Julho pode estabelecer novo recorde mundial de temperatura

Julho pode estabelecer novo recorde mundial de temperatura

É praticamente certo que este será o mês mais quente em termos de temperaturas médias globais absolutas, revela análise de cientista climático da de Leipzig, na Alemanha.

Por Michael Esquer/ O Eco

O mês de julho está prestes a se tornar o mais quente em termos de temperatura média global já registrada. Para se ter uma ideia, talvez fosse necessário voltar milhares de anos no — senão dezenas de milhares — para poder encontrar condições igualmente quentes as que o atingiu este mês. Isto é o que revela análise do cientista climático Karsten Haustein, da Universidade de Leipzig, na Alemanha, publicada nesta quinta-feira (27). 

A avaliação, fundamentada em informações de modelos climáticos orientados por dados de estações meteorológicas globais – o que abrange e mar, além de informações de radiossonda e satélite –, estima que até o final do mês a temperatura na Terra ficará 0,2ºC mais quente do que julho de 2019, até então o mês mais quente já registrado. 

O documento diz que apenas não se pode afirmar, com certeza, que este foi o mês mais quente desde o período Eemiano, entre 130 e 115 mil anos atrás, porque os dados de proxy climático – indicador natural usado para entender o do passado, como anéis de árvores ou sedimentos – possuem resolução temporal muito baixa. 

“Talvez tenha havido algum mês durante o Holoceno (atual época do período Quaternário, que começou há cerca de 12 mil anos) que foi mais quente, por mais improvável que pareça”. Entretanto, o fato de julho ser o mês mais quente já registrado em termos de temperatura média global só significa uma coisa: “Acabamos de viver o mais quente de qualquer mês nas últimas centenas ou milhares de anos”, descreve a análise. 

Com base em dados do Serviço de Copernicus (C3S), observatório financiado pela União Europeia (UE), a Organização Meteorológica Mundial (OMM) da Organização das Nações Unidas (ONU) também afirma que julho será provavelmente o mês mais quente já registrado na Terra.

Publicado nesta quinta, informe da OMM diz que as primeiras três semanas deste mês foi o período de três semanas mais quente já registrado e, com isso, o mês está caminhando para ser não apenas o julho mais quente, mas também o mês mais quente já registrado. 

De acordo com os dados do observatório, julho corrente responde por 21 dos 30 dias mais quentes já registrados globalmente. Os valores, baseados na temperatura média diária global próxima à superfície, variam entre 16,76°C e 17,08°C.

“Não precisamos esperar o fim do mês para saber disso. A menos que ocorra uma mini era do gelo nos próximos dias, julho de 2023 irá quebrar recordes em todos os aspectos”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres.

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Os 30 dias mais quentes já registrados globalmente. Fonte: ERA5/C3S/ECMWF

Situação pode piorar 

A análise do cientista da Universidade de Leipzig lembra que o recorde ocorre após o anúncio do El Ninõ no Pacífico tropical. Entretanto, o documento defende que é a emissão contínua de grandes quantidades de efeito estufa a razão fundamental para os recordes registrados – apesar do fenômeno também contribuir com o calor.

“Como os efeitos do El Niño só se manifestam plenamente na segunda metade do ano, junho – e agora julho – provavelmente será seguido por mais meses de calor recorde até pelo menos o início de 2024”, alerta a avaliação. 

O documento explica que mudanças climáticas dramáticas desse porte desencadeiam ondas de calor sem precedentes em águas marinhas e continentais, o que aumenta o risco de extremos de temperatura em todo o . “China, Sul da Europa e América do Norte registraram temperaturas recordes ou próximas ao recorde nas últimas semanas. O mesmo ocorreu no Oceano Atlântico Norte”, diz a análise.

“O Norte e partes do Oeste da Europa tiveram a de ficar sob nuvens durante a maior parte do mês, enquanto a maioria das outras regiões densamente povoadas registrou temperaturas acima da média, exatamente o que se espera de um planeta em rápido aquecimento”, acrescenta. 

Este é o momento no qual se vivencia a realidade de décadas de previsões de cientistas que alertam que as temperaturas estão aumentando rapidamente devido às mudanças climáticas, diz o pesquisador da Universidade de Princeton, Zachary Labe.

“Impactos e consequências estão sendo sentidos por comunidades e no mundo todo, especialmente pelos mais vulneráveis. Sem uma redução na emissão de gases de efeito estufa, o calor e os riscos subsequentes infelizmente continuarão a se ampliar”, afirma o cientista.

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Pedestres com guarda-chuva na Praça de São , no Vaticano, em meio a uma onda de calor na Itália. 19. jul. 2023. Foto: Tiziana FABI/AFP
Michael Esquer Jornalista. Fonte: O Eco. Foto: Jade Gao/AFP.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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