O Bem-Te-Vi de Thiago de Mello
O bem-te-vi que me perdoe, mas há momentos matinais em que seu canto chega a incomodar, repetindo com insistência que me viu, que me viu…
São muitos, um repete a cantiga do outro. Mas tudo é perdoável, pela beleza do peito amarelo e a raja branca que lhe vai do bico, passa entre os olhos e atravessa a cabeça.
É tremendamente machista: dá bicadas na fêmea em pleno voo, quando está louco por ela.
Do que mais gosto nele é a valentia: investe furioso contra o gavião que lhe quer tirar os filhotes do ninho. Não espera o ataque. Sai ao encontro do rapineiro, que encolhe as garras.
Thiago de Mello – Poeta Maior da Amazônia, em “Amazonas: Águas, Pássaros, Seres e Milagres”. Salamandra, 1998.
THIAGO DE MELLO
Amadeu Thiago de Mello nasceu em Barreirinha, Amazonas, em 30 de março de 1926. Além de tradutor e ensaísta, é um dos poetas mais influentes e respeitados do país, sendo reconhecido como um ícone da literatura regional. A luta política, o lirismo, as relações de família e os amores são facetas marcantes em sua obra.
Preso durante a ditadura militar (1964-1985), exilou-se no Chile, encontrando em Pablo Neruda um amigo e colaborador. Da amizade veio a decisão de traduzirem os poemas um do outro.
Mello morou na Argentina, no Chile, em Portugal, na França e na Alemanha. Voltou à sua cidade natal, onde vive até hoje, apenas após o final do regime militar no Brasil.
Publicou, entre outros livros, Acerto de Contas, Como Sou, Melhores Poemas e Amazonas – Pátria da Água. Suas obras foram traduzidas para mais de trinta idiomas.
Além dos livros, a Global disponibiliza diversos conteúdos exclusivos em seu blog: entrevistas, críticas literárias, resenhas, vídeos, notícias e muito mais.