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Ponto Nemo: Nosso lixo chega ao lugar mais isolado da Terra

Ponto Nemo: Nosso chega ao lugar mais isolado da Terra 

Se você um dia já pensou em dar um tempo em algum lugar remoto, longe de tudo, provavelmente ficou surpreso com o fato de que existem poucas alternativas.

Por Instituto Humanitas Unisinos

ponto nemo lixoBatizado de ‘Ponto Nemo’, local fica a 1,6 mil quilômetros de três ilhas (Foto: Reprodução / Timwi)

O ponto mais distante da terra firme, por exemplo, é conhecido como “polo oceânico de inacessibilidade”. Fica a 1,6 mil km equidistantes das costas de três ilhas já bem isoladas: a ilha Ducie (um atol que integra as ilhas Pitcairn), ao norte; Motu Nui (posse chilena perto da Ilha de Páscoa), a nordeste; e a ilha de Maher (na costa da Antártida), ao sul.

A reportagem é de Ella Davies, publicada por BBC , 17-10-2016.

Como o nome parece pomposo demais, o lugar recebeu o apelido de “Ponto Nemo”, em ao famoso anti-herói dos romances de Júlio Verne, o Capitão Nemo. O nome significa “ninguém” em latim, o que cai bem para um local raramente visitado por humanos.

Trata-se de um lugar peculiar: o Ponto Nemo é tão distante da terra firme que os seres humanos mais próximos dali são, em geral, os astronautas. A Estação Espacial Internacional percorre a órbita terrestre a uma distância máxima de 416 km do nível do mar. Já o pedaço de terra habitado mais próximo de Nemo fica a 2,7 mil quilômetros dali.

Cemitério espacial

Por causa disso, toda a região em torno do lugar é bastante conhecida dos astrônomos. As agências espaciais da Europa, da Rússia e do Japão o utilizam há muitos anos como “lixão” porque é o ponto do planeta com menos habitantes humanos e uma das rotas de navegação mais tranquilas.

Cientistas acreditam que mais de cem naves e equipamentos espaciais descontinuados agora ocupem esse “cemitério”, de satélites expirados à falecida estação espacial Mir.

Segundo a arqueóloga espacial Alice Gorman, da Flinders, na Austrália, esses destroços estão em pedaços e espalhados pelo leito do .

“Naves espaciais não sobrevivem inteiras à reentrada na atmosfera”, afirma. “A maioria se incendeia por causa do intenso calor. Os componentes que resistem melhor são tanques de combustível e veículos de pressão, geralmente feitos de liga de titânio ou fibra de .”

Enquanto os fragmentos menores da Mir acabaram pegando , as partes maiores teriam sido levadas pelas correntes marítimas até as praias das ilhas Fiji, enquanto o resto da nave de 143 toneladas afundou.

“Assim como navios naufragados, esses destroços criam habitats que acabam sendo colonizados por seres que vivem naquela profundidade”, diz ela. “A menos que haja vazamento de combustível residual, não há riscos para a marinha”.

Habitat extremo

E quem é que realmente vive no Ponto Nemo?

Segundo o oceanógrafo Steven D’Hondt, da Universidade de Rhode Island (EUA), provavelmente não muitos seres.

Isso ocorre porque o ponto fica dentro do giro do Pacífico Sul, uma enorme corrente oceânica rotatória que é limitada pela Austrália e pela América do Sul, pela linha do Equador e pela forte corrente circumpolar antártica.

As águas do giro são estáveis, com uma temperatura de 5,8ºC na superfície, segundo dados coletados pela Nasa (agência espacial americana). A corrente rotatória impede a entrada de águas mais quentes e ricas em nutrientes.

Além disso, como a região é tão isolada da terra firme, o vento não leva muita matéria orgânica até lá. Por isso, há pouco alimento disponível. O leito também é praticamente desabitado. “Trata-se da região menos biologicamente ativa de todos os oceanos do mundo”, afirma D’Hondt.

Mas algumas criaturas peculiares conseguem sobreviver em pontos da região.

O Ponto Nemo fica próximo ao extremo sul de uma linha submarina de atividade vulcânica que marca a fronteira entre as placas tectônicas do Pacífico e de Nazca. Uma boa quantidade de magma se instala nas fissuras e cria sistemas de ventilação hidrotermal que expelem água quente e minerais.

Trata-se de um ambiente de condições extremas, mas propício à proliferação de bactérias. Estas, por sua vez, sustentam criaturas maiores como o caranguejo-yeti (Kiwa hirsuta), observado pela primeira vez em 2005.

‘Lixão’ da humanidade

Infelizmente, o que mais parece estar se acumulando por ali é lixo. publicado em 2013 confirmou a presença de uma faixa de lixo dentro do Giro do Pacífico Sul. O maior acúmulo ocorre no centro, a 2,5 mil km do Ponto Nemo.

Os resíduos são essencialmente de plásticos carregados das áreas costeiras e de navios. A corrente rotatória acaba aprisionando o lixo e fragmentando tudo em pequenos pedaços.

Especialistas há muito discutem o desafio geográfico de encontrar o “meio” do oceano. Mas com novas tecnologias, eles conseguiram solucionar o problema. O polo oceânico de inacessibilidade foi descoberto oficialmente em 1992 pelo engenheiro de campo Hrvoje Lukatela, com o uso de um software especializado, que leva em conta o formato elíptico do planeta para ter precisão máxima.

É pouco provável que o ponto mude de lugar no próximo.

“A localização equidistante de três pontos é algo bastante singular, e não há outros pontos na superfície da Terra que possam, em princípio, substituir o Ponto Nemo”, explica Lukatela. É possível que novas ferramentas de medição – ou até a erosão costeira – acabem modificando ligeiramente a exata posição do local, “por uma questão de metros”.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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