“Eu quero voltar sempre Preta!”
(…) Eu escrevia peças e apresentava aos diretores de circos. Êles respondia-me: É pena você ser preta.
Por Carolina Maria de Jesus
Esquecendo-se êles que eu adoro a minha pele negra, e o meu cabelo rustico. Eu até acho o cabelo de negro mais iducado do que o cabelo de branco. Porque o cabelo de preto onde põe, fica. É obediente. E o cabelo de branco, é só dar um movimento na cabeça êle já sai do lugar. É indisciplinado. Se é que existe reincarnações, eu quero voltar sempre preta.
Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus (1914-1977) foi uma escritora brasileira, considerada uma das primeiras e mais destacadas escritoras negras do País.
Ela é autora do livro best seller autobiográfico “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”.
A origem de Carolina
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, no interior de Minas Gerais, no dia 14 de março de 1914. Neta de escravos e filha de uma lavadeira analfabeta, Carolina cresceu em uma família com mais sete irmãos.
A jovem recebeu o incentivo e a ajuda de Maria Leite Monteiro de Barros – uma das freguesas de sua mãe, para frequentar a escola. Com sete anos, ingressou no colégio Alan Kardec, onde cursou a primeira e a segunda série do ensino fundamental.
Apesar de pouco tempo na escola, Carolina logo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita.
Em 1924, em busca de oportunidades, sua família mudou-se para Lageado, onde trabalhavam como lavradores em uma fazenda. Em 1927, retornaram para Sacramento.
A mudança para São Paulo
Em 1930, acompanhando a família, Carolina foi morar em Franca, São Paulo, onde trabalhou como lavradora. Em seguida, como empregada doméstica.
Com 23 anos, perdeu sua mãe e foi para a capital, onde empregou-se como faxineira na Santa Casa de Franca.
Em 1948, mudou-se para a favela do Canindé. Nos anos seguintes, Carolina foi mãe de três filhos todos de relacionamentos diferentes.
Carolina e a literatura
Morando na favela, durante a noite trabalhava como catadora de papel. Lia tudo que recolhia e guardava as revistas que encontrava. Estava sempre escrevendo o seu dia a dia.
Em 1941, sonhando em ser escritora, foi até a redação do jornal Folha da Manhã com um poema que escreveu em louvor a Getúlio Vargas. No dia 24 de fevereiro, o seu poema e a sua foto são publicados no jornal.
Carolina continuou levando regularmente os seus poemas para a redação do jornal. Por esse motivo acabou sendo apelidada de “A Poetisa Negra”. Era cada vez mais admirada pelos leitores.
Em 1958, o repórter do jornal Folha da Noite, Audálio Dantas, foi designado para fazer uma reportagem sobre a favela do Canindé e uma das casas visitadas foi a de Carolina Maria de Jesus.
Carolina lhe mostrou o seu diário, surpreendendo o repórter. Audálio ficou maravilhado com a história daquela mulher.
A publicação de “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”
No dia 19 de maio de 1958, Audálio publicou parte do texto, que recebeu vários elogios. Em 1959, a revista O Cruzeiro também publicou alguns trechos do diário.
Somente em 1960, foi finalmente publicado o livro autobiográfico “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, com edição de Audálio Dantas.
Com uma tiragem de dez mil exemplares, só durante a noite de autógrafos foram vendidos 600 livros.
O sucesso de Carolina
Com o sucesso das vendas, Carolina deixou a favela, e pouco depois, comprou uma casa no Alto de Santana.
Carolina recebe homenagem da Academia Paulista de Letras e da Academia de Letras da Faculdade de Direito de São Paulo.
Em 1961, a autora viajou para a Argentina onde foi agraciada com a “Orden Caballero Del Tornillo”.
Nos anos seguintes, Carolina publicou:
- “Casa de Alvenaria: Diário de uma Ex-favelada” (1961)
- “Pedaços da Fome” (1963)
- “Provérbios” (1965)
- O declínio de Carolina
Apesar de ter um livro transformado em best seller Carolina não se beneficiou com o sucesso e não demorou muito para voltar à condição de catadora de papel.
Em 1969, mudou-se com os filhos para um sítio no bairro de Parelheiros, em São Paulo, época em que foi praticamente esquecida pelo mercado editorial.
Carolina Maria de Jesus faleceu em São Paulo, no dia 13 de fevereiro de 1977.
Fonte:E-biografias