Maria de Goiás, Maria de Cora, Maria Grampinho
Entre as belas páginas de seu livro “Vintém de Cobre: meias confissões de Aninha”, Cora Coralina retrata a lendária Maria Grampinho, preta pobre que dormia no porão de sua “Casa Velha da Ponte“, na cidade de Goiás, em seu poema “Coisas de Goiás: Maria”:
Maria. Das muitas que rolam pelo mundo.
Maria pobre. Não tem casa nem morada.
Vive como quer.
Tem seus mundos e suas vaidades. Suas trouxas e seus botões.
Seus haveres. Trouxa de pano na cabeça.
Pedaços, sobras, retalhada.
Centenas de botões, desusados, coloridos, madre – pérola, louça,
Vidro, plástico, variados, pregados em tiras pendentes.
Enfeitando. Mostruário.
Tem mais, uns caídos, bambinelas, enfeites, argolas, coisas dela.
Seus figurinos, figurações, arte decorativa,
criação, inventos de Maria.
Maria Grampinho, diz a gente da cidade.
Maria sete saias, diz a gente impiedosa da cidade.
Maria. Companheira certa e compulsada.
Inquilina da casa velha da ponte.
Maria da Purificação foi uma andarilha descendente de pessoas escravizadas que tinha o costume de carregar com ela tudo o que encontrava em seu caminho, como plásticos, retalhos e botões velhos. Como usava muitos grampos no cabelo, acabou ganhando o apelido de Maria Grampinho.
Mulher simples que costurava suas próprias roupas, durante o final da década de 1940, Maria Grampinho morou no porão da casa de Cora Coralina – que a tinha como amiga – onde dormia sempre ao lado de uma bica d água.
Hoje Maria Grampinho virou boneca e ajuda a movimentar a economia da cidade. A artesã Marcele Camargo gasta 08 horas para confeccionar a peça. Feita de malha e roupa de algodão, com detalhes de fragmento de poesia bordado à mão, além de botões aplicados. Enchimento em manta acrílica. Cabelo de lã com pequenos grampos de metal.