COMO O POVO YE´PA MASA GANHOU O APELIDO "TUKANO"

COMO O POVO YE´PA MASA GANHOU O APELIDO TUKANO”

Como o povo YE´PA MASA ganhou por apelido a palavra “tukano”

A palavra tukano não tem nada a ver com a nossa verdadeira do povo YE´PA MASA. A palavra tukano é apelido. Vou explicar.

Por Álvaro Tukano 

COMO O POVO YE´PA MASA GANHOU O APELIDO "TUKANO"
Foto: Autoria desconhecida. Reprodução/Internet

No dia 22 de abril de 1500 os portugueses denominaram os nativos do de índios. Esse nome foi interpretado de maneira errada, pois eles pensavam estar na Índia. O apelido genérico “índio” não dá mais para apagar da página da história da colonização do Brasil.

Igualmente o nome tukano foi registrado pelos estudiosos e missionários que estiveram em nosso meio. Como os nossos antepassados não sabiam falar a portuguesa, não explicaram aos estudiosos sobre as coisas do passado.

Dizem os velhos que, certo dia, um grupo de pessoas de nossos antepassados foi fazer visita a uma comunidade, provavelmente de outra tribo.

Geralmente o nosso adora conversar e vive sempre feliz; aprende muitos ensinamentos ouvindo as histórias dos velhos e, depois, repassam-nas para outros parentes mais próximos.

Os homens gostavam de falar muito e isso sempre chamavam a atenção de outros mais calados e desconfiados.

Enfim, os nossos antepassados chegaram à comunidade e foram bem recebidos pelos chefes e pelo povo em geral. Assim que terminaram os cumprimentos de boas vindas, mantendo o costume dos nossos , uma bela moça daquela tribo ofereceu-lhes a panela de pimenta, beiju e mingau.

Naquele momento, todos se serviram da pimenta e pararam de falar. Então, a moça ficou observando em silêncio e disse: “Ah, quando não comiam a pimenta vocês falavam e riam demais. Agora, todo está quieto e não fala mais nada! Então, vocês são como os tucanos (pássaros) que quando comem as frutas ficam quietos…” Ao ouvir essa observação da moça todos riram.

Foi assim que nasceu o apelido tukano (ou DASE, que significa “tucano” em nossa própria língua) que ficou gravado na mente deles para sempre.

E, de fato, foi uma bela observação da moça. A “rádio cipó” funcionou muito bem e outros devem ter repetido esse apelido que nunca mais foi esquecido por tantas pessoas. E quem não conhece bem a  nossa história acha que somos descendentes do pássaro tucano. Isso não é verdade.

Álvaro Tukano – Introdução do “O Mundo Tukano antes dos Brancos”, Edição Ayõ – Instituto de Ciências e Saberes para o Etnodesenvolvimento – – 2017.  O livro encontra-se à venda no Memorial dos , em Brasília, por R$ 50 Reais.

COMO O POVO YE´PA MASA GANHOU O APELIDO "TUKANO"
Foto: Blog do Netuno
 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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