Casas subterrâneas dos Kaingang - Povos da Tradição Taquara

CASAS SUBTERRÂNEAS DOS KAINGANG

Os Kaingang, uma das 305 atuais etnias do , já habitavam o Planalto Meridional Brasileiro três mil anos antes da chegada dos europeus. Esses eram conhecidos como Proto-Kaingang, povos da Taquara ou Povo das Casas Subterrâneas. Confira esta sensacional: Casas subterrâneas dos Kaingang – Povos da Tradição Taquara
Por Multiplica
A do sul do Brasil tem dado atenção, desde a década de 60, a um tipo muito especial de antiga ocupação humana encontrada em muitos pontos de planalto nos estados de , Paraná e, principalmente, Santa Catarina e , além de alguns achados semelhantes próximos ao litoral, no sul de Santa Catarina.
Para se proteger do inverno rigoroso que castiga as elevadas regiões do Sul do Brasil, chamados Campos de Cima da Serra, construíam suas casas de forma enterrada, mantendo-as, assim, protegidas dos ventos fortes e gelados que cortam o planalto. Por vezes, as paredes eram compactadas com argila mais fina, resultando em uma camada de revestimento.
O teto era apoiado sobre estacas: uma estaca principal no centro, que descia até o chão da casa, e estacas laterais, que irradiavam do mastro central e se apoiavam na superfície do solo, na parte externa. Este teto ficava pouco acima do nível do terreno, garantindo ventilação, iluminação e trânsito.

Trata-se de verdadeiras casas circulares, escavadas na : em alguns casos, em rocha basáltica, em outros, em basalto composto ou rocha mole de arenito. Suas dimensões são variáveis; os registros mais importantes revelam estruturas com tamanhos médios entre 2 e 13 metros de diâmetro com profundidade média de 2,5 a 5 metros de altura, havendo casos registrados de 4 e até 6 metros de profundidade.
 
Segundo a descrição de vários pesquisadores, com base nas casas melhor conservadas, sobre a cova circular que delimitava a casa, erguia-se uma cobertura de folhas sustentada em uma armação de madeira, em parte fixada na base da casa, e em parte fixada nas bordas laterais da cova, inclusive com o auxílio de pedras.
 
Em algumas casas os arqueólogos mencionam ter encontrado um revestimento de piso e, em outras, revestimento em pedra nas paredes ou parte delas.
 
Ainda que, em um número significativo de sítios arqueológicos se encontrem casas subterrâneas isoladas, é comum encontrar-se conjuntos dessas casas, seja formando pares, seja formando verdadeiras aldeias de mais de 5 casas, sendo vários os agrupamentos entre 8 e 10 delas, e havendo, mesmo, casos de mais de 20 casas em um mesmo lugar. O espaçamento entre essas casas varia de 1 a 10 metros, em média.
 
Ainda que alguns arqueólogos tenham sugerido que as casas subterrâneas não teriam sido, de fato, casas de habitação, mas apenas centros cerimoniais, a posição mais comum e sustentável indica que realmente essas estruturas eram a residências dos grupos humanos que as construíram.
 
O arqueólogo André Prous também descarta a hipótese de que as casas maiores fossem apenas centros cerimoniais, enquanto as menores seriam de moradia, uma vez que, com freqüência, as casas maiores ocorrem isoladas ou estão presentes justamente nos menores conjuntos de casas subterrânea.
 
É importante, porém, observar-se a época em que as casas subterrâneas foram construídas e habitadas, para pensarmos na relação delas com outras formas de habitação antigas dos Kaingang. A arqueologia brasileira tem relacionado as casas subterrâneas com o que convencionou chamar de “tradição Taquara-Itararé”. Segundo Prous, para essa tradição “até há pouco, as datações mais antigas eram exclusivamente do Rio Grande do Sul, entre o primeiro e o sexto século de nossa era.
 
Várias outras obtidas para o mesmo , Argentina e Paraná eram do século XIV, e duas do início do período histórico. Recentemente, datações de 475 AD (fase Candoi) e 500 AD na Argentina vieram mostrar que a das casas subterrâneas desenvolveu-se em diversas regiões, grosso modo, na mesma época, e não se pode descartar a possibilidade de aparecerem, com as novas pesquisas, datações tão antigas quanto a, isolada por enquanto, de 140 AD para a fase Guatambu, cujo término foi datado de 1790 AD”.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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