Desmatamento coloca em risco norte do Pantanal

desenfreado coloca em risco norte do Pantanal – Desmatamento de 55% da bacia e déficit de reserva legal chega a 392 mil hectares em MT

Por JOANICE DE DEUS

sobre o Índice de Risco Ecológico (IRE), realizado pelo WWF-, revela que 55% do planalto da Bacia do Alto Paraguai (BAP) já foi desmatado. Somente em Mato Grosso, é estimado um déficit de reserva legal de 392 mil hectares. Ao todo, 40% do planalto pantaneiro está sob alta ameaça ecológica e menos de 1% é protegido por unidades de (UCs).

A bacia engloba Mato Grosso e Mato Grosso Sul, além de se estender pela Bolívia, Paraguai e Argentina, sendo lar para mais de 10 milhões de pessoas, conforme a 2ª edição do IRE, divulgado anteontem pelo WWF-Brasil, que atua no pantanal desde a década de 1990. É nessa região que se concentram as áreas de alta contribuição hídrica ou “water towers”. A primeira edição foi realizada em 2012.

Apesar de rica, o estudo aponta que a região sofre pressões sobre seus recursos naturais, causadas por diversas ameaças. Entre as principais, barramentos para geração de energia, uso ineficiente e degradação de áreas agrícolas e pastagens e impactos causados por áreas urbanas, a exemplo de lançamento de esgoto sem tratamento.

Para o coordenador do Programa Cerrado Pantanal do WWF-Brasil, Júlio César Sampaio, o cenário é alarmante. “A conversão de vegetação do cerrado na maioria das vezes não ocorreu segundo critérios de segurança ambiental, como a manutenção de vegetação ripária e reservas legais. Somente no estado de Mato Grosso, o déficit estimado de reserva legal é de 392 mil hectares”, alertou.

Conforme o relatório técnico, nessa porção da bacia, menos de 15% do esgoto, em média, recebe tratamento, e há um índice médio de perda de água nos sistemas de distribuição de 26%. “A gestão hídrica pouco eficiente reverte em contaminação dos rios por efluentes e provoca crises hídricas, particularmente em algumas regiões, como Tangará da Serra (250 quilômetros de Cuiabá)”, aponta.

O planalto (onde nascem os rios do pantanal) enfrenta ainda um intenso processo de conversão de áreas de vegetação do bioma cerrado por pastagens e cultivos agrícolas, que nem sempre obedece a melhores práticas. “Em áreas de pecuária é frequente o sobrepastejo, causando a compactação dos solos e maiores taxas de escoamento superficial”, traz. Por isso, o WWF alerta que é fundamental que sejam adotadas técnicas para manejo adequado do gado, evitando um número excessivo de por hectare e que sejam aplicadas técnicas para diminuição e controle de processos erosivos.

“Caso as emissões de globais não sejam reduzidas até 2020, os efeitos do aquecimento global, como a perca de biodiversidade, aumento no nível dos oceanos, e impactos na produção agrícola podem ser irreversíveis. Ainda, até 2020, dois terços da selvagem pode ser extinta”, aponta o estudo.

A elaboração do contou com a participação de mais de 20 pesquisadores e técnicos atuantes na área de recursos naturais na bacia do rio Paraguai, de todos os quatro países que compartilham a ecorregião, com realização em agosto de 2017. A ideia é que o estudo estimule a tomada de ações conjuntas visando o alcance dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, estabelecidos em 2015.

PCHs – O Estudo do Índice de Risco Ecológico (IRE) aponta que outra ameaça com alto risco ecológico existente no planalto da Bacia do Alto Paraguai é a instalação de hidroelétricas. Na região, estão projetadas mais de 101 intervenções, entre pequenas centrais (PCHs) e centrais geradoras. Do total, 40 desses empreendimentos energéticos já foram instalados, barrando aproximadamente 20 cursos d’água.

“Se todas as usinas planejadas forem instaladas, mais de 45 afluentes do Rio Paraguai terão suas vazões alteradas, causando impactos ainda desconhecidos ao sistema hidrológico e à biota aquática que dependente da conectividade para manutenção de seus processos ecológicos. A migração reprodutiva de peixes, que saem da planície e nadam em direção às cabeceiras (piracema), é um dos processos ecológicos ameaçados por esses barramentos”, explica o coordenador do Programa Cerrado Pantanal do WWF-Brasil, Júlio César Sampaio. A recomendação é que sejam desenvolvidos estudos para uma melhor compreensão dos efeitos sinérgicos da instalação desses empreendimentos no ecossistema.

Propostas de navegação industrial, como a hidrovia do Rio Paraguai, também são ameaças identificadas no sistema hídrico do pantanal. “A intensificação de dragagens e desobstrução de barreiras pedregais naturais precisam ser mais bem compreendidas em um contexto integrado, com uma avaliação da sinergia dos impactos ambientais na bacia”, traz o relatório.

Fonte: Diário de Cuiaba


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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