Cerrado: Biodiversidade ameaçada

CERRADO: BIODIVERSIDADE AMEAÇADA

Cerrado: Biodiversidade ameaçada

O abriga cerca de um terço da biodiversidade brasileira.  São mais de 11 mil espécies identificadas de plantas, 837 espécies de aves, 185 de répteis, 194 de mamíferos, 150 de anfíbios e 14.425 de invertebrados.  Por contar com cerca de 5% da biodiversidade mundial, o Cerrado é considerado a formação savânica mais biodiversa do

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Entretanto, conforme publicado pela revista Nature em 2017, caso não se mude a trajetória do (o que não vem ocorrendo, ao contrário, o Cerrado é hoje o bioma mais desmatado no Brasil), corre-se o risco de uma massiva da biodiversidade cerratense. 

Por fim, segundo matéria de Julia Brown para a BBC Brasil, “o Cerrado tem uma capacidade incrível de estocar carbono em suas profundas e no solo. Desmatar a sua vegetação, portanto, significa imediatamente emitir uma quantidade enorme de gás carbônico e metano”.

Isso sem contar que, segundo Yuri Salmona, do Instituto Cerrados, o desmatamento no bioma Cerrado já emite mais CO2 do que a indústria nacional, em todo o território brasileiro. 

Reverter essa dinâmica passa por imensos desafios, conforme listado pelo G1 em matéria recente:

Cerrado: Biodiversidade ameaçada
Lat.: S .Long.: W .Alt. metros:
  • Dificuldade de monitorar autorizações para desmatamento: governo estima que mais da metade do desmate no bioma tenha sido autorizado por órgãos ambientais regionais. Apenas no Cerrado baiano, entre 2007 e junho de 2021, foi autorizada a supressão de uma área total de mais de 500 km².
  • Áreas com cadastro (CAR) lideram desmatamento: 76% dos alertas foram registrados em áreas cujos donos são cadastrados.
  • Falta de reconhecimento do território ocupado por povos tradicionais: só 8% do bioma são legalmente protegidos com .
  • Falta um Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento: enquanto a tem o instrumento desde 2004 (embora tenha sido suspenso na gestão Bolsonaro), o plano para o Cerrado está em elaboração e deve ser lançado somente em outubro;
  • Desmatamento concentrado: 26 municípios concentram cerca de 50% dos alertas de janeiro a junho de 2023; governo se propõe a definir os municípios críticos no Cerrado para no Pacto Federativo pelo Desmatamento Ilegal Zero, mas isso ainda não foi feito.

Cerrado: Biodiversidade ameaçada


zeze 2  Zezé Weiss – Jornalista Socioambiental. Foto de capa: André Dib.


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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