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Lula: Mais de 500 dias de injustiça e dignidade

Lula: Mais de 500 dias de injustiça e dignidade

Por Emir Sader 

Já foram mais de 500 dias de injustiça, mas também 500 dias de dignidade. Lula dá lição de caráter para todo mundo, de coerência, de espírito de luta. Lula combina o realismo com a esperança viva não somente de que ele vai sair, mas também de que o vai se recuperar A vitória da oposição na Argentina fortalece ainda mais nele essa convicção.3.1K

A hora e meia de conversa que pude ter com ele e a entrevista ao Bob Fernandes me dão ideia de corpo e alma do Lula aos 500 dias de prisão e de resistência. Ele parece o mesmo que se despediu de cada um de nós em São Bernardo, para se apresentar à PF e ser trazido à masmorra em que o encerram ilegal e injustamente desde então.

Como ele costuma reiterar, ele está ali voluntariamente, não apenas para provar que é inocente, como que os bandidos, que deveriam estar presos ali, são os que o acusaram e o condenaram sem provas. Que, se ele quisesse, poderia ter saído do Brasil. Estivemos juntos em Santana do Livramento, na Caravana do Sul, cruzamos a rua para Rivera, para comer numa churrascaria uruguaia. Bastaria ele ficar por ali e não teria que pagar esses já 500 dias de prisão e isolamento.

Mas o Lula não é disso. Ele faz questão de enfrentar tudo isso para provar sua inocência, que é uma forma mais de seguir os conselhos da Dona Lindu, de jamais abaixar a cabeça. De vez em quando sai nota na internet de quem quer ganhar espaço, de que o Lula vai sair agora ou em setembro, mas ele não se cansa de dizer, para quem quer escutá-lo, que só sai totalmente inocente, sem condicionante algum. Está pedindo que deixem de dizer essas coisas, que são falta de respeito com ele e sua palavra.

Na entrevista ao Bob Fernandes se pode ver o Lula de corpo e alma, depois de 500 dias e 500 noites de prisão ilegal. Se esperavam quebrar espiritualmente ao Lula, se deram muito mal. Ele está mais forte do que nunca.

Ele disse, na abertura, que se sente numa encruzilhada pela quantidade de mentiras que já foram contadas. Ele reafirmou que não precisa de favor, precisa de justiça. Na sua audiência ao Moro, ele lhe disse que ele estava condenado a condená-lo, porque disseram tantas mentiras. O Dallagnol, depois daquele power point, não teve coragem de encará-lo em nenhuma audiência. Com o apoio da Rede Globo, que não sabe mais viver sem a grade da destruição política do Brasil.

Ele está aguardando que a Suprema Corte retome a direção do poder judicial neste país e faça justiça. Ele disse o que o Intercept está revelando, que eles mentiram a seu respeito desde o começo. Pessoas que sabem que eles estão mentindo: Deus, ele Lula, o Dallagnol e o Moro. Ele tem desfiado a quem quer que seja que haja um real na vida dele que não seja resultado do seu trabalho.

Ele tem expectativa, depois de tudo o que está acontecendo, que a Suprema Corte faça justiça no Brasil. O que ele espera é o restabelecimento do Estado democrático de direito, em que as pessoas acreditem na Justiça.

Ele tem a plena convicção de que tudo o que está acontecendo em torno da Lava Jato tem o dedo dos EUA, do Departamento de Justiça.

No dia do tal power point, que termina com a declaração de que não tinha provas, só convicções, naquele dia, o Conselho Nacional do Ministério Público deveria ter pedido a exoneração dele.

O que estão fazendo com o Brasil – a maior preocupação do Lula – é um processo de destruição moral, ética, estão jogando fora tudo o que o Brasil construiu. Estão destruindo o que dá caráter a uma nação.

Comprar o básico, que foi conseguido pelos governos do PT, não é consumismo. Nós demonstramos que é possível montar um esquema político que torne possível o povo ter acesso aos bens básicos que ele precisa. Consumismo é querer ter 10 carros, ter não sei quantas casas.

Ele reafirma que provou, com muita humildade e com o apoio do povo brasileiro, que é possível consertar o país. Ele conversou com todo mundo, foi amigo de todos os países do mundo, não teve inimigos. Governou para todos, privilegiando os mais frágeis.

Na entrevista o Lula demonstra como está plenamente afiado para voltar a dirigir o Brasil. Que está informado e tem plena consciência dos problemas do país. Que enriqueceu ainda mais sua visão do mundo com o encerro e as leituras sistemáticas que ele vem desenvolvendo.

Já foram 500 dias de injustiça, mas também 500 dias de dignidade. Ele dá lição de caráter para todo mundo, de coerência, de espírito de luta. Lula combina o realismo com a esperança viva, não somente de que ele vai sair, mas também de que o Brasil vai se recuperar. A vitória da oposição na Argentina fortalece ainda mais nele essa convicção.

Foram 500 dias de prisão injusta, de condenação sem provas, de resistência e de exemplo para todos. Ele só sai inocente e, como ele reiterou, para seguir fazendo política, mais do que nunca, pelo compromisso de vida que ele tem com o Brasil e com o povo brasileiro.

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Emir SaderEmir Sader – Sociólogo.

 

 

 

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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