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Blupiii…! Tuiniplin…!Tanananarãããã! – Sobre coisas ‘desimportantes’. Não leiam!

Blupiii…! Tuiniplin…!Tanananarãããã! – Sobre coisas ‘desimportantes’. Não leiam!

Por Jairo Lima

“Não precisam compartilhar este texto não, certamente ninguém dará atenção mesmo, é difícil concorrer com o político louco e a cacatua… cara, essa cacatua é sinistra…”

Estamos de saco cheio ou só estamos ficando insensíveis???

Hoje acordei pensando em coisas positivas e importantes. Será estranho isso?

Digo isso porque, ao que parece, o anda às turras com a positividade. Parece que estamos cercados de uma negatividade horripilante, que nos deixa com aquela sensação desagradável, igual a aquela quintura que sentimos no auge do verão amazônico, quando a umidade se une com o calor e nos amuquinha lentamente.

Fazia um bom tempo que não me dedicava a observar minhas redes sociais, tendo me limitando, nos últimos meses a uma postagem ou outra, de coisas mais ou menos importantes, que ninguém nem visualiza, certamente e, a outras tantas postagens totalmente inúteis do ponto de vista prático, que igualmente foi devidamente ignorado pelo grupo heterogêneo e, em grande parte, desconhecido de ‘amigos’ que eu adicionei à lista de minhas redes. Claro que muitos não tive o prazer de conhecer pessoalmente, outros que não sei por que adicionei e um bocado que realmente me pergunto como me acharam nesse universo infinito de possibilidades de amizades.

Descobri um canal no YouTube bastante interessante, que traz uma interessante experiência musical, onde faz-se arranjos alternativos para músicas bem conhecidas dos anos oitenta a atualidade e, enquanto o escuto nesse momento, fico matutando sobre essa coisa estranha de ter acordado com pensamentos positivos, e como estes enfraquecem ao longo do dia, principalmente quando os expomos a leitura das notícias diárias ou, pior, quando nos aventuramos à navegação social de nossa atual existência virtual e…. BUM!!!!!!

Acabei de perceber que não estou falando de índios ou de alguma coisa ligada à !!! Nossa!!! Certamente perdi a atenção de alguns que aguentaram até aqui essa leitura. Mas prometo que em algum lugar desse texto pode ser que encontremos alguma com esse tema que, não sei por que, parece ser a única coisa que ainda prende a atenção de alguns poucos e, em outros casos, quando resolvo chutar o ‘pau-da-barraca’ suscita o interesse de muitos. Vamos lá…. firmeza.

Retomo o pensamento inicial refletindo se por acaso não estamos simplesmente de saco cheio de tanta positividade ou informações relevantes, que nos fazem passar adiante para postagens mais interessantes como as de pets (adoro), ou de memes (que tenho uma dificuldade enorme de entender às vezes) ou, ainda, de pessoas que fazem do proselitismo político e da violência verborrágica um estilo de vida. Será que estamos sendo sufocados por tanta coisa relevante, que simplesmente preferimos desviar nosso foco para o ‘buraco de avestruz’ da percepção sensorial que nos escraviza?

Recebo uma foto no meu zap… é minha esposa posando com meus queridos ‘parentes’ Shanenawa, durante um importante evento voltado a escolar indígena que está sendo realizado na aldeia Morada Nova, Terra Indígena Katukina/Kaxinawá, no distante e pequeno município de Feijó-Acre, banhado pelo rio Envira.

Bonita imagem, evento muito relevante. Penso em escrever sobre isso… pra que? Boa pergunta. Talvez para registrá-lo nos anais da literária da minha vida? Afinal, é algo importante. Blupiiii… o zapweb me alerta para algo. Olho… é o mais novo vídeo de divulgação da 3ª Conferência Indígena da Ayahausca onde um jovem bem ‘apessoado’, Bem Meeus, nos fala sobre a importância desse evento, em mais um material visual de promoção.

Tuinplin…..!Soa o alerta sonoro do Facebook para algo postado…. vou lá! Nos fones de ouvido ouço uma versão em jazz para a música NothingElseMatters. Olho a postagem… é o amigo TashkaYawanawá sendo marcado em um importante evento em Nova York onde a imagem o mostra caminhando nas ruas, em uma grande manifestação pelo : Today Religions for Peace Internationaltookpart in theClimateMarchof New York – É a mensagem estampada na mensagem. Sim, é algo importante e relevante, fico lendo as postagens e mando uma mensagem para ele, acertando um papo para a próxima semana quando ele voltar dos .

Uma melodia ecoa nos meus ouvidos. Que lindo! Uma versão ‘anos de 1912′ da canção Girls Just WannaHaveFun: Chego em casa com o nascer do sol, minha mãe diz: Quando é que você vai viver sua vida direito?–É a mensagem cheia de melodia que me invade a percepção… Blupiiii…o zap chama… olho… Pukeshaya Shanenawa me dá boa tarde e iniciamos um papo interessante, cheio de informações sobre a conferência da . Blupiiii… Francisco Piyãko chama, informando que está gravando o vídeo para divulgação da ocnferência… Blupiiii…Xiti Nukini manda uma mensagem informando que vai sim na conferência… Blupiiii…DaiaraTukano manda um excelente vídeo para divulgação da conferência. BlupiiiiBlupiiiiBlupiiiiBlupiiii… A coisa engatou agora… o zap não para….Blupiiii

Ainda no mesmo canal do YouTube ouvindo e escrevendo…. tanananarãããã é o som esquisito do meu me avisando que estão me ligando. Olho, e um nome brilha na tela: Benki . Opa, preciso atender: Oi shere… beleza??? – E inicia-se um papo sobre a construção dos espaços no Instituto YorenkaTasorentsi, para receber a conferência indígena da ayahuasca.

BlupiiiiBlupiiii…!Tuinplin…..!Tuinplin…..!Tuinplin…..!…. tanananarãããã! …. tanananarãããã!…. tanananarãããã! BlupiiiiBlupiiii…!!! – O mundo de sons da existência virtual me preenchem a audição  juntamente com a melodia de mais uma canção. Coisas importantes acontecendo no ‘mundo indígena’, e eu sendo puxado para ele. Posto algo importante no Facebook. Ninguém vê, normal, afinal é algo importante.

Na timeline, logo abaixo de minha postagem, vejo que compartilharam uma cena horrível, de uma pessoa espancada… 75 comentários, seguida de outra postagem de uma cacatua se escondendo numa caixa, que lindo! Milhares de ‘curti’ e 98 comentários… Outra postagem: DaiaraTukano aparece enorme e brilhante na tela, ela vai fazer uma palestra. Segue mais uma postagem, agora a respeito de um político muito em voga ultimamente, com seu jeito truculento e surreal gera uma rusga terrível entre os comentários…. Outra postagem, agora sobre um movimento em prol da proteção ambiental e o uso de plásticos, zero comentários, doze ‘curti’.

Creio que o mundo, e todos estão de saco cheio de coisa que importam ou são relevantes, com certeza. Não os culpo, afinal o mundo que nos cerca não nos dá muita opção mesmo.

Mas, quer saber? Vou continuar na irrelevância e ‘desimportância’ do que realmente é importante, acho melhor, afinal, depois que me encantei com o colorido e plural ‘mundo indígena’ fui meio que transportado para outro tipo de existência, como se tivesse ingerido a pílula vermelha ofertada por Morpheus. Prefiro esse mundo.

Que lindinho: um vídeo de um pet vestido de bailarina!!!

BlupiiiiBlupiiii…!Tuinplin…..!Tuinplin…..!Tuinplin…..!…. tanananarãããã! …. tanananarãããã!…. tanananarãããã! BlupiiiiBlupiiii…!!! – Opa, pera! Peço desculpas, queridos e poucos leitores, preciso dar atenção a coisas aqui que, certamente enfadariam muitos nas minhas redes sociais… Vai ocorrer a 3ª Conferência Indígena da Ayahasuca, e preciso agitar umas coisas aqui.

Não precisam compartilhar esse texto não, certamente ninguém dará atenção mesmo, é difícil concorrer com o político louco e a cacatua… cara, essa cacatua é sinistra…

Fonte: Jairo Lima, indienista acreano, autor e gestor do blog Crônicas Indigenistas

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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