FORRÓ: MANIFESTAÇÃO DA CULTURA NACIONAL

Forró é reconhecido como manifestação da cultura nacional

Ritmo musical existe há cerca de 70 anos no país

Por Sabrina Craide/Agência Brasil

Forro Guru da Cidade

Forró – Imagem: Guru da Cidade

O gênero musical forró foi reconhecido como manifestação da cultura nacional O projeto de lei que já havia sido aprovado na Câmara dos Deputados e no Senado foi sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta terça-feira (7). 

Segundo o projeto de lei, o forró é um dos mais autênticos gêneros musicais brasileiros. Nascido a partir da mistura de ritmos tradicionais da Região Nordeste como baião, xaxado, coco, arrasta-pé e xote, existe há cerca de sete décadas. Em 2021, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) declarou as matrizes tradicionais do forró como Patrimônio Cultural do Brasil.

Forro Jornal da USP

Forró – Arte: Jornal da USP

Participaram da assinatura a ministra da Cultura, Margareth Menezes, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e o deputado federal Zé Neto (PT-BA), autor da proposta, e a senadora Teresa Leitão (PT-PE), que foi relatora do projeto no Senado.  

“Um passo gigantesco para o nosso forró nordestino, e que passará a ter muito mais grandeza, respeito e possibilidade de fazer parte das políticas públicas em nosso país”, disse o deputado nas redes sociais.

Fonte: Agência Brasil Capa: Ricardo Stuckert/ PR

FORRO LU PATER NOSTRO

Forró – Lu Pater Nostro 
 
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Forró: Do Nordeste para o Mundo

O forró surgiu em meados da década de 1930, popularizando-se por volta dos anos 1950 por todo o Brasil através do poeta, cantor e compositor Luiz Gonzaga (1912 -1989), que convencionou o formato do trio de forró composto pelos instrumentos musicais sanfona, zabumba e triângulo.
Outros fatores como a migração nordestina para o sudeste, a divulgação midiática nas rádios e o interesse comercial das gravadoras, contribuíram para a popularização do estilo musical.
Existem diferentes versões para o surgimento da palavra forró. De acordo com a Enciclopédia da Música Brasileira (1998), a palavra trata-se de uma derivação do termo africano forrobodó, termo esse que é sinônimo de festa, de arrasta-pé ou farra. Essa definição é a mais aceita entre os estudiosos da área.
Outra versão aponta a origem no termo inglês for all, vinda da época em que os funcionários ingleses trabalhavam nas construções das ferrovias em Pernambuco e organizavam festas e bailes aberto ao público onde na entrada estava escrito “For All” e a apropriação do povo nordestino transformou em Forró.  Polêmicas à parte, a primeira gravação da palavra forró que se tem registro fonográfico data do ano de 1937, na canção Forró na Roça, de Manuel Queirós e Xerém pela RCA Victor.
Inicialmente, as letras de forró retratam hábitos e costumes do povo nordestino, assim como temas ligado ao amor, às lembranças e à saudade do Nordeste. Com o tempo as composições passaram a retratar diversos outros temas e assuntos.
No forró, existem gêneros específicos como o Baião, Xote, Xaxado, Coco, Embolada, Arrasta-pé, Rojão. Atualmente os gêneros mais tocados são o Baião, Xote e Xaxado.
Baião

O Baião é um ritmo musical e de dança do nordeste Brasileiro, com origens no Lundu Africano e nas danças indígenas. Antes de sua popularização no Sudeste, o Baião já era cantado por violeiros, bandas e conjuntos do interior nordestino.
Luiz Gonzaga, junto com Humberto Teixeira, convencionaram o Baião conforme entrevista ao Jornal O Pasquim, em 1971: “Eu tirei justamente do bojo da viola onde o cantador faz o tempero para o improviso, para o repente. Ele costuma cantar fazendo o ritmo no bojo da viola e o dedão vai comendo nos bordões. Eu peguei essa batida, criei um jogo melódico e Humberto Teixeira colocou a letra”.
Xote

A palavra tem origem da dicção popular alemã “schottische” que originou então a expressão “xote” ou “xótis”.
O xote é uma dança de salão, semelhante à polca, mas com andamento mais lento. Surgiu na Alemanha e se espalhou pela Europa chegando ao Brasil em meados do século XIX, onde animava os salões aristocráticos.
Rapidamente, esse gênero se popularizou por todo o território nacional adquirindo características específicas em cada região do país. No Sul o instrumento que se destaca no ritmo é a gaita, já no Nordeste, a sanfona.
Na mesma entrevista citada acima, Gonzaga descreve o Xote como música estrangeira que ganhou características do Nordeste. Luiz fala sobre o Xote nordestino como um xote malandro, xote pé de serra, uma forma matuta de dançar, as letras contam histórias jocosas e humorísticas.
Xaxado
Existem diferentes versões para a origem do xaxado, a mais aceita diz que teria vindo do Cangaço. Como não haviam mulheres nos bandos de cangaceiros, estes, dançavam com seus rifles em momentos comemorativos e a dança se tornava basicamente masculina.
Com a vinda das mulheres aos grupos, estas começam a entrar na dança também.  Segundo Enciclopédia da Música (1998) e o historiador Luís da Câmara Cascudo (1975), o xaxado é dança em círculo e em fila indiana, sem volteio, avançando o pé direito em 3 e 4 movimentos laterais e puxando o esquerdo, num rápido e deslizado sapateado.
O nome da dança, desta forma, é uma onomatopeia do som característico produzido pelas sandálias arrastadas no chão.
Atualmente o xaxado é dançado de forma enlaçada entre os parceiros da mesma forma que os outros gêneros do forró, desvencilhando completamente da como como faziam antigamente.
Três fases do Forró

Pode se dizer que o forró pé de serra teve três grandes momentos na história. O primeiro, na década de 1950, com o baião “criado” por Luiz Gonzaga, conhecido como Rei do baião e principal representante do forró, que abriu caminho para o surgimento de novos artistas nordestinos como Jackson do Pandeiro, Marinês, Dominguinhos, Sivuca, entre outros.
Já na década de 1970, a geração dos cabeludos Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Zé Ramalho e Elba Ramalho inovou o forró, introduzindo misturas sonoras como elementos da música pop e do rock, além da utilização de novos instrumentos como o baixo, bateria e guitarra.
O terceiro grande momento do Forró se inicia a partir do final da década de 1990 com grupos como Falamansa, Forróçacana, Rastapé, Trio Forrozão,  Raiz do Sana, Bicho de Pé, entre outros.
Esta última geração promove um movimento de difusão dessa cultura, principalmente pela facilidade de divulgação e promoção através das novas tecnologias e plataformas digitais.
O forró se modernizou junto com o processo de migração, urbanização e globalização do país, e acompanhou o desenvolvimento de novos sistemas tecnológicos e de comunicação. O forró, antes restrito ao interior nordestino, alcança níveis globais.
A música passou a utilizar diversos instrumentos e a dança se apropriou de passos de dança de salão. Surgiram, então, novas formas de relacionamento com a festa, música e dança, mas a alegria de curtir um “forrózin” não muda.
No Spotify do Sesc RJ você vai se deliciar com clássicos do forró e de diversos artistas presentes nesse texto, que passaram recentemente pelas nossas programações.
Você ainda pode aprender a dançar diversos passos do forró com os nossos professores no Canal do Youtube!

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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