Bloquear Alguém: Mais do que qualquer outra coisa, uma estratégia de sobrevivência

Bloquear Alguém: Mais do que qualquer outra coisa, uma estratégia de sobrevivência

Às Vezes, Bloquear Alguém Não É Criancice, Mas Estratégia De Sobrevivência

Muitas vezes, somente conseguiremos prosseguir e nos fortalecer, quando pudermos confinar alguns sentimentos, lembranças e pessoas na área do esquecimento.
A melhor maneira de cultivarmos nossos relacionamentos, para que eles durem, é o constante diálogo, a fim de que não se acumulem pendências de nenhum lado. Falar o que incomoda com sinceridade evita futuros rompantes de discussões pesadas, por carregarem o que se calou por muito . Infelizmente, porém, nem sempre será possível se acertar com o outro, tampouco continuar a conviver amigavelmente com ele.
Muito se fala, hoje, sobre a necessidade de mantermos certa cordialidade com as pessoas que saem de nossas vidas, para agirmos como alguém maduro e bem resolvido. Acontece que existem coisas que não foram nem nunca serão bem resolvidas, pois terminaram após muita mágoa, dor e decepção. A gente sobrevive, a gente se recompõe e segue, mas vai carregando muitas cicatrizes nesse caminho.
Para que possamos retomar as rédeas de nossa própria , após sairmos de um relacionamento em que tanto investimos, será preciso tempo, calma e distanciamento.
Sim, teremos que nos distanciar daquela rotina a que nos acostumáramos, para que nosso emocional se acostume a uma nova situação afetiva. E isso implica, muitas vezes, evitar quem já não mais será parte de nós, porque então teremos que acordar, todos os dias pela frente, sob uma nova perspectiva de vida. E dói.
Isso também vale para outros tipos de relacionamentos além dos amorosos, uma vez que, em muitos casos, somente conseguiremos prosseguir e nos fortalecer, quando pudermos confinar alguns sentimentos, lembranças e pessoas na área do esquecimento.
 
Não há demérito algum em ignorar, bloquear no face e na vida, em evitar qualquer tipo de contato com pessoas que nos machucaram demais, pessoas falsas, tóxicas.
Caso tenham filhos em comum, então a muda, pois os pais devem conversar sobre aquilo que diz respeito aos filhos, sim.
Não podemos prever os acontecimentos, o desenrolar das tramas que tecem nossa vida, tampouco mandaremos em nossos corações, entretanto, sempre teremos a possibilidade de optar por quem permanecerá ou não em nossa caminhada.

Não será uma tarefa fácil e tranquila, muito pelo contrário, mas é assim que a gente faxina a alma e prossegue na lida.

Fonte: Portal Raízes

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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