Poeira e Batom no Planalto Central
Notícias das mulheres na construção de Brasília
Por Zezé Weiss
As escritoras e economistas brasilienses Tânia Fontenele Mourão e Mônica Ferreira Gaspar de Oliveira produziram um documento histórico primoroso sobre as mulheres que participaram da construção de Brasília.
O livro Poeira e Batom no Planalto Central – 50 mulheres na construção de Brasília (Petrobras, 2010) resgata, por meio de depoimentos das mulheres pioneiras que chegaram às terras poeirentas da nova capital entre os anos 1956-1960 e permaneceram no Distrito Federal por pelo menos 20 anos, o complexo emaranhando de novos desafios, novas experiências, novos costumes e novos comportamentos vivenciados pelas mulheres que ajudaram a construir Brasília.
No dizer das próprias autoras, Poeira e Batom no Planalto Central “proporciona às futuras gerações fonte de pesquisa e referência histórica, além de experiências das mulheres em Brasília, no início dos anos 60, que contribuíram para a formação da cultura que permeia a cidade até os dias de hoje”. Os textos e depoimentos que se seguem são excertos desse livro de leitura leve, deliciosa e imperdível.
Brasília representou, para muitas mulheres, a quebra de paradigmas. Aqui não havia os controles sociais e morais de outros centos urbanos. A seleção por concurso de professoras em todo o país criou oportunidades para muitas mulheres saírem de suas pequenas cidades e terem a grande chance de conquistar sua independência econômica e social. Os salários eram compensadores. E, vindo para uma cidade em construção como Brasília, elas poderiam romper com os antigos valores patriarcais. Simone de Beauvoir, em 1949, já afirmava, no seu clássico livro O Segundo Sexo, que seria pela independência econômica um dos caminhos para as mulheres alcançarem a liberdade (…)
(…) Os jovens casais que aqui chegavam tinham que encontrar meios de criar seus filhos sem os aparatos de avós, tias e outros familiares. A divisão sexual do trabalho tradicional encontrou barreiras para se estabelecer numa cidade em que todos precisavam se ajudar mutuamente para sobreviver num cenário de precariedades. As relações de amizade com pessoas vindas das mais diferentes partes do país favoreciam as trocas solidárias, e homens e mulheres percebiam que precisavam reinventar outras formas de boa convivência.
(…) As discussões sobre liberdade de expressão e direitos iguais entre homens e mulheres davam seus primeiros passos em manifestações nos Estados Unidos e na França. No Brasil, ainda vigoravam papéis bem marcados entre homens e mulheres. Em Brasília, porém, até os costumes estavam em construção, propiciando novas relações entre as pessoas.
Publicado em 7 de março de 2015