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A lenda do boto cor-de-rosa

A LENDA DO BOTO COR-DE-ROSA

A do boto cor-de-rosa

Diz a lenda que durante as festas juninas, às margens dos grandes rios da Amazônia, enquanto as comunidades ribeirinhas celebram Santo Antônio, São João e São dançando quadrilhas, o boto cor-de-rosa aparece causando confusão entre as famílias que vivem na .

Parecido com o golfinho marítimo, o boto cor-de-rosa sai da água doce dos rios transformado em bonito e sedutor dançarino, sempre de roupa, sapato e chapéu brancos. A diferença dos jovens da região, além das roupas finas, é que o chapéu do boto esconde um grande orifício, que é por onde ele respira.

Mesmo com esse detalhe, o rapaz atraente, que ninguém sabe de onde vem, costuma seduzir uma das moças mais bonitas da festa, levá-la com ele até o fundo do rio e, ao amanhecer, abandoná-la grávida.

Por essa razão, quando um jovem diferente aparece de chapéu nas festas ribeirinhas da Amazônia, em geral pedem para que ele tire o chapéu, certificando-se, assim, de que não é um boto. Mas reza a lenda que o boto é sorrateiro e que, algumas vezes, consegue enganar muita gente em uma festa.

É dessa lenda que surgiu o costume de, entre as comunidades amazônidas, quando uma engravida e não se conhece o pai, dizer que a criança é filha do boto.

A LENDA DO BOTO COR-DE-ROSA

QUE ANIMAL É O BOTO COR-DE-ROSA?

Botos-cor-de-rosa mortos em decorrência da  que atinge os rios amazônicos e parte da região da Amazônia nos últimos anos chamam a atenção para a vulnerabilidade deste animal, que consta como em alto risco de extinção. O animal, cujo nome científico específico é Inia geoffrensis, está na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da e dos Recursos Naturais (IUCN). 

Por parecer-se com um golfinho, mas viver em água doce, pode haver confusão em torno de que tipo de animal é o boto-cor-de-rosa? A seguir, leia três dados sobre ele que ressaltam sua singularidade e explicam essa pergunta, 

1. O boto-cor-de-rosa existe em diversos países onde está a Amazônia – não só no Brasil 

O Inia geoffrensis é um mamífero típico de água doce. Segundo a IUCN, ele é endêmico dos rios da Amazônia, circulando por países variados da América do Sul que constituem esse bioma. Entre eles estão Bolívia, , Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, diz a fonte. 

Ainda assim, não se sabe exatamente o tamanho da área que um boto percorre durante sua vida, mas estudos identificam que eles podem permanecer por anos em áreas de menos de 100km² bem como se deslocar mais de 50 km em um único dia, informa a AMPA – Associação dos Amigos do Peixe-boi (entidade civil sem fins lucrativos criada nos anos 2000 para promover a pesquisa e proteção dos mamíferos aquáticos da Amazônia).

A LENDA DO BOTO COR-DE-ROSA
O boto-cor-de-rosa tem uma lenda folclórica associada a sua imagem. Segundo este mito, o animal se transformaria em um homem jovem, durante as noites, para conquistar mulheres das comunidades ribeirinhas. Foto de naturegirlkh/iNaturalist (CC BY-NC-ND 4.0), naturegirlkh/iNaturalist (CC BY-NC-ND 4.0)

2. O boto-cor-de-rosa possui um sistema mental de geolocalização na floresta alagada  

Como o boto-cor-de-rosa tende a ficar em seu habitat inicial, por isso as mudanças em seu podem ser tão prejudiciais a ele. “Por serem extremamente adaptados ao ambiente amazônico, os botos têm o sistema de ecolocalização bem desenvolvido e seu “melão” na cabeça é avantajado”, diz a AMPA. 

“Essa característica é importante para se mover na floresta alagada e procurar presas nas águas escuras dos rios amazônicos”, completa a fonte. Os animais também têm preferências de habitat de acordo com o sexo, afirma a AMAPA: “as fêmeas e seus filhotes ficam nos complexos de lagos e pequenos tributários, enquanto os machos preferem os rios principais”.

3. São muitos os nomes pelos quais o boto-cor-de-rosa é conhecido 

Já segundo um documento oficial do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), organização que integra o Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática do Brasil, o boto-cor-de-rosa também é popularmente conhecido por outros nomes. 

Entre eles estão boto-vermelho e boto-da-amazônia, mas ambos se referem aos animais endêmicos desta região. Novos estudos, no entanto, indicam existir duas espécies da família Iniidae na região: a Inia boliviensis para a população acima das cachoeiras do rio Madeira, e Inia geoffrensis para o restante da Amazônia.

Uma terceira espécie de boto foi recentemente identificada, detalha a AMPA: trata-se do Inia araguaiaensis, “o único golfinho exclusivo do Brasil e endêmico da sub-bacia Araguaia-Tocantins”.

boto rosa filhote
Dois botos registrados na região de Novo Airão, cidade nos arredores de , no estado brasileiro … Foto de CRISTINA RAPPA/iNaturalist (CC BY-NC-ND 4.0)
 

4. O boto-cor-de-rosa é o maior golfinho de água doce conhecido 

Dono de um corpo robusto e hidrodinâmico, o boto-cor-de-rosa é um mamífero com aparência similar a dos golfinhos. De acordo com a AMPA, ele pode chegar até 2,5 metros de comprimento e 200 quilos de peso. Eles podem viver por décadas, podendo chegar aos 45 anos

É o maior dos golfinhos de água doce do , afirma a fonte. “Os machos são bem maiores e mais rosados do que as fêmeas e sua coloração varia de cinza claro, nos filhotes e jovens, a rosa brilhante nos adultos”, diz a fonte.

 


 
 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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