Sobre cabelos: é preciso descolonizar a forma de olhar para o que é belo em diferentes raças

Sobre cabelos: é preciso descolonizar a forma de olhar para o que é belo em diferentes raças

“Vá arrumar esse cabelo, menina!”: É preciso descolonizar a nossa forma de olhar para o que é belo

do nosso parceiro Criando Crianças Pretas

Edição: Silvia Nascimento

Que veem à sua cabeça quando você se lembra dessa frase?

Não dá para continuarmos reproduzindo isso. Esse tipo de comentário, muitas vezes, resulta em um caminho trágico: a química capilar aos 8, 7 e até 6 anos de idade. Já que a cresce odiando o próprio cabelo.

Vamos pensar: nossa é racista e nossos padrões de beleza são colonizados e embranquecidos, isso significa que ficam o todo fazendo com a gente tenta caber numa coisa que nunca seremos (e que nem queremos ser): pessoas brancas.

Vamos descolonizar a nossa forma de olhar para o que é belo, então, proponho aqui a reflexão sobre as próximas frases.

O que significa para você arrumar o cabelo ou estar com o cabelo arrumado?

Será que nossos cabelos cacheados e cheios de curvas e caracóis nasceram para serem penteados?

Será que nossos cabelos, RESISTENTES como são, assim como nossos antepassados, devem ficar para baixo?

A palavra D E S E M B A R A Ç A R serve para o nosso estilo capilar?
Que imagem vem a sua cabeça quando se fala “cabelo sedoso”?

Fico pensando sobre quantos padrões repetimos o tempo todo em nossas palavras, comportamentos e estilos, mas que não nos servem e nunca nos servirão para nada. Na verdade, servem para causar mais sofrimento.

Para não sermos nós, os reprodutores do com nossos próprios filhos, eu proponho uma mudança de discurso com as nossas : Em vez de “vá arrumar esse cabelo, menina”… Possa haver “venha cá, deixa eu fazer um carinho nesse cabelo macio”.

Em vez de “hora de desembaraçar o cabelo”… Possa haver “vamos nutrir seu cabelo com hidratação, para ele continuar forte e macio”.

Em vez de “nossa seu cabelo é muito difícil de lidar”…. Possa haver “seu cabelo é lindo, herança dos nossos antepassados, símbolo de força e ”.

Fonte: Mundo Negro 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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