Procura
Fechar esta caixa de pesquisa.

Debora Diniz: “O pacto narcísico de masculinidade do atual governo federal”

Debora Diniz: “O pacto narcísico de masculinidade do atual governo federal”

Por: Debora Diniz/Marie Claire

O pacto narcísico de masculinidade que elegeu Bolsonaro começa a cambalear. Os heróis o abandonam ou pestanejam. General Santos Cruz descreveu a política bolsonarista como de “fofoca”. O super-herói Moro foi ao Boteco do Ratinho para conversa fiada, mas no dia seguinte se expôs ao país no Senado Federal.

Se Moro já era um sujeito pouco eloquente, as piscadelas involuntárias denunciavam o mal-estar da cena. Enquanto isso, o Senado Federal rejeitava a política de armas. Em uma metáfora pouco elegante, foi como uma coronhada no pescoço de Bolsonaro, quem usou dedos de menininha para metralhar inimigos imaginários na campanha.

O sinal do desespero é que houve mais em um único dia – o mesmo corpo frágil que pedia arrego nas flexões de braço com o governador Doria é o que subiu a voz para chamar Jean Wyllys de “aquela menina fora do país”.

De fofoca à homofobia, o fio narcísico é o mesmo – sem resposta para as urgências que assolam o país, como desemprego ou reforma da previdência, a retórica de Bolsonaro é só uma: mover o circo da masculinidade. Nem todos os homens compartilham a tolice de armas para proteger propriedade ou de flexões de braço na calçada para cumprimentar outros machos.

Debora Diniz é antropóloga e professora da UnB

Fonte: PTDF

[smartslider3 slider=41]
 
 
 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

posts relacionados

REVISTA