Farofa de Formiga

FAROFA DE FORMIGA

Farofa de Formiga

Outro dia um leitor da Xapuri nos perguntou sobre formigas comestíveis. Pesquisamos e soubemos que as formigas sempre foram usadas na dieta dos nossos povos indígenas e que, ao longo de séculos, essa tradição foi sendo repassada para as populações sertanejas do interior do Brasil

Por Lúcia Resende

No Nordeste, até hoje a formiga tanajura, também conhecida como içá, é usada no preparo de vários petiscos, torrada na manteiga, como se fosse amendoim, ou em farofas com farinha milho ou de mandioca.

Para a farofa, servida como iguaria em locais famosos como o Mercado São José, em Recife, se separam as pernas e a cabeça da formiga-rainha e, com o abdômen, se faz um refogado com alho, cebola e outros temperos, ao qual se agrega a farinha.

A receita que se segue encontramos no site de Ana Maria Brogui (https://www.anamariabrogui.com.br

INGREDIENTES

Azeite a gosto

Cheiro Verde

Farinha

Formigas Tanajura ou Içá

Tomates picadinhos

Cebola picada

MODO DE PREPARO

  • Limpe as içás retirando as pernas, asas e cabeça.
  • Coloque-as de molho em água morna com sal por 20 minutos.
  • Retire a água.
  • Leve a uma frigideira com óleo e frite por alguns minutos. Acrescente também a cebola.
  • Quando estiverem torradas (mas não queimadas!), acrescente a farinha.
  • Por fim, desligue o fogo e acrescente os tomates. Mexa bem e sirva.

Foto: Tapajós de Fato.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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