Feghali: enquanto houver desigualdade, não há democracia plena

Jandira Feghali: enquanto houver desigualdade, não há democracia plena

“Se você chegou a 33 milhões de pessoas com , não pode dizer que está num país democrático”, disse a líder do PCdoB. Confira o vídeo na íntegra com a entrevista

Por Iram Alfaia/Portal Vermelho

A líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Jandira Feghali (RJ), disse que enquanto houver desigualdade de classe, racial, gênero e acesso aos bens e serviços, não haverá democracia plena.

“Se você chegou a 33 milhões de pessoas com fome, não pode dizer que está num país democrático”, disse a parlamentar durante entrevista ao programa “Dando a Real”, nesta terça-feira (31) à noite, na TV Brasil, com o jornalista Leandro Demori.

Entre os assuntos, Jandira falou sobre a decisão de deixar a profissão de médica para ingressar na política parlamentar, a Lei Marinha da Penha, o conflito no e o golpe na ex-presidente Dilma Rousseff.

A falou sobre democracia no contexto de uma pergunta sobre o papel de alguns segmentos religiosos na política.

“Tem uma ação proativa de determinados grupos fundamentalistas que não são exatamente as religiões clássicas, dos evangélicos, dos católicos, dos budistas, da matriz africana e tal, que observam a como um projeto de poder”, considerou.

Confira a entrevista na íntegra:

Ela enfatizou que o é laico. “Cada um tem a sua fé, isso é liberdade de culto, liberdade religiosa. Nós vamos defender até debaixo d’água, sempre, mas não pode a política e as leis serem definidas por uma religião”, defendeu.

Sobre o ingresso na política parlamentar, ela disse que tomou consciência de que havia um problema maior durante sua atuação como profissional.

“Se era fome, ou reinternava porque não tinha dinheiro para comprar o medicamento. Tudo isso foi me levando a compreender que o contexto social era muito difícil”, lembrou.

“Depois eu fiz o projeto Rondon, na , lá em Parintins (AM), ali o sentimento foi o mesmo, eu tratava as crianças e elas bebiam água do rio na minha frente, ou seja, não adianta. Só isso aqui é pouco”, completou.

Jandira diz que seguiu na no Sindicato dos Médicos e no movimento de residentes. Na época, o PCdoB saiu da clandestinidade.

“Isso foi em 1985 e 1986. Era a primeira eleição em que a nossa legenda podia aparecer. Nosso partido foi dizimado no Rio de Janeiro pela ditadura e pela repressão. Não tínhamos muitas lideranças do movimento social naquele momento (…) A gente nem ia lançar federal, achava que não tinha força, acabamos lançando e elegemos. Então eu acabei sendo a deputada mais votada do Estado e aí nessa também elegemos o federal, que era um operário [Edmilson Valentim] aqui para Constituinte”, recordou.

A parlamentar também falou do trabalho como relatora da Lei da Penha. “A lei mudou o parâmetro do sistema de Justiça. Nós não estamos tratando de um crime geral, nós estamos tratando de um crime só por que você é mulher. Por isso, o feminicídio foi tipificado no Código Penal”, destacou.

Conflito Oriente Médio

Em relação ao conflito no Oriente Médio, a deputada defendeu a existência dos estados de e da e o respeito as resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU).

“Ninguém quer violência de lado nenhum, mas tem que reconhecer que tem um responsável maior por esse problema todo, que é o não respeito às resoluções exclusivas da ONU”, criticou a deputada a posição de Israel.

Questionada se o Brasil corre o risco de ter um novo Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara responsável pelo início do golpe parlamentar que retirou Dilma Rousseff da Presidência, Jandira respondeu que há um novo país.

“Nesse momento não tem ninguém com essa específica característica. Até porque o Brasil nesse momento muda de novo, vira uma chave depois de viver uma experiência muito ruim. Aquele golpe abriu a brecha, abriu o caminho para a eleição de Bolsonaro. Nós vimos o que ele fez do Brasil, além das 700 mil mortes [Covid-19]”, lamentou.

Fonte: Portal Vermelho Capa: Reprodução/TV Brasil


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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