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EXPLORAÇÃO ILEGAL DE MADEIRA AFETA TAMANHO DE BELÉM

Exploração ilegal de madeira na Amazônia afetou área do tamanho de Belém entre 2021 e 2022

Segundo mapeamento por satélite, 394 mil hectares da floresta foram afetados, sendo 106 mil de forma ilegal. Quase 20% do total ocorreu em terras indígenas; MT domina medição.

Por Gabriel Tussini/ O Eco. 

Quase 400 mil hectares de floresta foram explorados para extração de madeira na Amazônia entre agosto de 2021 e julho de 2022, sendo mais de 1/4 de forma ilegal. É o que dizem os dados do mapeamento realizado pelo Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex) – rede composta pelas ONGs Imazon, Idesam, Imaflora e Instituto Centro de Vida – divulgados na última quarta (13). Pelo segundo ano consecutivo, o estado de Mato Grosso é o líder isolado na exploração, com 65,8% do total. Maranhão, Tocantins e Amapá não foram mapeados, o último devido ao “alto percentual de cobertura por nuvens”.

Embora a exploração total na Amazônia tenha aumentado (394 mil hectares, ou cerca de duas vezes a cidade de Teresina, contra 377 mil no período anterior), a área retirada sem autorização diminuiu em 25%, chegando a 106 mil hectares – ainda uma área do tamanho da cidade de Belém, com 19,5% em terras indígenas. Mato Grosso concentra também grande parte da exploração ilegal, com 9 das 10 cidades e 9 das 10 áreas protegidas líderes no quesito, todas na região norte do estado.

As exceções ao “domínio” matogrossense são a cidade de Paragominas (PA), 7ª com mais extração de madeira, e a Terra Indígena Amanayé, também no Pará, a 10ª no quesito entre as áreas protegidas. Pará e Mato Grosso respondem pelos maiores índices de ilegalidade: 46% dos 38 mil hectares explorados no Pará e 31% dos 80 mil hectares explorados no Mato Grosso não tiveram autorização dos órgãos ambientais competentes.

Só as 10 cidades de Mato Grosso com maior concentração de extração ilegal correspondem a 52,4% do total do quesito na Amazônia. Colniza, na fronteira com Rondônia, lidera com folga: foram 12.610 hectares extraídos ilegalmente no município no período avaliado, uma área equivalente à cidade do Rio de Janeiro. A segunda colocada, Aripuanã, teve 8.584 hectares de floresta explorada sem autorização. Dos quase 80 mil hectares explorados ilegalmente no estado, 31% foram em terras indígenas e unidades de conservação. Na Terra Indígena Menku, a 7ª mais explorada do estado, por exemplo, a fiscalização do Ibama chegou a flagrar a atividade ilegal duas vezes em menos de um mês.

“Esse índice de exploração não autorizada é muito alto e representa graves danos socioambientais para a Amazônia, bem como econômicos, especialmente associados à cadeia produtiva da madeira”, aponta um trecho do estudo. “Esse mapeamento é um importantíssimo insumo para que os órgãos ambientais estaduais façam a fiscalização dessas áreas. Nesse sentido, é fundamental a cooperação entre os órgãos estaduais e o órgão federal, especialmente o IBAMA, para que esse combate seja feito de forma efetiva”, avaliou Vinícius Silgueiro, coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do ICV.

Amazonas e Acre com explosão de áreas exploradas

O período de agosto de 2021 a julho de 2022 viu um aumento de 4,5% na área total explorada em relação ao período finalizado em 2021. Embora Mato Grosso e Pará, líderes do levantamento, tenham reduzido seus índices em 6,3% e 32,5%, respectivamente, os outros estados avaliados puxaram os números gerais para cima.

O aumento mais dramático ocorreu no Amazonas, onde a exploração mais que triplicou – de pouco menos de 15 mil hectares para mais de 50 mil, um aumento de 236,9%. Outro estado com grande aumento foi o Acre, mais do que dobrando sua estatística de 10 mil para 25 mil hectares de floresta utilizados para extração madeireira. Além deles, Roraima (32,8%) e Rondônia (13,9%) também viram um aumento na área total de floresta extraída.

No total, mais de 60% da exploração total ocorreu em imóveis rurais inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Segundo Leonardo Sobral, gerente de cadeias florestais do Imaflora, estes “são imóveis rurais privados, em que os dados de propriedade e proprietário são de conhecimento dos órgãos ambientais, portanto passíveis de fiscalização e responsabilização”.

De acordo com o estudo, a manutenção de um cenário com percentuais elevados de ilegalidade tem consequências danosas e duradouras não apenas para a manutenção da floresta. “Sem o manejo florestal sustentável, a extração ilegal de madeira pode levar a floresta à degradação, tornando-a mais suscetível a incêndios e perda de biodiversidade, além de representar maior risco de conflitos fundiários e deixar de gerar empregos formais e renda”, conclui o relatório.

Gabriel Tussini Estudante de jornalismo (UFRJ)

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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