COMO SURGIU O MILHO CATETO

Como surgiu o milho cateto, segundo o povo Guarani

Conta o povo Guarani que, há muitos e muitos anos, em um lugar bem distante, havia uma aldeia onde não existiam muitos recursos e às vezes faltavam .

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Nessa aldeia morava uma família que tinha um filho de pele branca e cabelos amarelados, com o nome de Avaxim. Ali, ninguém gostava de Avaxim, por ele ser diferente de todas as demais pessoas.

O tempo foi passando, o menino cresceu, virou adolescente, tornou-se um jovem e, quando deu o tempo de se casar, Avaxim se apaixonou pela filha do chefe da aldeia que, por causa aparência distinta do moço, não permitiu o casamento.

Depois de muito rezar para que Nhanderu (o deus criador) fizesse com que gostassem dele, Avaxim foi ficando cada vez mais triste e acabou morrendo de tristeza.

Como não era considerado parte da aldeia, seu foi enterrado em local distante, longe das outras pessoas da comunidade

MILHO: O ALIMENTO DAS AMÉRICAS

Veja onde o milho surgiu, como se espalhou pelo resto do mundo e quais são os pratos típicos do Brasil e outros países que levam esse alimento.
 
Por IDEC 
 
miho alimento 1
 
Vamos contar a de um dos grãos mais importantes para a humana. Saboró amarelo, cunha vermelho, pintadinho e cateto. Sabia que esses são os nomes populares de algumas raças de milho que existem no Brasil? 
Em 2021, uma equipe de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) identificou 343 variedades de milhos crioulos no Brasil. Confira neste material as principais curiosidades e fatos sobre esse legume. 

Que tipo de alimento é o milho?

O milho é um alimento da família das gramíneas (família Poaceae). São que têm por característica apresentar flores muito pequenas e frutos secos chamados grãos e pode atingir, dependendo da raça de milho, de 50 cm a 5 metros de altura. Um nome popular para as gramíneas é o cereal. O milho é um tipo de cereal, assim como o arroz. E para entender melhor essa familiaridade dos dois, leia sobre alimentos integrais

Qual a origem do milho?

As pesquisas atuais com análise de cromossomos concluiu que o ancestral do milho  chama-se teosinto. É uma planta que só tem uma fileira de grãos. E a hipótese mais aceita pela comunidade acadêmica é a de que os povos que viviam na região do México se interessaram pelo teosinto e começaram a consumi-lo na forma de pipoca pela facilidade que o grão do teosinto estoura, assim como o nosso conhecido milho de pipoca.
E foi fazendo a seleção das sementes após os plantios, com o passar do tempo, esse ancestral foi ficando com o jeito de milho.
Os descobriram após escavarem uma área rochosa conhecida como Xihuatoxtla, localizada no vale do Rio Balsas de Guerrero, México, que o teosinto começou a ser cultivado e domesticado por volta de 9.000 anos atrás. O milho está presente em vários países, como ele se espalhou pelo mundo? 
O mesmo estudo citado acima aponta que o plantio do milho teria se alastrado para o Panamá, na América Central, há cerca de 7,6 mil anos e chegado ao norte da América do Sul há cerca de 6 mil anos. 
Os europeus encontraram o milho cultivado em todas as Américas e, logo depois das primeiras viagens, espanhóis e portugueses difundiram a planta na Europa, na África e na Ásia. 
Já com protagonismo nas refeições dos povos ameríndios, o milho assumiu uma posição dominante na alimentação de muitas populações mundo afora.

Quantas variedades de milho existem no Brasil?

Milho não é tudo igual. Citamos os nomes populares de algumas espécies catalogadas no Brasil pois, segundo a equipe de pesquisadores da Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), foram identificadas 343 variedades crioulas diferentes de milho no Brasil e no Uruguai, as quais representam 32 raças.
Confira os nomes populares de algumas variedades de milho encontradas no Brasil:
Milho Massa (nome original: Entrelaçado)
Com incidência nos estados do Acre e Rondônia, essa espécie gera as preparações de chicha, bolo, pão, broa, mingau, pamonha, cuscuz canjica e pode ser consumido também in natura.
milho entrelacado
Milho Catingueiro (nome original: Complexo Cateto)
Presente nos estados do Mato Grosso do Sul e Minas Gerais é utilizado para o preparo de pamonha, curau, canjica e consumido in natura.
milho complexo cateto 1
Milho Bico de Ouro (nome original: Dente Rio Grandense)
Localizado no estado do Rio Grande do Sul, é utilizado para farinha, polenta, angu, pamonha, bolos, pães, broas e para comer in natura.
milho bico de ouro
Milho Saboró (nome original: Avati Moroti)
Presente principalmente nos estados do Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul essa espécie tem uso culinário para: fubá, bolo, pão, broa chipá, polenta e angu
milho saboro

Milho Cunha Vermelho (nome original: Cravo)

Essa espécie é localizada na Mata Atlântica Pampa, no Rio Grande do Sul e pode ser usada para fazer bolo, pão, broa, farinha e comer a espiga in natura.
milho cunha vermelho
Milho Pintadinho ou Sol da manhã (nome original: Complexo Cateto)
Tem registro de cultivo nos estados do Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Com essa variedade é possível fazer pamonha, curau, canjica e comê-lo in natura.
milho complexo cateto pintadinho
 
E para o povo Guarani Mbya o milho é um dos vários alimentos sagrados. A etnia se considera guardiã do milho e busca sempre defender as condições territoriais para plantar o milho. 
Os povos Guarani tem muitas histórias sobre o surgimento do milho, conforme narra o professor Guarani Mbya, Geraldo Karaí Okenda:
“Um jovem guarani apareceu para três crianças que estavam sozinhas enquanto os pais foram à mata buscar pedra mole para comerem. Ele carregava um alimento amarelo e disse que poderia ser assado, torrado, socado no pilão. Quando os pais retornaram, os filhos já estavam alimentados.
A filha mais velha pediu para o pai roçar o taquaral, depois queimar e pisotear a terra. O pai assim o fez e o Deus Tupã imediatamente mandou relâmpagos e trovões. Após a chuva, o pai foi até a roça e encontrou plantado todos os alimentos que existem até hoje. Assim surgiu o milho para o povo Guarani”. 

Milho de espiga é o mesmo milho da pipoca? 

Não, são espécies diferentes e vamos detalhar porque um milho estoura e o outro não.

  • Em termos simples: 
  • O milho de pipoca é bem menor do que o grão do milho comum, Tem o formato mais achatado e o outro é arredondado 
  • Contém mais água em seu interior
  • A casca do milho comum é muito resistente, ela não expande 
  • O milho que estoura contém muito amido duro no seu interior e esse componente tem a propriedade de estourar e produzir a flor da pipoca que consumimos

Quais as receitas tradicionais com milho?

O milho é um alimento da safra do meio do ano e por isso, aqui no Brasil, integra vários pratos regionais. 
Ele é o carro-chefe de várias receitas que compõem a culinária sertaneja, como por exemplo, o milho de canjica, o milho quebrado em forma de canjiquinha, pamonha, bolo de milho verde, esses são alguns dos pratos típicos das festas juninas. 
O milho protagoniza as refeições de outras festas populares ao longo do continente americano. O chica é uma bebida fermentada de milho produzida pelos povos indígenas da Cordilheira dos Andes e da América Latina em geral. É considerada sagrada e está presente em cerimônias religiosas e festas. 
No litoral do Peru, por exemplo, existe o Festival Chica com música tradicional e recital de poesia loncca, originária de Arequipa, uma cidade peruana.
Para o povo Guarani Mbya existe um respeito e adoração aos alimentos. Por isso,  existem rituais de preparação para o plantio e a colheita, que é uma forma deles estabelecerem uma ligação dos alimentos com os seus espíritos protetores, e para fortalecer e proteger aqueles que irão se alimentar com o milho e outros alimentos cultivados. 
O uso do petynguá (cachimbo sagrado Guarani Mbya), segundo a xejary (anciã) Rosa Rodrigues, da aldeia Yguá Porá, faz nascer o milho verdadeiro, o milho Guarani. 
E voltando ao país de origem do milho, no México, o pozole é um um prato típico muito consumido por todo país e no sudoeste dos Estados Unidos. A iguaria é uma espécie de sopa feita de milho, com carne de porco ou frango e diversos vegetais e outros ingredientes, como cebola, alface, queijo ou malagueta. 
Ao falar em culinária tradicional da Venezuela, não tem como não pensar nas arepas, que são discos de massa de milho e levam recheio de carne desfiada, ovos, tomate e cebola  e abacate. 

Valorize o milho crioulo ao invés do transgênico 

O  milho é atualmente o cereal mais produzido no mundo, entretanto, esse volume de produção e a forma de cultivo dele estão longe das suas origens. 
Ao invés de realizar a seleção natural das melhores sementes, grandes empresas do realizam em laboratório a transferência artificial de genes de plantas, animais, vírus ou bactérias – que possuem determinadas características desejadas de uma espécie para outra.
Cerca de 90% do milho comercializado é transgênico. E o cultivo transgênico representa altos riscos para o meio ambiente e para a saúde humana.
Indústrias que comercializam alimentos transgênicos contribuem pouco com o abastecimento interno e menos ainda com a tributação.
É a concentração de na mão de poucos.
O cultivo de monoculturas como a do milho que servem de base para produtos ultraprocessados e cheios de veneno é uma continuação da colonização da nossa terra e do nosso paladar.
Por isso, recomendamos a valorização do milho agroecológico, crioulo, que é uma semente sem modificação genética. Um alimento ancestral passado de geração em geração. 
Dê preferência a consumir fubá, amido de milho, arroz, feijão e outros cultivos da agricultura familiar. Procure nas feiras, compras coletivas da sua região ou pesquise a disponibilidade no Mapa de Feiras Orgânicas.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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