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ECOSSISTEMAS SERÃO PERDIDOS …

Ecossistemas serão perdidos se restauração continuar nos moldes atuais

Alerta, publicado na Science, vem de 17 pesquisadores do Centro Brasileiro de Conhecimento em Biodiversidade. Falta de diversidade coloca esforços em risco.

Por Cristiane Prizibisczky/O Eco

Cientistas brasileiros de diferentes instituições de pesquisa lançaram um alerta na última quinta-feira (25): a forma como a restauração de áreas degradadas vem sendo feita no Brasil representa um risco potencial aos ecossistemas. A advertência foi publicada na revista científica Science.

“A restauração não pode ser vista puramente como o esverdeamento de uma área. Da forma como a restauração de áreas degradadas vem sendo feita no Brasil, perderemos os ecossistemas como os conhecemos hoje”, dizem os pesquisadores.

Isso acontece, argumentam, porque os projetos em curso têm utilizado um padrão único para todo tipo de ecossistemas, com pouca atenção para a diversidade local de espécies, tornando “homogêneas” áreas que antes eram biodiversas. Com isso, mesmo que restauradas, tais áreas não conseguem reproduzir as condições próximas que existiam nesses locais antes da degradação.

Em entrevista a ((o))eco, Michele de Sá Dechoum, pesquisadora do Departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade de Santa Catarina e uma das autoras da carta, explica que as espécies que atualmente são escolhidas para a restauração são aquelas que germinam rápido e, sobretudo, que estão disponíveis em viveiros, em detrimento da heterogeneidade ambiental que o local necessitaria.

“A variabilidade genética do local é muito pouco considerada nas iniciativas de restauração que a gente vê acontecendo no Brasil hoje […] Muitas vezes se usa super-espécies que são invasoras, inclusive, que se adaptam a qualquer condição, mas que na verdade, não vão restaurar nada, só vão homogeneizar aquele sistema”, explica.

Um exemplo dessas superespécies invasoras é a leucena (Leucena leucocephala), nativa do norte da América Central que hoje é comumente usada em projetos de reflorestamento pelo Brasil, em diferentes biomas. A leucena foi considerada pela União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN) como uma das 100 piores espécies invasoras do mundo.

A restauração ideal

O agravamento da crise climática e da perda de biodiversidade ao redor do globo trouxe à tona a necessidade de restauração de ecossistemas, tanto que a ONU declarou esta como a Década da Restauração. 

Nos últimos anos, diferentes iniciativas foram lançadas no Brasil e no mundo. Entre elas está o chamado “Arco da Restauração da Amazônia”, que pretende restaurar 6 milhões de hectares nas áreas hoje mais degradadas do bioma e para o qual serão destinados R$ 1 bilhão, segundo anúncio feito pelo BNDES em dezembro passado, durante a Conferência do Clima da ONU em Dubai.

Segundo os autores da carta publicada na Science, o ideal seria que este e demais projetos de restauração ao redor do globo fossem “heterogeneos”. Isto é, alicerçados na riqueza genética do local em que o projeto é realizado.

Uma das estratégias apontada pelos pesquisadores é o uso de “ecossistemas de referências”, que seriam áreas nativas próximas aos locais que se pretende restaurar e que podem fornecer informações importantes para guiar a restauração. “Elas funcionam como espelhos para guiar todo o processo e, ainda, fornecem sementes, polinizadores e dispersores de sementes durante a restauração”, dizem.

Michele de Sá Dechoum destaca outras duas medidas para garantir essa heterogeneidade: a eliminação de fatores de degradação e o fomento à capacitação de pessoal para o trabalho.

“Muitas vezes, em restauração, a gente tem só esse foco para plantio de muda, plantio de muda, plantio de muda…Mas essa não é, necessariamente, a única técnica que gera bons resultados. Se você tirar um fator de degradação, como uma espécie invasora, por exemplo, e tiver uma boa área de referência no entorno, a restauração pode acontecer por si só”, disse, a ((o))eco.

“Poderíamos ter também editais que fomentassem a formação de pessoas, cursos de capacitação para a atuação em restauração, para ensinar a marcar matrizes, por exemplo, para coletar sementes. A restauração também precisa ser algo que possa gerar empregos, gerar renda”, complementa a pesquisadora da UFSC.

Os autores da carta publicada na Science fazem parte do Centro de Desenvolvimento em Biodiversidade, realizado dentro do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), que articula e agrega os melhores grupos de pesquisa em áreas estratégicas no país.

Cristiane Prizibisczky – Jornalista. Fonte: O Eco. Foto de capa: Mudas usadas para reflorestar a Floresta Nacional Sacará-Taquera, em Oriximiná-PA/Marcio Isensee e Sá.

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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