Cadê a água que estava aqui?

Seguir Esperneando: Cadê a água que estava aqui? Episódio 12

❤️ LIVE SOLIDÁRIA CADÊ A ÁGUA QUE ESTAVA AQUI? SEGUIR ESPERNEANDO – LANÇAMENTO DO EPISÓDIO 12

⏰ Dia: 21/09, às 21h

📍 Mediador: Duda Meirelles

🗣️ Participação:

📌 Gabriela de Toledo – Engenheira sanitarista e ambiental, Mestre em Meio Ambiente, Águas e Saneamento (UFBA), ativista socioambiental

📌 Marcos Helano F. Montenegro – Coordenador-geral ONDAS

SEGUIR ESPERNEANDO – O PODCAST DA LUCÉLIA SANTOS

EPISÓDIO 12 – CADÊ A ÁGUA QUE ESTAVA AQUI?

 Eu sou Lucélia Santos e você está no “Seguir Esperneando”, o meu podcast em parceria com a Revista Xapuri.

Neste décimo segundo episódio, “Cadê a água que estava aqui?”, vamos refletir sobre um problema que se agrava a olhos vistos: as águas do Brasil estão secando.  

A água não é um bem inesgotável e infinito. Ao contrário, a água é um dos recursos naturais que mais dá sinais de fadiga e, segundo a Ciência, pode não resistir ao abuso humano sobre o meio ambiente.

Um estudo criterioso do Map Biomas Águas, feito a partir da análise de dados de satélites, mostra que o Brasil perdeu 15,7% de sua superfície de água nas últimas três décadas. Caímos de 19,1 milhões de hectares cobertos por água em 1991, para 16,6 milhões de hectares em 2020.

ONDE ESTÃO NOSSAS ÁGUAS

Duda Meirelles:

 Eu sou Duda Meirelles e me somo à Lucélia Santos nesta reflexão sobre as águas brasileiras, que estão secando.

Segundo o MapBiomas, o Brasil possui 12% das reservas de água doce do planeta e 53% dos recursos hídricos da América do Sul. São 83 rios fronteiriços e transfronteiriços, 12 bacias hidrográficas e vários aquíferos. As bacias hidrográficas transfronteiriças ocupam 60% do território brasileiro.

Com quase 11 milhões de hectares de superfície de água, a Amazônia é o bioma brasileiro com a maior área coberta por água doce. Depois da Amazônia vem a , com mais de 2,1 milhões de hectares, seguido pelos Pampas,  1,8 milhão de hectares.

O Cerrado tem cerca de 1,4 milhão de hectares e por fim vem o Pantanal, com pouco mais de 1 milhão de hectares de cobertos por águas de superfície.

ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

Lucélia Santos:

Assim como no restante do planeta, boa parte da água doce brasileira fica guardada debaixo da terra, nos aquíferos subterrâneos. São os aquíferos que alimentam as nascentes e os rios, mesmo quando as secas reduzem o volume das águas de superfície.

O Brasil tem uma enorme concentração de aquíferos. Os principais deles são: Guarani, Alter do Chão (os maiores do mundo), Cabeças, Urucuia-Areado e Furnas. Muitos deles estão sendo exauridos e poluídos.

O aquífero Guarani, por exemplo, localizado na região centro-leste da América do Sul, 70% no Brasil e 30% no Paraguai e Argentina, um dos maiores aquíferos do planeta, já não possui águas limpas.

Sua enorme caixa d´água subterrânea, que abrange o subsolo dos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, está sendo cada vez mais afetada pelos  dejetos de animais, e resíduos químicos.

AS ÁGUAS VÃO SECANDO

Duda Meirelles:

O Brasil inteiro sofre com a escassez de águas. Os 3,1 milhões de hectares de superfície de água perdidos nos últimos 30 anos equivalem a uma vez e meia a superfície de água de toda região Nordeste em 2020. 

Dados da série histórica observada pelo MapBiomas registram que  o que mais perdeu superfície de água foi o Mato Grosso do Sul, com uma reduçao de 57%, sobretudo no Pantanal. Em 1985, o estado tinha 1,3 milhão de hectares cobertos por água. Em 2020, a cobertura era de menos de 600 mil.

Em seguida vem Mato Grosso, com uma perda de quase 530 mil hecares, e Minas Gerais, que hoje conta  com uma reduação de  118 mil hectares. Mas essa é uma realidade que impacta todas as bacias hidrográficas, em todos os biomas brasileiros.

As regiões Sul e Nordeste enfrentam um déficit hídrico. A expansão da geração de energia elétrica impacta a região Norte.  Na região Centro-Oeste, a expansão agrícola é a maior responsável pelo mau uso e pela escassez das águas. E o Sudeste, principalmente, com os impactos de uma aguda poluição hídrica.

RAZÕES DA ESCASSEZ

Lucélia Santos:

Carlos Souza Jr., coordenador do MapBiomas Águas, atribui o desequilíbrio hídrico brasileiro principalmente à dinâmica do uso da terra, baseada na conversão de em área de agricultura e pecuária, a partir do desmatamento e das queimadas.  

Com a abertura de grandes áreas de floresta, incluindo o desmatamento das matas ciliares, os rios vão sendo assoreados, suas calhas vão sendo reduzidas e eles vão perdendo sua capacidade de reservar as águas que correm em seus leitos.

Segundo o MapBiomas, o agronegócio é responsável por 72% do desperdício da água doce do Brasil.

A baixa eficiência tecnológica nas fazendas, especialmente na monocultura,  perde muita água na evaporação. Por causa disso, a produção de alimentos em larga escala exige uma  maior captação do recursos em rios e lagos.

O uso de agrotóxicos pela agricultura ajuda a reduzir os nossos recursos hídricos. Ao contaminar o solo e os mananciais, esses venenos reduzem a disponibilidade de água não somente no meio rural, mas também para o abastecimento das .

O maior comprometimento está no Pantanal, onde a Bacia do Alto Paraguai vem sendo cada vez mais afetada pela agropecuária.

OUTROS FATORES

Duda Meirelles:

A construção de represas em fazendas para irrigação, bebedouro ao longo de rios diminui o fluxo hídrico; e, em maior escala, as grandes represas para produção de energia, com extensas superfícies de água sujeitas a processos de evapotranspiração que leva a perda de água para a atmosfera.

A qualidade das águas brasileiras também vem sendo deteriorada pelo rejeito químico das fábricas e pela insustentável quantidade de dejetos do esgoto e dos lixões produzidos nos aglomerados urbanos.

Isso sem contar no efeito do aquecimento global, provocado pelas mudanças climáticas, que resultam no desabastecimento dos aquíferos brasileiros, verdadeiras caixas d´água subterrâneas, responsáveis por grande parte da água potável disponível para o consumo humano  no Brasil.

O QUE FAZER?

Lucélia Santos:

A grande pergunta é: o que fazer?

Para o MapBiomas, é possível reverter esse processo com políticas públicas de gestão dos recursos hídricos, começando pelo desenvolvimento e pela implementção de um plano multissetorial, pelo combate ao desmatamento e às queimadas, e pela correção da estrutura precária de saneamento em todas as regiões do Brasil.

Conforme dados da Agência Nacional de Águas (ANA), mais de 35 milhões de brasileiros e brasileiras não têm acesso à água tratada e o nosso sistema de água potável gera em média 37% de perdas e os dejetos dos esgotos urbanos compromentem 110 mil quilômetros de rios brasileiros.

Entretanto, dada a conjuntura política de um país sob a gestão de um governo inimigo do meio ambiente, é difícil pensar em uma solução de curto prazo para proteger as nossas águas e garantir a sustentabilidade do sistema hidrológico brasileiro.

CRISE HÍDRICA 2021

Duda Meirelles:

O Brasil enfrenta sua prior crise hídrica em um século. Isso acontece devido à redução das chuvas nos últimos tempos.  As precipitações na  estação chuvosa de 2020 e 2021 foram as piores desde 1930, quando começou a contagem da série histórica.

Como 63% da energia utilizada no Brasil vem das hidrelétricas, se São Pedro não nos der uma mãozinha urgente, mandando muita chuva, estamos em maus lençóis.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) já anunciou que vai precisar ampliar o uso das termelétricas, movidas a combustível fóssil, que em geral representam cerca de 13% da nossa matriz enegética.

O resultado é o aumento do custo da nossa conta de energia. Em julho, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aumentou em 52% a tarefa da bandeira 2 para o consumo de energia no País. Essa taxa é inserida na nossa conta de luz toda vez que cresce o custo da geração de energia no Brasil.

Em  julho, o valor de 100 quilowatts/hora passou de R$ 6,24 para R$ 9,49.  Em 31 de agosto, o governo decretou novo aumento. O custo passou de R$ 9,49 para R$ 14,20 para cada 100 quilowatts consumidos.

AS ÁGUAS NÃO MENTEM

 Lucélia Santos:

 A quantidade de água na Terra permaneceu praticamente a mesma por 2 bilhões anos.  É aterrador saber que o risco iminente de escassez de água doce no planeta, agudizado nas últimas décadas, vem sendo construído pelo descaso ambiental de nossa própria sociedade humana, ao longo de poucos séculos.

Uma tragédia que resulta, em grande  medida, da nossa mentalidade civilizatória, em especial a partir da Revolução Industrial, na segunda metade do século XVIII e do avanço do , que promove hábitos e padrões de consumo predatórios para o meio ambiente.  

É o calor do fogo, ateado por humanos em florestas tombadas pelo desmatamento para a expansão da fronteira agrícola, que aumenta a temperatura da Terra. É o aquecimento da Terra que torna o clima mais seco e altera o ciclo das chuvas. E é a falta de chuvas que reduz a água dos aquíferos, que deixam de irrigar  rios e nascentes, que já não podem suprir a demanda de  água para o crescente consumo humano.

Não bastasse o clima, outro motivo para a morte de nossos rios e lagos é a poluição. Nossos  lençóis freáticos e nossas águas de superfície estão  sendo cada vez mais contaminados por agróxicos, rejeitos químicos e insustentáveis bilhões de toneladas de esgoto e lixo urbano.

As águas não mentem e não nos deixam mentir. O que fazemos à Terra, fazemos às águas da Terra. Sem cuidar dos solos, sem preservar as nascentes, sem respeitar as áreas de matas protegidas, sem honrar a simbiose água e floresta, não há como pensar em um futuro com água farta e de qualidade. E, sem água boa, não há como pensar em um futuro sustentável para própria humanidade.

Encerro este podcast com uma reflexão do grande escritor : “As águas são fontes de vida e . E, por tudo  isso, são do planeta Terra e de todos os seres. É um direito de todos e não pode ser poluída, degradada ou mercantilizada. As águas e os rios são os patrimônios maiores de um povo. Uma civilização que mata as suas águas está matando a si mesma.”

Duda Meirelles:

 “Seguir Esperneando” é mais um espaço de resistência da Revista Xapuri, construído em parceria com a atriz e militante Lucélia Santos.

Este episódio, “Cadê  a água que estava aqui?”, resulta do esforço coletivo de Agamenon Torres; Ana Paula Sabino; Janaina Faustino; Lucélia Santos;  Zezé Weiss; e eu, Duda Meirelles.

O roteiro foi construído com base em textos e informações coletadas nos seguintes veículos: MapBiomas, MapBiomas Águas, Pensamento Verde, Revista Ecológico e Revista Galileu. Os dados estatíticos contemplam os registros de satélites pelo MapBiomas Águas até 31 de agosto de 2021.

“Seguir Esperneando é patrocinado por: Bancários-DF – Sindicato dosBancários de Brasília; Fenae – Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômmica Federal; Fetec-CUT Centro Norte – Federação dosTrabalhadores em Empresas de Crédito do Cento Norte; e Sinpro/DF –Sindicato dos Professores no Distrito Federal.

Colabore com a Xapuri. Visite nossa loja solidária em www.lojaxapuri.info, ou faça uma doação via pix:  www.contato@xapuri.info.

Até o próximo epsisódio do “Seguir Esperneando”!


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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