Para não “bobear”
Clarice Lispector
Quando você era criança, nunca leu a história de uma princesinha linda, linda, mas – por maldição de fada ruim – que não abria a boca sem que desta lhe saísse sapos, lagartos e ratinhos?
Pois o modo moderno de saírem “cobras e lagartos” da boca linda de uma jovem é o de dizer muita bobagem com os lábios perfeitamente maquiados. Só que isso não acontece por maldição de fada ruim, e sim por ignorância, por falta de instrução. Uma dessas “princesas” modernas, ouvindo uma conversa sobre Hemingway, perguntou: “Qual o filme em que ele trabalhou?”
Ler é um hábito que todo mundo devia ter. Não se quer dizer com isso que todos leiam “coisas difíceis”. Mesmo uma revista bem-informada – e bem lida – pode ser uma fonte de culturazinha que pelo menos evita “cobras e lagartos”.
Clarice Lispector – Escritora, em Só para Mulheres – Conselhos, Receitas e Segredos. Organização de Aparecida Maria Nunes. Editora Rocco, 2006
Clarice Lispector, nascida Chaya Pinkhasivna Lispector (ucraniano: Хая Пінкасiвна Ліспектор; Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977), foi uma escritora e jornalista brasileira nascida na Ucrânia. Autora de romances, contos e ensaios, é considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX. Sua obra está repleta de cenas cotidianas simples e tramas psicológicas, reputando-se como uma de suas principais características a epifania de personagens comuns em momentos do cotidiano. Quanto às suas identidades nacional e regional, declarava-se brasileira e pernambucana.
Nasceu numa família judaica russa que perdeu suas rendas com a Guerra Civil Russa e se viu obrigada a emigrar em decorrência da perseguição a judeus, à época, a qual resultou em diversos extermínios em massa. A futura escritora chegou ao Brasil, ainda pequena, em 1922, com seus pais e duas irmãs.
Clarice dizia não ter nenhuma ligação com a Ucrânia – “Naquela terra eu literalmente nunca pisei: fui carregada de colo” – e que sua verdadeira pátria era o Brasil. Inicialmente, a família passou um breve período em Maceió, até se mudar para o Recife, onde Clarice cresceu e onde, aos oito anos, perdeu a mãe. Aos quatorze anos de idade transferiu-se com o pai e as irmãs para o Rio de Janeiro, na Tijuca, na Rua Mariz e Barros, 241, local em que a família se estabilizou e onde o seu pai viria a falecer, em 1940.
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p style=”text-align: justify;”>Estudou Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro, conhecida como Universidade do Brasil, apesar de, na época, ter demonstrado mais interesse pelo meio literário, no qual ingressou precocemente como tradutora, logo se consagrando como escritora, jornalista, filósofa, contista e ensaísta, tornando-se uma das figuras mais influentes da Literatura brasileira e do Modernismo, sendo considerada uma das principais influências da nova geração de escritores brasileiros. É incluída pela crítica especializada entre os principais autores brasileiros do século XX.