Protegendo a tartaruga-da-amazônia

Protegendo a tartaruga-da-amazônia

 Por: Amazônia Real | Camila Ferrara, Camila Fagundes e Carlos Durigan

 

A tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa) é a maior tartaruga da América do Sul chegando a medir pouco mais de um metro (1,09 m) de comprimento. Possui uma ampla distribuição, ocorrendo em todos os tributários da bacia Amazônica e do Orinoco. Durante a estação de seca na Amazônia, as tartarugas migram para a calha dos rios a procura de áreas de desova. Desovam cerca de 100 ovos uma única vez na temporada reprodutiva. O período de incubação varia conforme a localidade, durando em média de 45 a 55 dias.

Uma particularidade desta espécie é que é uma das mais sociais do e hoje sabe-se que utilizam a acústica para a troca de informação durante suas atividades sociais, como desova, migração e nascimento dos filhotes.

Atualmente a espécie está classificada na lista brasileira de animais ameaçados na categoria de quase ameaçada, e é listada como criticamente ameaçada pelo grupo de especialistas em quelônios da União Internacional para  da  (IUCN). A principal causa para o declínio populacional da tartaruga-da-amazônia é o consumo e o tráfico ilegal de sua carne e ovos. As fêmeas são mais ameaçadas pelo fato de atingirem maior tamanho do que os machos e poderem apresentar ovos, possuindo, consequentemente, maior valor comercial. Estudos vem apontando que esta espécie juntamente com o tracajá (Podocnemis unifilis) e iaçá (P. sextuberculata) estão entre as mais traficadas para o consumo.

Embora a tartaruga-da-amazônia seja protegida pelas leis de proteção à fauna (Leis No 5.197/67) e de crimes ambientais (No 9.605/98) que proíbem a caça, o comércio, o abate e o consumo de animais silvestres no , indivíduos desta espécie são amplamente traficados e consumidos ilegalmente, principalmente na Amazônia brasileira. Neste contexto, o governo brasileiro, ONGs e instituição de pesquisa vem atuando fortemente a favor da conservação desta espécie, principalmente no período de seca, quando a tartaruga-da-amazônia se torna mais vulnerável a captura, uma vez que os animais costumam ficar agregados em grandes grupos em frente à praia que desovam, as fêmeas saem da água em grandes grupos para a desova em massa e há o nascimento de grandes quantidades de filhotes em um único dia.

Para tentar diminuir a pressão sobre a captura ilegal da tartaruga-da-amazônia, a Wildlife Conservation Society – WCS Brasil (sigla em português Associação Conservação da Vida Silvestre) em parceria com o Instituto para (ICMBio), está desenvolvendo um projeto de conservação da espécie na Reserva Biológica do Abufari, onde está localizada a maior área de desova da tartaruga-da-amazônia no do .

O projeto conta com o patrocínio da Fundação o Boticário e tem o objetivo de melhorar os métodos de proteção, manejo e fiscalização de praias de desova com base na determinação e caracterização dos fatores que desencadeiam os padrões dos comportamentos associados com a coordenação e sincronização da desova e do nascimento em massa de filhotes.

Para o desenvolvimento do trabalho, a WCS Brasil está utilizando imagens aéreas obtidas com drone, informações de comunicação acústica dos adultos e filhotes e dados ambientais para formar uma base de dados que possibilitem a construção de modelos que consigam prever o período de desova e nascimento em massa na reserva. Este é o primeiro estudo desta temática na Amazônia.

Até o presente momento as imagens aéreas das tartarugas durante o período de desova e pré-nascimento dos filhotes começaram a revelar a dinâmica do uso do tabuleiro (como localmente é chamada a área de desova) pelas fêmeas e os padrões de movimentação dos indivíduos que permanecem na calha do rio em frente ao tabuleiro.

Evidenciamos que a tecnologia é bastante útil para estudos de biologia e ecologia de tartarugas, permitindo estimativas de abundância, densidade, análises comportamentais, entre outros. Além disso, obtemos algumas gravações de filhotes no interior do ninho e dos indivíduos adultos na frente da área de desova, confirmando que há vocalização de ambos os grupos no local de estudo e que muitos indivíduos permanecem próximo ao sítio reprodutivo até o nascimento dos filhotes.

Camila Ferrara é médica veterinária com doutorado em biologia de água doce pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Desde 2013 trabalha na WCS (Associação Conservação da Vida Silvestre) Brasil como especialista em quelônios.

Camila Fagundes é bióloga com doutorado em biologia de água doce pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Desde 2015 trabalha na WCS (Associação Conservação da Vida Silvestre) Brasil como coordenadora de análises espaciais.

Carlos Durigan é geógrafo, mestre em Ecologia, vive e atua na Amazônia há 26 anos. Participa de pesquisas multidisciplinares envolvendo estudos e trabalhos de campo em biodiversidade e sociodiversidade para subsidiar ações em Unidades de Conservação e Terras . Atualmente é Diretor da WCS Brasil (Associação Conservação da Vida Silvestre).

Fonte: Amazônia Real13043460 1063823553682740 510334649613372171 n 1
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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