O PIANO QUE TOCA SOZINHO
O piano é um instrumento musical de cordas percussivas, inventado por Bartolomeo Cristofori em 1709, no qual, para a produção do som, cada tecla (peça de madeira), ao ser percutida, aciona um único martelo (peça de madeira recoberta por material macio, geralmente o feltro) que, então, toca nas cordas esticadas e presas numa estrutura rígida de madeira ou de metal.
Por José Gil Barbosa Terceiro
As cordas percutidas vibram e produzem o som, que é amplificado pela grande caixa de ressonância. Ganhou esse nome por oferecer ao instrumentista a possibilidade de um som leve ou forte na mesma tecla, dependendo da força empregada.
Por muito tempo foi o instrumento preferido das elites. O instrumento, além de ser considerado parte obrigatória da educação das mais refinadas famílias, se prestava muito bem a saraus e reuniões, opções de convívio social adequadas à sociedade da época, e teve seu auge nos séculos 19 e 20. Por ser um instrumento caro, até por conta de seu tamanho, era ainda símbolo de status e poder, pois não era qualquer um que podia possuir um piano em casa.
Notícias dão conta de que, durante todo o período do Brasil Colônia, a manutenção e até mesmo a fabricação de pianos eram entregues a artesãos. Alguns conseguiram construir pequenas fábricas, mas a pequena produção atendia apenas ao mercado regional e não fazia frente às importações de pianos europeus.
No final do século 19 surgiu a primeira fábrica de pianos do Brasil, a Nardelli, em São Paulo, para competir com os instrumentos estrangeiros. Todas as peças eram importadas e alguns modelos, todos de 85 teclas, possuíam a excelente mecânica americana Pratt-Read.
A partir daí, vários outros empreendedores, muitos deles judeus alemães que migraram para o Brasil e trouxeram na bagagem as técnicas construtivas de pianos, se dedicaram à fabricação desses instrumentos.
O país chegou a ter cerca de 90 fábricas, oferecendo instrumentos dos mais variados níveis de qualidade. Marcas como Albert Schmolz, Cirei, Sohn Jeg, Natal, Lichtner, Lux, J. Hoelzl e outras surgiram e desapareceram sem deixar maiores vestígios. Outras, no entanto, se consolidaram e fizeram história.
Hoje o instrumento tem entrado em declínio e a maioria dos fabricantes clássicos fechou as portas. Em 1909, mais de 364 mil exemplares eram vendidos por ano nos Estados Unidos. Hoje, não passam de 40 mil. Outros instrumentos tomaram o lugar e a preferência dos interessados em fazer música. Antes mais comuns, hoje os pianos são verdadeiras peças de museu.
Há muito tempo atrás, na cidade de Guadalupe, Piauí, uma rica família adquiriu a propriedade de um desses instrumentos. Diz-se que era sempre usado em festas e eventos familiares. Um dia, os membros da família viajaram e faleceram vítimas de um acidente de avião.
Depois do evento fatídico que vitimou seus donos, o piano foi doado a uma escola, onde permaneceu jogado em um canto por alguns anos, ocasião em que, volta e meia, alunos, professores e outros funcionários eram surpreendidos com o instrumento tocando sozinho. Fala-se mesmo que um vigia da escola, após um concerto noturno assombroso, pediu demissão.
Acredita-se que o instrumento seja assombrado pelo espírito de um de seus antigos proprietários, que, em vida, tinha muito gosto em tocá-lo.
Hoje, “o piano que toca sozinho” encontra-se em um museu daquela cidade, onde muitos funcionários dizem já tê-lo ouvido tocar sozinho. “A antiga funcionária, antes de mim, já ouviu ele tocar. Eu nunca ouvi, se eu ouvir, vou parar de trabalhar, porque vou ficar com medo!”, brincou Marize Delmontes, coordenadora do Museu de Guadalupe.
José Gil Barbosa Terceiro – Folclorista, escritor, pesquisador e gestor do site Causos Assustadores do Piauí https://causosassustadoresdopiaui.wordpress.com/, onde publica os causos, mitos e lendas.