A Era dos Ruminantes ou Fábula da Terra Plana
Em prosa poética, a autora traz uma fábula que trata dos Ruminantes/Terra Plana, que retrata muito bem o período atual: seguidores de ídolos falsos, sem teoria explicável e seguindo para o abismo da terra plana, como robôs previamente programados… mas pequenas formigas criaram uma fissura no espaço e cuidaram de reconstruir a terra e assim as cigarras saíram às ruas e cantaram a noite inteira
O ambiente tornou-se inóspito depois do que se convencionou chamar “a era dos ruminantes”. A história conta que nessa época os bichos se dividiram. Pairou sobre o planeta uma sombra gigantesca. Ante os acontecimentos, alguns animais não conseguiam ter um pensamento coerente e tomavam de empréstimo as palavras vazias e aliciadoras de algum guru religioso ou pseudocientífico. Nas redes, peixes aos milhares!
Os ruminantes proliferavam. A terra devorada pelas grandes manadas tornou-se plana. Expedições marítimas navegavam os mares planos do hemisfério sul e nunca mais eram avistadas.
Certo dia, chegou a horda de gafanhotos. Eles continuaram com o processo de devora do que restou do planeta. As formigas olhavam perplexas, tentando se segurar e continuar nos trilheiros cada vez mais carcomidos.
Enquanto isso, ídolos de pés de barro prestavam tributo aos gafanhotos. Havia rezas para um estranho deus que pregava olho por olho. Igrejas, dos mais diversos credos, expunham figuras de avatares da paz, ao lado de animais com armas apontando diretamente para o observador.
Os animais-bebês, ainda no colo, eram ensinados a fazer sinal de arminha com as patas. Algumas, de uma magreza cadavérica, outras com patinhas gorduchas, ostentavam a pais orgulhosos o seu novo saber.
Muitos bichos absortos, tentando decorar respostas prontas que os robôs emitiam sobre questionamentos de qualquer natureza, não percebiam a ação dos gafanhotos.
As formigas, sem as suas trilhas, devoraram as membranas entre-mundos e assim, criaram uma fissura no espaço-tempo, o que colocou em contato multiversos. A babel estabelecida não dava conta de tantos boatos que circulavam. Aos poucos, os grupos foram se direcionando aos universos que mais os atraiam.
Os ruminantes perderam-se na poeira dos tempos e de algum planeta em forma de pizza. Os gafanhotos devoraram um mundo desconhecido e nunca mais foram avistados.
As formigas trataram de reconstruir a terra e nesse dia as cigarras saíram às ruas e cantaram a noite inteira.
Fonte: Facebook da Autora