Cambuci

“O CAMBUCI VOLTA AO BAIRRO!”

“O Cambuci volta ao bairro!” Esse é o tema da campanha de crowdfunding (arrecadação coletiva) que a Rota do Cambuci e o Instituto Auá lançam hoje, e que vai até o próximo dia 20 de março, para financiar um evento especial no calendário paulista: a realização do IX Festival Gastronômico do Cambuci em São Paulo.

O festival tem por objetivos: resgatar a cultura viva em torno desse fruto que é símbolo da Mata Atlântica; trazer manifestações artísticas únicas;  e, incentivar o cultivo da fruta no bairro que empresta seu nome ao fruto.  Além da arrecadação financeira, a campanha quer movimentar os paulistas para uma releitura de sua  história, trazendo público e envolvimento com o festival em prol da preservação do Cambuci.

O Festival  acontecerá nos dias 25 e 26 de março, no Largo do Cambuci, com uma programação diferenciada: encontro com os guardiões do fruto, que levam histórias e saberes sobre a cultura da Serra do Mar Paulista, rodas de conversa, oficinas e plantios de mudas, apresentação de chorinho e atrações culturais artísticas e típicas. Tudo para reforçar a própria identidade brasileira, ​reativando memórias e apontando caminhos para um desenvolvimento mais sustentável.

Rota do Cambuci é hoje um amplo coletivo de parceiros locais, prefeituras, ONGs, produtores rurais, pesquisadores e comerciantes, gerida pelo Instituto Auá de Empreendedorismo Socioambiental, que propõe uma aliança em torno do fruto, para um novo desenvolvimento ao longo dos 78 municípios do Cinturão Verde de São Paulo, com geração de renda para os produtores e preservação da Mata Atlântica.

O fortalecimento do movimento da Rota do Cambuci depende de todos e a campanha é uma forma de trazer cidadãos e empresas para apoiarem e fazerem parte dessa história, lembrando que também ganharão recompensas diferenciadas, inspiradas nas ricas tradições do fruto.

Participe! Doe, divulgue e conheça as recompensas: www.kickante.com.br/rotadocambuci

Cambuci

Cambuci

 Campomanesia phaea. Sinonímia botânica: Paivaea langsdorffii Berg

O cambucizeiro é uma árvore nativa da Mata Atlântica, ameaçada de extinção, que dá frutos em formato ovóide-romboidal, com uma crista horizontal dividindo-o em duas partes.  E é por este formato singular que se dá a etimologia do nome: deriva de kamu’si ‘ que significa vaso, pote ou urna funerária dos tupis. Um fato curioso é que foi a fartura desta fruta que inspirou o nome de um bairro tradicional na cidade de São Paulo. Da fruta, só restou o nome no local e poucos moradores sabem hoje o que é um cambuci.  
Trata-se de uma árvore semidecídua, higrófita e heliófita, da família das Mirtáceas, portanto, parente da goiaba, da pitanga, da guabiroba e da jabuticaba. Pode chegar a medir 8 metros, mas o desenvolvimento da planta é lento. No formato, a árvore é quase piramidal, com tronco liso e descamável e folhas elípticas.
As flores hermafroditas, brancas e atrativas desabrocham de agosto a novembro e os frutos amadurecem de janeiro a abril. Uma das características deste fruto é que a casca fina e verde não muda de cor com a maturidade. Ela apenas se torna um pouco mais amarelada. Sabe-se que está maduro quando fica mais macio e cai dos galhos.
As bagas, com cerca de 6 centímetros de diâmetro, têm polpa cremosa, suculenta, com poucas sementes. Ligeiramente doce, mas extremamente ácido como limão, o cambuci não é o tipo de fruto que se consuma facilmente in natura. Em compensação, tem muito sabor e perfume e por isto, desde o período colonial, passou a ser comum o uso da fruta para aromatizar cachaça, até hoje uma das aplicações mais difundidas nos lugares onde ainda é uma cultura viva.
Apesar de os frutos servirem de alimento para jaús, pacas, macacos e tucanos, as sementes possuem viabilidade germinativa curta. Talvez por isto ou talvez pela diminuição da fauna nativa, a dispersão de cambuci por aves e animais frugívoros não vinha acontecendo num ritmo satisfatório para a manutenção da espécie nas matas.
Por sorte, a árvore ainda sobrevive em vários pomares domésticos nas cidades da Serra do Mar, como é o caso de Rio Grande da Serra, Paranapiacaba (uma vila da cidade de Santo André), Salesópolis, Biritiba-Mirim, Paraibuna e outras cidades com resquício de Mata Atlântica.
E os moradores têm sido incentivados a plantá-la e mantê-la em seus próprios quintais, graças ao interesse gastronômico despertado pelos frutos e a descoberta de que eles podem fazer mais que simplesmente saporificar cachaças. E hoje, o cambuci já pode ser visto como uma alternativa de crescimento econômico e sustentável para os municípios que o adotaram como produto típico.  
Rico em fibras, o cambuci é ainda ótima fonte de vitamina C, outras vitaminas e sais minerais,  além de possuir agentes antioxidantes e taninos que combatem radicais livres, retardam o envelhecimento e fortalecem o sistema imunológico. 

Área tradicional de produção

O cambucizeiro é uma árvore originária do Brasil, Mata Atlântica, na vertente da serra do mar que da para o Planalto na cidade de São Paulo e do próprio planalto. Desde o tempo colonial, o fruto é usado como aromatizante para cachaça, apesar de ser muito rico do ponto de vista nutricional e gastronômico.
A população das cidades da Serra Mar que viram diminuir os estoques da fruta e seus usos, passou a dar valor às árvores que tinham nos quintais quando outros talentos culinários da fruta foram descobertos.
Cada árvore produz cerca de 300 quilos de frutas por ano e isto representa um incremento na renda dos moradores na época de safra. Como o consumo da fruta in natura é limitado pela agressividade da alta acidez e como as qualidades de sabor e aroma não se perdem com o processamento, logo se descobriu no cambuci um produto com talento ser congelado e transformado em iguarias.
E tanto a polpa batida quanto a fruta congelada inteira podem, na entressafra, ser usadas para a produção de bebidas e vários tipos de pratos doces e salgados, que aos poucos vêm sendo descobertos e catalogados nos concursos de culinária que acontecem durante os festivais.
A Vila de Paranapiacaba, em Santo André, foi pioneira em dar destaque à fruta na época de safra, criando um festival exclusivo em 2004, que inclui concurso culinário com participação dos moradores, cozinheiros amadores e chefes de cozinha. Dois anos depois, nascia o festival em Rio Grande da Serra, que atrai milhares de visitantes à cidade.  
E modelo fez tanto sucesso que a iniciativa foi copiada por várias cidades que hoje compõem a Rota Gastronômica do Cambuci, formada pela Vila de Paranapiacaba, em Santo André, Rio Grande da Serra, Paraibuna, Natividade da Serra, Salesópolis, Biritiba-Mirim, e Caraguatatuba.
Durante muito tempo a fruta teve seu uso restrito à infusão nas cachaças. Mas, atentos às inúmeras possibilidades culinárias da fruta, reveladas nestes concursos que acontecem nos festivais, pequenos produtores de fundo de quintal, em Rio Grande da Serra, criaram em 2006 a Cooper Cambucy da Serra, que hoje conta com 24 cooperados. Cada um deles possui de 2 a 10 pés de cambuci no próprio quintal.
E ainda compram, a preços justos, de moradores que queiram vender sua pequena produção.  A cooperativa faz também um trabalho junto à CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral), para a produção de novas mudas,  doadas aos participantes dos festivais ou vendidas aos interessados ao longo do ano em sua  sede ou em feiras. Basicamente extrativista no passado, hoje a produção de cambuci provém também de pequenos pomares domésticos, incentivados pela Cooperativa.
Para garantir a qualidade organoléptica dos produtos, um dos trabalhos da cooperativa é o treinamento dos cooperados e pequenos produtores em relação à forma adequada de colher o fruto que, por não mudar de cor com o amadurecimento, muitas vezes era colhido ainda imaturo.
Como não é um fruto que amadurece depois da colheita, quando colhido antes do tempo mantém o sabor excessivamente tânico e ácido, característica que o desvaloriza e desestimula o consumo. Os frutos estão no melhor estágio de maturação quando caem espontaneamente da árvore. Porém, neste ponto, costumam estar muito macios e podem se danificar com a queda. Por isto os produtores são treinados a preparar uma cama de capim para acolher os frutos que caem durante a safra.

O produto é tradicional da área de produção?

Sim. Tradicionalmente extrativista, porém, com a diminuição dos estoques nas matas, moradores e cooperados têm extraído parte da produção também de pomares domésticos, de cultivo livre de defensivos e adubos químicos.

O produto está sendo comercializado atualmente?

Sim, tanto o fruto in natura congelado, quanto outros produtos feitos com a fruta. A tradicional cachaça com infusão de cambuci, uva passa e maçã produzida pela Cooper Cambucy apresenta registro no Ministério da Agricultura e pode ser comercializada em todo o Brasil e exterior.
Já os outros produtos como o fruto in natura congelado, polpa congelada, geleias, trufas e Cambuci Ice (bebida à base de suco da fruta e vodca), ainda estão em fase de registro, mas podem ser comprados tanto na sede da Cooperativa quanto nas feiras durante os festivais que compõem a Rota Gastronômica do Cambuci. Durante a safra, a fruta fresca é vendida já higienizada nas feiras. Fora da safra, os frutos podem ser comprados congelados.

 
 
 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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