COP 30 ignora capitalismo como maior poluidor do planeta, diz Eron Bezerra
A declaração final da COP 30 em Belém (PA) saiu sem um “mapa do caminho” para o fim da queima de combustíveis fósseis e um plano para o desmatamento zero das florestas tropicais, as principais causas do aquecimento global.
Por Iram Alfaia/Portal Vermelho
Além da ausência dos Estados Unidos, ele diz que não houve debate sobre o capitalismo como principal responsável pela crise climática.
“É lamentável. Essas duas preocupações centrais que eu levantei não apareceram. Os norte-americanos sequer compareceram para subscrever todo e qualquer documento, portanto, lavaram as mãos para o problema”, diz Eron, que é doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Para ele, seria natural debater quem são os principais responsáveis pela emissão do CO2, o gás do efeito estufa associado ao aquecimento global.
“O maior responsável pela poluição ambiental é o modo de produção capitalista, especialmente a partir da Revolução Industrial no final do século 18”, afirma.
Na avaliação dele, a COP30 acabou sem esse debate. “É a causa central do problema, que tem como alternativa o socialismo. De maneira geral, busca-se perfumaria para tentar resolver a questão”, considera.
“A COP30 não tratou nem vai tratar tão cedo desse problema de fundo, que é a alternativa ao modo de produção capitalista por um outro modo de produção que seja baseado em desenvolvimento efetivo, mas sustentável, como tem sido feito, por exemplo, pela China”, diz.
De acordo com Bezerra, o país asiático tem procurado crescer de forma consistente, mas investindo pesadamente em energias renováveis, apesar de ser hoje um grande poluidor.
“A China tem colocado grande parte dos seus recursos para fazer uma nova base, um novo modo de produção que concilie produção e ecologia. Sem o que, naturalmente, nós vamos chegar ao colapso”, prevê.
Fundo florestal
Nem o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que captou mais de US$ 5 bilhões durante a Cúpula dos Líderes, escapa das críticas do professor.
“Esse fundo que foi aprovado e que está sendo articulado é para emprestar dinheiro. Não é para colocar dinheiro na mão das comunidades, das populações tradicionais ou de qualquer outra forma de economia real para alimentar as pequenas comunidades rurais, amazônidas, africanas etc. Não! É para endividar, para fazer empréstimos para que se desenvolvam projetos teoricamente sustentáveis. Esse é o retrato final”, critica.

Amazônia – Terra Indígena – Divulgação
Amazônia
O especialista explica que a Amazônia continua sendo um importante sumidouro de carbono, absorvendo CO2 da atmosfera, mas a comunidade científica não pode se contentar apenas com essa situação.
“Precisamos lutar para preservar, conservar e ao mesmo tempo desenvolver a região”, disse Eron, para quem é preciso resolver o problema da transição energética.
“Enquanto o mundo tem uma média de 4.000 kW, média de potência instalada de energia por pessoa, aqui no interior do Amazonas, a média é de 140 kW por pessoa. Ou seja, não dá para acender uma lamparina. Então, antes de discutir transição, nessas realidades africanas, há um outro debate que é ter energia”, propõe.
Desse modo, um grupo de pesquisa da Ufam busca desenvolver tecnologias sustentáveis que permitam o desenvolvimento com o menor impacto possível e adotar ações mitigadoras.
“Dentro dessa política nós já inauguramos quatro edifícios solares e estamos concluindo o mapa solar do estado do Amazonas. Vamos apresentar uma proposta da mudança da matriz energética, da matriz elétrica, aliás, do Amazonas, passando de fóssil para energia solar, já que nós não temos potencial eólico e nem hidráulico. O nosso principal potencial renovável aqui é o solar”, conclui.





