O ex-presidente e pré-candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou neste domingo (1º) que quer que trabalhadores e sindicatos voltem a ser ouvidos pelo governo para discussões sobre condições de trabalho, aposentadoria e investimentos em saúde. Em discurso no ato promovido por centrais sindicais para o 1º de Maio em São Paulo (SP), Lula evitou falar como candidato, mas disse que o Brasil vai eleger um presidente melhor que o atual em 2022…
Por Brasil Popular
Sem criticar explicitamente o presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula disse que o Brasil está “destruído”. No entanto, afirmou que é possível recolocar o país no caminho do crescimento e desenvolvimento ouvindo estudantes, trabalhadores e toda a população.
“Quem sabe o que precisa não é capitão [das Forças Armadas]. É um povo trabalhador, é o estudante, são as mulheres”, declarou, dizendo que pretende voltar a fazer conferências públicas para discussão de temas importantes para o país.
Lula falou que a volta de uma política de valorização do salário mínimo é necessária para o Brasil. Lembrou que, durante seu governo, o piso nacional era reajustado com base na inflação e no crescimento da economia. Isso fez com que o salário mínimo subisse 77% durante os governos do PT. Mesmo assim, a inflação manteve-se dentro do controle, ao contrário do que o atual governo tem feito.
“Vocês leram nos jornais que a inflação do mês foi a maior em 27 anos. Isso quer dizer que o salário diminuiu, que o carrinho tem menos compra, que na mesa tem menos coisas para vocês e a família de vocês”, pontuou o ex-presidente.
Para Lula, o trabalhador precisa voltar a ter um salário decente e emprego de boa qualidade. Lembrou que, durante os governos do PT, 22 milhões de empregos com carteira assinada foram criados. O ex-presidente também defendeu o controle estatal sobre a Petrobras e a Eletrobras.
Afirmou, por fim, que o Brasil precisa voltar a ser um país “civilizado”. “As instituições vão se respeitar, pai não vai ficar brigando com filho, vizinho não vai brigar com vizinho. Precisamos voltar a ter uma sociedade em que o amor supera o ódio.”
Importância das eleições
No palco do evento, o discurso de Lula foi precedido por falas de lideranças do campo democrático e apoiadores.
A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, deputada federal pelo Paraná, criticou Bolsonaro e afirmou que ele governa com interesses pessoais. Tanto é assim que hoje, no Dia do Trabalhador, convocou protestos contra o Supremo Tribunal Federal (STF).
“A tristeza do trabalhador não é causada pelo STF”, disse ela. “A causa da tristeza do povo é não ter um projeto para o país. É ter gasolina cara, gás de cozinha caro”.
Ex-prefeito da capital paulista e pré-candidato a governador do estado de São Paulo, Fernando Haddad (PT) destacou a crise vivida pelo Brasil. As eleições de 2022, disse Haddad, são uma oportunidade para recolocar o país no caminho do desenvolvimento.
“Vivemos um momento muito delicado, em que todas as centrais [sindicais] estão sendo destruídas para garantir que os lucros aumentem às custas do trabalhador”, afirmou. “Vamos colocar esse país no trilho da democracia e do desenvolvimento social.”
Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato a deputado federal, disse que há jovens trabalhando 12 horas por dia sem qualquer direito por conta da reforma trabalhista idealizada e sancionada pelo governo do ex-presidente Michel Temer (MDB). Boulos disse que o Brasil precisa de mudança e, por isso, a eleição deste ano não é uma eleição qualquer. “Serão os direitos contra os privilégios. Será a democracia contra a barbárie”, afirmou. “Vamos enfrentar o fascismo e vencer.”
Trabalhadores reclamam
Os discursos de Lula e outras lideranças foram acompanhados por centenas de trabalhadores e manifestantes. Eles reclamaram da situação econômica do país, principalmente da precarização das condições de trabalho e da inflação alta.
A prévia da inflação de abril deste ano ficou em 1,73% e é a maior para o mês desde 1995, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). Desde janeiro, os preços subiram em média 4,31%. Nos últimos 12 meses, 12,03%.
Ao mesmo tempo, o Brasil tem hoje 11,9 milhões de pessoas desempregadas (aqueles que perderam suas ocupações e seguem em busca de emprego), de acordo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada em 29 de abril pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O número segue estável em relação ao mês anterior. Mas isso ocorre porque parte das pessoas que perderam suas ocupações deixaram de procurar emprego e, por isso, não são contabilizadas entre os desempregados. Em outras palavras, não houve um crescimento na busca por trabalho. A população ocupada caiu 0,5%, o que representa 472 mil pessoas a menos no mercado de trabalho.
Janaína Cristina da Silva, 35 anos, por exemplo, é formada em pedagogia e não conseguiu emprego na área. Hoje, trabalha como vendedora informal de camisetas de temática política. Ela foi à Praça Charles Miller neste domingo para acompanhar o ato e também para buscar o sustento da família.
“Estou administrando o caos”, resumiu. “Sempre tem uma conta atrasada. Eu não consigo mais ir ao mercado e fazer uma compra. Eu compro o que está faltando”, expôs a vendedora informal.
Janaína defende que os trabalhadores se unam neste ano, pensando nas eleições, para que tenham um governo favorável às suas pautas. “Temos que organizar os trabalhadores, rever esse jeito liberal de pensar”, afirmou.
Marlene Bueno dos Santos, 62 anos, auxiliar de enfermagem e funcionária pública, também pediu mudanças. Afirmou que o ato deste 1º de Maio deve deixar claro a insatisfação da população com o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).
“O ato é um é um papelzinho numa numa fornalha. Ele vai ajudar. Todo mundo que está aqui já está consciente do que precisa ser feito”, afirmou.
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