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Qualquer semelhança não é coincidência

Qualquer semelhança não é coincidência

Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração…”

Chico Buarque

Caminhamos muito nessas voltas todas que o mundo deu desde a sua fundação até aqui. De lá para cá, esbarramos, quase sempre, no cerne da construção da , a ignorância humana. Dar voltas pressupõe passar pelo mesmo lugar, minhas lembranças localizam nos arquivos da outras tragédias, catástrofes que também fizeram muitos corpos sucumbirem a morte.
Fechei os olhos e minhas lembranças se encontraram com os judeus a caminho das câmaras de gás no Holocausto. Meu corpo estremeceu ao som das bombas atiradas em Hiroshima e Nagasaki. Fechei os olhos para as imagens aterrorizantes do o Tsunami na Indonésia.  Sem voz vi os aviões colidindo com as Torres Gêmeas no  11 de setembro nos E.U.
Hoje minha memória afetiva pulsa a dor intraduzível do horror da escravidão. Amanhã é 13 de Maio e quando vejo  a realidade brasileira na conjuntura de pandemia, meu coração sangra a mesma dor do açoite desferido pelo obscurantismo humano, que perpetuam os mesmos comportamentos de 300 anos atrás.
A população negra é a mais atingida pelo porque vive sem as condições mínimas de bem estar social, conseqüência da falta de organização e planejamento com aconteceu a libertação dos escravos.
A Lei Áurea não previu acesso a educação, a terra, a e o envelhecimento. A  possibilidade de que a Lei Áurea propôs se mostrou tão dolorida quanto o cativeiro, porque ela deixou de editar outras leis que a amparassem, muito pelo contrario. Uma rápida pesquisa no Google, pode nos mostrar o quanto as leis promulgadas após a abolição vão na contramão da possibilidade dessa população construir autonomia tal que os levasse a emancipação.
A população negra foi vilipendiada nos seus direitos essenciais desde sua chegada ao . A de leis de incentivo e acesso, abriu uma lacuna de desassistência para a população negra que permanece até hoje. A situação de vulnerabilidade do povo preto tem suas raízes agravadas pela Lei Áurea e que agora com a pandemia reverberam com muito mais força.
Fazendo uma breve comparação sobre esses dois momentos da recente do Brasil, a Lei Áurea e a pandemia podem constatar que vivemos as conseqüências no grau máximo de mais um ato pensado para salvaguardar os cofres e não as pessoas.
Laurentino Gomes fala em um de seus livros “que o trafico de escravos mudou a rota dos tubarões, tamanha a quantidade de corpos jogados ao mar”. A  milhares de pessoas foi negada a ao serem içados ao mar sem valor algum.
O Atlântico recebeu corpos sem nome, história e família, da mesma forma solo brasileiro abrigará em suas valas outra infinidade de corpos, mais ma vez na sua maioria absoluta corpos negros.
O Brasil foi o último país independente das Américas a abolir a escravidão, pelo histórico de sua de de reparação e assistência social, ele não seria exemplo de cuidado à sua  população, porque ela  é indiscutivelmente de maioria negra. Diante de uma sociedade que conserva um olhar  de desvalorização da vida, falta de empatia, e completo desrespeito diante da barbárie que assola a população negra, nos resta o quê?
Levantar cada vez mais alto nossas voz e bradar que nossas vidas importam, reafirmando que somos “Nós Por Nós” no fortalecimento e ampliação das nossas ações, nos aquilombando em estratégias modernas como as live, as vaquinhas e financiamentos coletivos.
Somos um povo que sobreviveu ao navio negreiro. Somos mulheres que sobreviveram ao estupro e ainda assim regamos a terra com nosso leite e aramos a terra junto aos homens negros, com bem disse meu querido amigo baiano  Prof. e jornalista Edson Cardoso do Irohin Centro de Documentação, Comunicação e Memória Afro-brasileira “somos a experiência humana que deu certo”.
Continuaremos Vivos.


Fonte: Blogueiras Negras

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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