Maria Bethânia: “Maria – Ninguém Sabe Quem Sou Eu”

Exclusivo: assista ao trailer oficial de ‘ – Ninguém Sabe Quem Sou Eu’, sobre Maria Bethânia

Documentário conta com um depoimento inédito e exclusivo gravado no teatro do Copacabana Palace, além de raras imagens de arquivo…

Por Cine Ninja

Bethânia sobre Bethânia: está é a proposta do novo filme documental “Maria – Ninguém Sabe Quem Sou Eu”, registro do jornalista e roteirista Carlos Jardim, que chega aos cinemas no dia primeiro de setembro.

Após 57 anos de carreira e 76 de idade, o diretor quis partir para uma abordagem mais intimista neste , a fim de desvendar mais sobre uma das maiores vozes da MPB brasileira. Num depoimento inédito e exclusivo gravado no teatro do Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, o filme intercala falas de Bethânia com imagens raras garimpadas nos arquivos de TV. Registros como os ensaios do show antológico que Bethânia e Chico Buarque fizeram em 1975, e do espetáculo que a cantora e o irmão Caetano Veloso realizaram em 1978, fazem parte do longa. Há ainda registros do icônico show “A Hora da Estrela”, de 1984, baseado na obra de .

Maria Bethânia fala sobre assuntos importantes de sua trajetória artística e pessoal, como a paixão pelo palco, a força de sua presença em cena, fé, religiosidade, a ligação de com a Dona Canô e seu pai Seu Zezinho, e claro, com o irmão Caetano Veloso. A cantora fala ainda sobre a importância da em seus trabalhos e sobre três escritores que admira e fazem parte de seu repertório: Fernando Pessoa, Clarice Lispector e .

A atriz Fernanda Montenegro faz uma participação especial no filme, narrando cinco textos sobre Bethânia, ilustrados com imagens registradas por fãs/fotógrafos da cantora. São textos escritos por Ferreira Gullar, Nelson Motta, Fauzi Arap, Caio Fernando Abreu e Reynaldo Jardim, este último, autor do “Bethânia Guerreira Guerrilha” (2014).

Assista ao trailer oficial do filme, divulgado com exclusividade para a Cine NINJA:

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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