O cuidado em sua carência: o descuido
Há os que têm cuidado de menos. São os descuidados e displicentes. Normalmente não conseguem ser inteiros no que fazem. Seja porque perderam seu centro assumindo coisas demais, seja porque não colocaram todo o empenho no que fazem.
Por Leonardo Boff
As coisas aparecem malfeitas, largadas, desordenadas, confusas, caóticas, numa palavra, descuidadas. A pessoa fica impaciente e perde a calma e a serenidade.
Refletíamos que o cuidado surge quando se encontra uma justa medida. Este é o caminho do meio entre o modo-de-ser do trabalho como exploração e o modo-de-ser do cuidado como plasmação.
Por isso o cuidado não convive nem com o excesso, nem com a carência. Ele é o ponto ideal de equilíbrio entre um e outro.
Tarefa humana é construir esse equilíbrio com autocontrole e moderação, mas sobretudo com a ajuda do Espírito de vida que nunca falta porque Ele é, segundo um hino medieval cantado até hoje na liturgia de Pentecostes, “a quietude no trabalho, a frescura no calor, e o consolo nas lágrimas”: o equilíbrio dinâmico.
Foto: ViOMundo
Leonardo Boff – Filósofo. Teólogo. Escritor. Excerto do livro Saber Cuidar. 18ª Edição. Editora Vozes. 2012.
Biografia de Leonardo Boff
Leonardo Boff (1938), pseudônimo de Leonardo Genésio Darci Boff, nasceu em Concórdia, Santa Catarina, no dia 14 de dezembro de 1938. Filho de professor graduou-se em Teologia no Instituto dos Franciscanos de Petrópolis do Rio de Janeiro. Doutorou-se em Filosofia e Teologia pela Universidade de Munique, na Alemanha, em 1970.
Exerceu as atividades de professor de Teologia Sistemática e ecumênica para os Franciscanos, em Petrópolis. Foi professor de ética, Filosofia e Religião na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Realizou conferências em diversos países, na área de Teologia, filosofia, ética, espiritualidade e ecologia.
Em 1982, Leonardo Boff publicou o livro “Igreja: Carisma e Poder”, onde explica os princípios da Teologia da Libertação na própria Igreja, procurando mostrar que a libertação não vale só para a sociedade, mas também para a Igreja e suas relações internas. Que é papel da Igreja pregar a libertação na sociedade e se comprometer com os oprimidos para que eles se organizem e busquem sua libertação. Sustenta a tese de que a Igreja Católica Romana pode e deve mudar.
Em 1985, como castigo, foi proibido pelo Vaticano a um ano de silêncio. Em 1992, fez parte da comissão da redação da Carta da Terra, uma declaração dos princípios éticos fundamentais para a construção do século XXI. Sofreu nova condenação e renunciou às atividades religiosas. Casou-se com uma teóloga militante, porém, não abandonou sua religião.
É autor de vários livros, entre eles, “O Evangelho do Cristo Cósmico” (1971), “O Destino do Homem e do Mundo” (1974), “O Caminhar da Igreja Com os Oprimidos” (1980), “Ecologia-Grito de Guerra, Grito dos Pobres” (1995) pelo qual recebeu o Prêmio Sérgio Buarque de Holanda como o melhor ensaio social daquele ano e em 1997, nos Estados Unidos, foi considerado um dos três livros, publicados naquele ano, que mais favorecia o diálogo entre ciência e religião.
Leonardo Boff recebeu diversos títulos, entre eles, Dr. Honoris causa em política pela Universidade de Turim, Dr. Honoris causa em Teologia pela Universidade de Lund, Suécia e Dr. Honoris causa em Teologia, ecumenismo, direitos humanos, ecologia e entendimento entre os povos, pelas Faculdades EST de São Leopoldo e Dr. Honoris causa pela Cátedra del Água da Universidade de Rosário, na Argentina. Recebeu o título de Professor Honorário pela Universidade de São Carlos, na Guatemala e pela Universidade de Cuenca, no Equador.
Fonte da Biografia de Leonardo Boff: https://www.ebiografia.com/leonardo_boff/