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Em defesa de Lula, do PT e da esquerda: uma análise sobre as eleições de 2020

Em defesa de Lula, do PT e da esquerda: uma análise sobre as eleições de 2020

“Mais do que nunca, é hora de defender Lula, defender o PT, e principalmente defender a esquerda brasileira. Buscar a unidade do campo democrático, popular e progressista, deve ser tarefa permanente do nosso partido, em especial na conjuntura que vivemos”, avalia o deputado Rogerio Correia

O resultado das eleições deste ano nos mostra, mais uma vez, a necessidade de defendermos não apenas o PT, mas a esquerda brasileira. Mais do que isso, defender os programas que resgatem a soberania nacional, a geração de empregos, o crescimento econômico, o respeito à diversidade, enfim, todas essas bandeiras no nosso país só empunhadas na teoria e na prática pelas forças políticas progressistas.

Parece um pouco óbvio dizer tudo isso, mas é absolutamente necessário neste momento em que dois campos do conservadorismo brasileiro atacam as forças populares, cada uma a seu modo: a tradicional, pretensamente não-bolsonarista (embora tenha apoiado a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 e continue apoiando sua econômica ultraliberal); e o bolsonarismo em si, em decadência mas ainda dono do poder em e com raízes fincadas em extratos politicamente mais atrasados da sociedade brasileira.

Sabedores da iminente e concreta crise sem precedentes por que passarão a economia e o como um todo, setores da elite agora querem distância da criatura que ajudaram a criar: o bolsonarismo. Vendem-se como “centro” e única força capaz de superar Jair Bolsonaro em 2022. Para isso, estimulam a narrativa sobre a “morte” das esquerdas brasileiras, tentando vencer a disputa por WO.

Por isso precisamos, agora mais do que nunca, atuar pela defesa das pautas caras ao PT e a toda a esquerda brasileira. Hora de buscar uma união prática dessas forças, numa frente que não leve à desagregação partidária e principalmente da militância, neste momento difícil da nossa .

Hora também de, com autocrítica sincera e à esquerda, de companheiras (os) para companheiras (os), fazermos uma reflexão sobre os erros cometidos.

SOBRE BH

Defendi publicamente, e continuo defendendo, que o PT deveria empenhar todos os esforços por uma frente de esquerda na capital mineira. Até mesmo abrindo mão da cabeça de chapa, a favor de Áurea Carolina, que levaria em consideração o simbolismo da mulher jovem, negra e de luta, com a indicação de um vice do Partido dos Trabalhadores, em um programa popular em defesa do legado do presidente Lula.

Infelizmente a dinâmica interna da militância na cidade foi substituída por uma intervenção branca da direção nacional, impondo uma tática que, infelizmente, levou a um desastre eleitoral, aliás o pior desempenho do partido na capital mineira em toda a sua história: 23 mil votos e menos de 2%.

Uma frente que reunisse o PT, o Psol, a UP, o PCB e o PCdo B na cidade, além de gerar fato político suficiente para quem sabe até agregar outras forças políticas, certamente teria bem mais que os pouco mais de 10,4% que os três candidatos, somados e separadamente, obtiveram no pleito. Essa unidade da esquerda dissiparia a disputa no campo popular da cidade, somando forças que, no fim do processo, contribuiriam muito provavelmente para uma bancada de vereadores superior à que obtivemos. Com certeza, também conseguiria um vitorioso segundo lugar, à frente dos candidatos da ultradireita. E certamente não facilitaria a vida do prefeito Kalil, que diante da dispersão ficou à vontade para absorver votos progressistas – sabe-se lá se essa consequência eleitoral não era mesmo o objetivo de alguns setores.

Essa é a verdadeira polêmica que os responsáveis pela tática isolacionista adotada querem interditar, bloqueando o debate necessário.

Apesar de tudo, é fundamental aplaudir o esforço da bancada de vereadores, que teve votação superior à chapa para prefeitura e elegeu duas guerreiras, Macaé Evaristo e Sônia Lansky, a quem parabenizo. Em nome delas, parabenizo também a todas as vereadoras e todos os vereadores do partido eleitos em Minas Gerais.

SOBRE MINAS E BRASIL

O resultado em Minas Gerais também ficou muito aquém do esperado. É preciso assumir que o PT não está devidamente enraizado na maioria dos municípios mineiros.

Os números da eleição interna para escolha da direção do partido no estado não refletem, nem de longe, a realidade concreta em Minas Gerais. Na prática, apenas têm servido para passar à direção nacional uma imagem errônea da veracidade do que ocorre por aqui. Aliás correspondendo ao que já vínhamos alertando há algum .

Não reconhecer isso é um erro e, pior, um erro que permite a execução de táticas equivocadas.

No Brasil, os resultados foram um pouco menos ruins, mas nada além disso. Conseguimos apenas estancar a sangria iniciada fortemente em 2016. Isso mostra que a esquerda e em especial o PT estão longe de morrer. Mas também reflete uma situação grave, exigindo de nós uma postura menos exclusivista e de maior diálogo com todas as forças de esquerda, em partidos, coletivos, associações, redes etc.

SOBRE O FUTURO

A eleição das guerreiras Marília e Margarida em Contagem e Juiz de Fora nos ajuda nesse momento difícil. Renova a esperança para nos mantermos sempre na luta. Parabéns às duas companheiras que, como prefeitas eleitas de Contagem e Juiz de Fora, terão a difícil, porém urgente e inevitável, missão de mostrar na prática as políticas de justiça social tão características do modo petista de governar. Fico feliz pela eleição delas, entre outras razões porque sei que essa missão democrática não poderia estar em melhores mãos nessas duas importantes cidades de Minas Gerais.

Não foi fácil. Estive muito em Contagem, e sou testemunha do jogo pesado e sujo da direita para evitar que o PT conquistasse essas duas importantes cidades mineiras. Isso não vai cessar, pelo contrário. Vivemos, em Minas e no Brasil, um momento dificílimo para as classes populares. Não seria exagero apontar ser o período mais difícil desde a retomada democrática, com o fim do regime militar.

Dificuldades, como dito, no país e no estado. O governo Zema tenta ser uma cópia do de Bolsonaro. Tem obtido certo êxito nesse plágio, pois também fracassou nas eleições (seu Partido Novo não elegeu sequer um prefeito em todo o estado) e da mesma forma faz uma gestão sem nada de bom para apresentar ao povo. Repete aqui em Minas a mesma falta de diálogo com os movimentos populares e as mesmas ameaças com privatizações e reformas para retiradas de direitos.

Por outro lado tampouco será fácil o cenário vindouro para o bolsonarismo e para a ultradireita. A crise que atualmente assola o país tende a ser ainda mais dura. A iminência de que a crise econômica possa levar à situação de descontrole total no país é real. A incompetência quase inacreditável de Bolsonaro e seu governo na gestão do combate à pandemia piora ainda mais a situação.

Essa é mais uma das razões para agregarmos o discurso e as forças de esquerda no país, elaborando um programa mínimo de defesa da soberania, do fim do teto nos investimentos sociais, da manutenção de programas de transferência de conseguidos pela oposição durante esta pandemia, de preservação ambiental, respeito às diversidades, entre outros temas.

A paciência do povo com Jair Bolsonaro chega ao limite para cada vez mais brasileiros. Após dois anos de poder, o representante da ultradireita brasileira não conseguiu apresentar nada relevante de positivo. Além da crise econômica, Bolsonaro terá agora que responder também pelo desbotamento da bandeira moralista da anticorrupção. Uma previsão realista aponta para o crescimento das denúncias sobre a rachadinha e seus desdobramentos, envolvendo toda a família.

O diversionismo, tática usada pelo presidente principalmente nas redes sociais, demonstra cada vez mais cansaço, pois o governo não apresentou nada de concreto, pelo contrário.

Internacionalmente, Bolsonaro perdeu também o apoio do trumpismo nos .

Haverá assim uma disputa por um espaço majoritário na população cada vez mais antibolsonarista. O “sistema”, expressão genérica que uso num sentido que envolve dos grandes meios de comunicação ao Judiciário, passando pelos grandes empresários e o setor financeiro, já está buscando progressivamente distanciar-se da ultradireita.

As forças de esquerda precisam perceber esse novo jogo do “sistema”. E devem se recusar a joga-lo, pois tem regras criadas para manter o poder nas mãos conservadoras. No campo publicitário, a armadilha já começou, vendendo como “centro” a velha direita brasileira (DEM, PSDB, entre outros), ou como distantes do “extremismo bolsonarista” figuras que até outro dia sustentaram o governo (Moro, Huck, Doria, entre outros).

Não precisamos desse joguinho, muito menos cair nessa armadilha. Deixar de demarcar bem os campos diferentes nessa luta, não demarcar bem o significado real do “centro-democrático” vendido pela mídia, seria contribuir para a confusão teórica e prática nas classes populares.

Daí a importância de mantermos e elevarmos o tom no Fora Bolsonaro, no , e principalmente na defesa de um programa nacional, com foco no desenvolvimento e na justiça social, denunciando o que pede mais privatizações e mais reformas contra direitos dos que vivem de salário – bandeiras que são hoje empunhadas por Bolsonaro, mas também por seus pretensos adversários do tal “centro-democrático”.

Mais do que nunca, é hora de defender Lula, defender o PT, e principalmente defender a esquerda brasileira. Buscar a unidade do campo democrático, popular e progressista, deve ser tarefa permanente do nosso partido, em especial na conjuntura que vivemos. Os golpistas de 2016 estão aí e assanhados, ora como bolsonaristas, ora como liberais de centro, mas ambos representando um mesmo programa político-econômico-social para o país.

A luta que nos aguarda não será fácil. Será dura e penosa. Que sejamos fortes para vencê-la. Sempre na luta!

Rogério Correia é Deputado federal (PT-MG)

Fonte: Brasil 247

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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