Nascida em São Luís, Maria Firmina quebrou paradigmas à frente do seu tempo. Professora e escritora, ela também publicava em jornais, especialmente sobre a pauta abolicionista. À abolicionista coube a publicação do primeiro romance brasileiro contra a escravidão, Úrsula (1859).
Mulher, pobre e negra, Maria Firmina começou o contato com a literatura quando se mudou para a casa de uma tia com melhores condições de vida na vila de São José de Guimarães, no estado do Maranhão, ainda em 1830, aos 8 anos de idade.
Apesar da sua grande contribuição para a literatura e ao movimento abolicionista, as informações sobre a autora ainda são fragmentos resgatados a partir do trabalho de pesquisadores nas áreas dos estudos de gênero e estudos afro-brasileiros, que vêm resgatando autoras antes desconhecidas ou ignoradas pela história.
Segundo algumas fontes, em São José de Guimarães, Maria Firmina passou a conviver com referências culturais e parentes ligados ao meio cultural, como o primo Sotero dos Reis, jornalista, poeta, professor e escritor da época.Antiga casa/escola de Maria Firmina dos Reis em Guimarães – MA, a do lado esquerdo com porta e janelas em arcos / Arquivo – Osvaldo Luís GomesFormou-se professora e em 1847 foi a primeira mulher negra a ser aprovada em concurso público no Maranhão e, logo no momento de posse, deixa claro sua postura antiescravista, se recusando a desfilar em um palanque nas costas de escravizados pelas ruas de São Luís.
Como era considerado impossível uma mulher da sua época, negra e pobre assumir o posto de literária, foi somente graças à docência que Maria Firmina passou a publicar os primeiros escritos, ainda em folhetins e jornais literários locais, lançando então o primeiro livro de romance chamado Úrsula, em 1859, assinado sob o pseudônimo “Uma maranhense”.
Úrsula foi o primeiro romance brasileiro escrito por autor afro-descendente, um dos primeiros livros escritos por uma mulher e o primeiro livro brasileiro a se posicionar contra a escravidão, contando ainda com o diferencial de apresentar como ponto de partida, o ponto de vista dos próprios escravizados, feito este à frente de aclamados escritores como Castro Alves e Bernardo Guimarães.
Maria Firmina escreveu também o romance Gupeva (publicado em folhetins em 1861 e em volume em 1863), e publicou o livro de poemas chamado Cantos à beira-mar (1871), onde dedica poemas à mãe e à irmã, apresenta poemas de amor, abolicionistas e patrióticos sobre a Guerra do Paraguai, além de inúmeras outras contribuições, como a composição do “Hino de Libertação dos Escravos”, em 1888.
Para o movimento, homenagem reforça o papel de Maria Firmina na cultura pela resistência / Mariana CastroHomenagem
Na sua cidade natal, em São Luís (MA), o Movimentos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) homenageia a escritora, que dá nome e vida ao Solar Cultural da Terra Maria Firmina dos Reis, amplo espaço cultural e político dedicado à divulgação, comercialização, formação e troca de experiências de trabalhadores rurais.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana do mês. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN Linda Serra dos Topázios, do Jaime Sautchuk, em Cristalina, Goiás. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo de informação independente e democrático, mas com lado. Ali mesmo, naquela hora, resolvemos criar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Um trabalho de militância, tipo voluntário, mas de qualidade, profissional.
Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome, Xapuri, eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás de grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, praticamente em uma noite. Já voltei pra Brasília com uma revista montada e com a missão de dar um jeito de diagramar e imprimir.
Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, no modo grátis. Daqui, rumamos pra Goiânia, pra convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa para o Conselho Editorial. Altair foi o nosso primeiro conselheiro. Até a doença se agravar, Jaime fez questão de explicar o projeto e convidar, ele mesmo, cada pessoa para o Conselho.
O resto é história. Jaime e eu trilhamos juntos uma linda jornada. Depois da Revista Xapuri veio o site, vieram os e-books, a lojinha virtual (pra ajudar a pagar a conta), os podcasts e as lives, que ele amava. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo a matéria.
Na tarde do dia 14 de julho de 2021, aos 67 anos, depois de longa enfermidade, Jaime partiu para o mundo dos encantados. No dia 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com o agravamento da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
É isso. Agora aqui estou eu, com uma turma fantástica, tocando nosso projeto, na fé, mas às vezes falta grana. Você pode me ajudar a manter o projeto assinando nossa revista, que está cada dia mió, como diria o Jaime. Você também pode contribuir conosco comprando um produto em nossa lojinha solidária (lojaxapuri.info) ou fazendo uma doação via pix: contato@xapuri.info. Gratidão!
Zezé Weiss
Editora
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