO DO ITIQUIRA A ARRAIAL DOS COUROS

DE SANTO ANTÔNIO DO ITIQUIRA A ARRAIAL DOS COUROS

De Santo Antônio do Itiquira a Arraial dos Couros: Assim nasceu Formosa

Poucos são os livros e documentos disponíveis sobre a história de Formosa, local onde estamos e de onde fazemos este site da revista Xapuri. O texto a seguir, do historiador cerratense Paulo Bertram (História da Terra e do Homem no Planalto Central, Editora UnB, 2011) traz um pouco mais de luz sobre a formação da cidade de Formosa:

Da mesma época das minerações de ouro, Formosa surgiu de outras motivações: pouso de tropas, “rua” das sesmarias que se asentaram à sua volta, abrigo de famílias desgarradas dos sertões. Pela sua posição geográfica, desempenhava uma vocação mercantil precoce. 

O major Olympio Jacintho (1898-1938) foi o maior estudioso que até o presente tivemos sobre o antigo arraial de Couros, depois Formosa da Imperatriz e hoje Formosa.

Dizia Olympio Jacintho que a origem do arraial de Couros deu-se pela mudança da população de um arraial de crioulos, Santo Antônio, às margens do rio Paranã – abaixo da barra do rio Itiquira, local terrivelmente paludoso e doentio – para o salubre sítio de Formosa, 30 km a sudeste.

O geômetra italiano Tossi Colombina registra, com efeito, tanto no mapa-esboço de 1749, quanto no “oficial” de 1751, enterrado no vale do Paranã, um “Iryquira”, nome com o qual devia ser também conhecido o arraial: Santo Antônio do Itiquira. Olympio Jacintho, de seu tempo, dava notícias de resto de casas e de uma capela na região.

Nos documentos de que dispomos, o nome Itiquira aparece apenas duas vezes nos documentos da sesmaria de João da Rocha Couto, de 1754, “no sítio Santa Rita, no distrito de Itiquira,” e em uma inesperada sesmaria passada ao padre Manuel da Maya – a respeito de terras em Corumbá de Goiás – datada do sítio do Itiquira, aos 2 de novembro de 1756.

Nas sesmarias fundadoras da região, de Manoel de Almeida (1739) e de Manoel Azevedo Pinto (1741) – onde pela primeira vez aparece o nome de lagoa Feia – o Itiquira é referido apenas como “fazenda do Buraco” ou “Sítio do Buraco”. Temos como base,  portanto, para supor que esse arraial não apareceu antes de 1741 e nem foi extinto antes de 1756 (…).

Itiquira, para Theodoro Sampaio, vem do tupi-guarani, “água vertente, minadouro”; para Caldas Tibiriçá é “água que destila, respinga.” Algo a ver com os 120 metros da cachoeira do Itiquira?

Assim sendo, sem conseguir avançar muito por esse manancial de informações, a primeira vez que nos surge a menção à atual Formosa ou arraial dos Couros é no famosa Roteiro de Urbano: “dos quais ficarão intituladas suas cabeceiras, estas as principais do rio Preto, no arraial de Couros, São Bartholomeu, Paranam e Maranhão”. 

Ora, tendo dado entrada o roteiro no Palácio da Ajuda em 30 de julho de 1750, a notícia sobre o arraial devia vir pelo menos de 1749. A ser isso verdade, o arraial de Couros conviveu com o do Itiquira por alguns anos, sem comprometimento grave, porém, da tradição coletada por Olympio Jacintho: a mudança da população de um para outro pode ter sido gradual ou parcial. Há indícios de que o povoado de Santo Antônio ainda existisse no século XIX.

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Principais Atrações e Pontos Turísticos Catedral de Formosa, GO / Wikimedia Commons
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 Principais Atrações e Pontos Turísticos Lagoa Feia – Formosa, GO / Wikimedia Commons

Foto de capa: autoria desconhecida

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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