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"Quando os vivos saem à praça, e os mortos, da sepultura"

“Quando os vivos saem à praça, e os mortos, da sepultura”

“Quando os vivos saem à praça, e os mortos, da sepultura”

NOTA AO POVO BRASILEIRO

Dos e das Familiares de Desaparecidos e Desaparecidas pelo Estado Brasileiro durante a Ditadura Militar

“A , como a ,

Segrega e vidas

E cedo ou tarde desova

A verdade sobre a aurora.

Não há cova funda 

Que sepulte

A rasa covardia

Não há túmulo que oculte

Os frutos da rebeldia.

Cai um dia em desgraça 

A mais torpe ditadura

Quando os vivos saem à praça

E os mortos, da sepultura.”

Afonso Romano de Sant´Anna em Os Desaparecidos 

 

AO BRASILEIRO

Nós, familiares dos mortos e desaparecidos durante o período ditatorial, repudiamos a fala e os atos do Presidente Jair Bolsonaro sobre Fernando Santa Cruz.

Falta ao Presidente Jair Bolsonaro o decoro, a ética, a dignidade e o idealismo daqueles homens e que lutaram por um país justo e democrático.

De maneira irresponsável e mentirosa o Sr. Bolsonaro pretende zombar do que já foi uma página triste e vergonhosa da nossa história recente.

Fazemos nossas as palavras:

“A natureza, como a história,

Segrega memórias e vidas

E cedo ou tarde desova

A verdade sobre a aurora.

Não há cova funda 

Que sepulte

A rasa covardia

Não há túmulo que oculte

Os frutos da rebeldia.

Cai um dia em desgraça 

A mais torpe ditadura

Quando os vivos saem à praça

E os mortos, da sepultura.”

Afonso Romano de Sant´Anna em Os Desaparecidos

ASSINAM  ESTA NOTA OS FAMILIARES DE:

Fernando Santa Cruz

Davi Capistrano

Elson Costa

Iran Pereira

Jaime  Miranda

João Massena

Joel Vasconcelos

Luiz Almeida de Araújo

Luiz José da Cunha

Luiz

Orlando Bomfim Júnior

https://xapuri.info/elizabeth-teixeira-resistente-da-luta-camponesa/

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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