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Davi Yanomami: União para lutar contra a cobra grande

Davi Yanomami: União para lutar contra a cobra grande –  Os brancos estão mostrando o que não está bom.  Essa coisa é muito triste, mas eu não estou triste, eu estou revoltado.

Eu estou revoltado com o erro do governo. As autoridades do não estão interessadas em nós ficarmos em paz,  e não estão também querendo ajudar o povo da cidade.

Para nós povos é uma tristeza, elas estão repetindo como aconteceu 40 anos passados (…). A história não sai da cabeça da gente, a história fica na , então a gente fica sempre lembrando.

As notícias aparecem na televisão, mostrando aonde nós nunca andamos (…). Nós estamos sabendo, nós estamos vendo essa briga da cidade, muita gente, exército também jogando bomba pra espantar… espantar como porco nós que lutamos, que lutamos pelo nosso direito. Então acho que nosso exército não está nos respeitando, eu queria que respeitasse.

Eu queria que o jovem “não-índio” também acreditasse, tem que também ficar amigo da gente, tem que respeitar… nós pequenininhos vamos respeitar pra se aproximar, pra fazer união, pra unir o branco junto com os índios, os pajés, para lutar contra a cobra-grande, a cobra grande de barriga cheia e olho grande que tá querendo engolir todo (…).

Quando eu cresci eu vi uma floresta limpa, uma floresta bonita, cheia de vento, respirar bem. Eu vivia bem quando era pequeno, mas agora eu estou muito preocupado.

Eu não estou preocupado de medo não, eu estou preocupado em como é que o governo da cidade pode estar fazendo isso… essa coisa é feia! essa coisa não presta! isso aí é antigo, não poderia continuar a fazer isso.

Meus amigos da cidade (…) eu queria que você ficassem ao meu lado. Mas eu não tô pedindo para vocês me elegerem, eu quero a força de vocês.

Vamos lutar juntos. Nós somos filhos daqui, vocês nasceram aqui no Brasil,  então nós somos brasileiros. (…)

Então, meus amigos não índios, vamos lutar juntos até o fim, porque aqui é a nossa terra, aqui que nós nascemos, nós estamos lutando para sobreviver com saúde e paz (…).

Nós procuramos nosso caminho pra trabalhar, pra poder sustentar nossos filhos, sustentar nossa , cuidar da nossa casa, mas “a gente grande”, uma pessoa grande que é o dono do dinheiro, não está querendo.

Eu estou muito revoltado com os deputados, os senadores, eles estão querendo acabar com a gente, eles estão querendo acabar com a nossa terra, desmatar, derrubar as árvores, sujar o rio, explorar nossa terra, explorar nossas riquezas, mandar pra outro país.

Nesse ponto que eu to muito hixiu, to com muita raiva, porque o homem não-índio, ele não quer respeitar nossa própria terra-planeta.

O “branco” fala: é patrimônio da terra. Mas ele não está respeitando, e nós respeitamos, vocês também respeitam, mas o capitalista, deputado, senador, não quer respeitar não (…). E é isso que eu queria falar. Eu queria falar o meu mundo, a .

A natureza… ela está comigo aqui, ela está escutando, ela está vendo o erro das autoridades do país. Não poderiam fazer isso, deveriam respeitar o nosso país, tem que respeitar nossos povos da cidade, os povos das comunidades, respeitar o nosso direito do povo brasileiro (…).

Nós povos indígenas, não viemos atravessando no mar, não viemos caminhando pra chegar até aqui. Nós somos daqui, nós, meu povo Yanomami, meu povo indígena do Brasil, nascemos aqui nessa terra. É por isso que nós chamamos ‘a mãe terra’. É por isso que nós nunca destruímos, nunca ameaçamos nosso patrimônio da terra.

Então eu queria terminar aqui. Essa minha mensagem vai pra longe. Eu queria que vocês também acreditassem. Quem não me conhece, agora vai me conhecer. Então eu estou junto com vocês. (…).

O meu sonho, o meu trabalho, o meu papel que eu defendo, se chama Hutukara Associação Yanomami. Hutukara significa o mundo, então nós vamos cuidar do nosso mundo, nós vamos cuidar do nosso país, porque é nosso país. Não poderia continuar assim.

Davi Kopenawa Yanomami

Em 27 de junho de 2016 Davi Kopenawa Yanomami, uma das principais lideranças indígenas da Amazônia e do Brasil e presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), falou  sobre os protestos e expressou seu apoio aos movimentos de que tomam conta do país. Um excerto do texto do depoimento foi postada pelo Instituto Socioambiental (ISA) nas redes sociais: http//www.socioambiental.org/…/davi-yanomami-apoia-protes


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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