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CLARICE LISPECTOR: "A FORÇA DO SONHO"

CLARICE LISPECTOR: “A FORÇA DO SONHO”

: “a força do sonho”

Há uma realidade nossa que de tão volátil quase nos escapa. Essa realidade nasce de entre lendas como se erguessem gigantes, gnomos, delfins e duendes de dentre névoas. Mas o que se ergue na verdade representa o que há de fantástico, sumarento e rico no País.

Por Revista Prosa e Verso

 
Clarice Lispector: “a força do sonho”
Imagem: Revisa Prosa e Verso
 
Uma é verossímil? Sim, porque assim o quer que seja. De pai para filho, de mãe para crianças, é transmitida uma fabulação de maravilhas que estão atrás da . Como ao redor de uma fogueira em noite escura, conta-se em voz sussurrante um ao outro o que, se não aconteceu, poderia muito bem ter acontecido nesse imaginoso de Deus.
 
E assim oralmente se escreve uma literatura plena e suculenta, em que o espírito secreto de todo um povo vira e brinca de “faz de conta”. Brinca? Não, é muito a sério. Pois o que é que pode mais do que um sonho?

A começar por nós mesmos que todas as noites no travesseiro vivemos de uma realidade quase intraduzível por palavras, mas que ninguém pode negar, realidade livre, sem freios e que nos pertence quase mais do que o dia a dia que vivemos. O dia a dia que se torna às vezes mais pobre que o sonho.

O grande sonho acordado de um povo é um símbolo de seu vigor íntimo. As lendas são uma potência. Elas procuram nos transmitir alguma coisa importante que se passa na zona penumbrosa e criativa popular. E o que não existe passa a existir por força mesmo de seu encantatório enredo.
 
Nos grandes centros culturais brasileiros, as lendas infelizmente se perdem, menosprezadas por uma civilização que luta pela real. Mas o Brasil é também floresta e interioridade. É pescador em jangadas leves nos mares.
 
Noite misteriosa nos pequenos povoados que se espalham terra adentro, nas matas cerradas, verdejantes e perigosas, cheias de bichos os mais fantásticos e de plantas miraculosas, ciladas em pântanos e límpidos lagos azuis, corre-corre de cascatas, sob um céu nosso tão benditamente estrelado: o parece mais brasileiro na sua
 
grandiosa, nas doces histórias para ninar crianças, na doçura de suas esperanças que contagiam também os adultos. Mais brasileiro do que no seu cosmopolitismo de que também, é claro, nos orgulhamos.
Que narremos a nossas crianças as enovelantes lendas nossas neste 1977, ano-chave, porque se o número 7 dá poder, dois 7 acrescentam-nos tanto mais em sorte boa: a década dos 7 é toda perpassada pelo sussurro de uma secreta inspiração.
 
Inspiração que me tocou porque vejo que agora falo do número 7 e de seu fundo mistério e, auxiliada pelos magos, estou neste instante criando uma lenda viva e real, pronta para vicejar no ano que desponta.
Estão vendo que os adultos como eu também criam lendas. Em cada mês deste ano contar-vos-ei uma história ingênua no escurinho íntimo da noite.
 
O que nos dará e sorrisos. Para 1977, que é vosso e meu, mandei acender trinta mil lustres nervosos e assanhados de tantos flexos e reflexos e reverberações e réstias de raios, brilhações e fulgurações com os pingentes trêmulos da mais alvoroçada luminosidade.
 
Luminosidade – é o que vos desejo para 1977. Amém.

O post Clarice Lispector – “a força do sonho” apareceu primeiro em Revista Prosa Verso e Arte.

CLARICE LISPECTOR: "A FORÇA DO SONHO"
Foto: Reprodução/Brasil Escola

CLARICE LISPECTOR 

Clarice Lispector é uma escritora brasileira. Ela nasceu na Ucrânia, mas chegou ao Brasil quando tinha dois anos de idade.

Mais tarde, fez faculdade de Direito, morou em diversos países em companhia do marido cônsul, publicou muitos livros e também atuou como jornalista.

Suas obras apresentam fluxo de consciência, fragmentação e metalinguagem, características que podem ser observadas em A hora da estrela, um de seus livros mais conhecidos.”

A romancista faz parte da terceira geração modernista (ou pós-modernismo). Seus textos são marcados pelo monólogo interior e pela metalinguagem. O livro A hora da estrela é uma de suas obras mais famosas.”

Clarice, que faleceu em 9 de dezembro de 1977, no Rio de Janeiro, faz parte da terceira geração modernista (ou pós-modernismo).

 

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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