Recuperação ambiental: confira experiências agroecológicas do MST na região Sudeste

Recuperação ambiental: confira experiências agroecológicas do MST na região Sudeste

Sem Terras socializam experiências de combate à degradação ambiental.

Por Wesley Lima/Movimento Sem Terra

Na grande região Sudeste, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) está organizado nos quatro estados e tem experimentado diversos processos de organização produtivas e iniciativas, a partir da agroecologia, que têm impulsionado a produção de alimentos saudáveis, o desenvolvimento econômico e a relação com a sociedade.

Essas experiências foram socializadas na última sexta-feira (28), no primeiro dia da Reunião do Coletivo Sudeste do Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, com foco na recuperação ambiental, plantio de árvores e produção de alimentos saudáveis na região.

A reunião se estendeu até domingo (30), no Centro de Formação Maria Olinda (Ceforma), em São Mateus (ES), com um debate aprofundado sobre a conjuntura política, econômica e ambiental no Brasil, tendo como ponto de partida os impactos da crise ambiental na atualidade.

Conheça algumas das experiências socializadas:

Espírito Santo: “Aonde tem gente, tem comunidade e tem recuperação ambiental”

Adelso Rocha Lima, dirigente do setor de produção do MST no Espírito Santo, exibe a produção de café da reforma agrária. Foto: MST-ES

Adelso Rocha Lima é do assentamento Valdício Barbosa, localizado no município de Conceição da Barra (ES). Ao relatar as experiências de recuperação ambiental realizadas no estado, ele afirmou que o plantio de árvores nos assentamentos se tornou uma ação cotidiana. “Trabalhamos aqui com a sensibilização, mobilização e planejamento de ações voltadas às atividades e a missão do Plano Nacional do MST”.

Lima explicou que as ações de plantio acontecem a partir de um “calendário organizativo”, que contém datas e marcos importantes à luta dos trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra do estado, como nos aniversários dos assentamentos ou acampamentos, em homenagem aos mártires e datas comemorativas em geral. Além disso, ele conta que as “ações simbólicas” também compõem o calendário de plantio, seja na abertura de atividades gerais da organização a momentos nas escolas.

Algumas áreas são modelo na recuperação ambiental no estado: o assentamento Nova Conquista, em Pinheiros; acampamento José Marcos de Araújo, em Presidente Kennedy; assentamento Nova Vitória, em Pinheiros; e no assentamento Piranema, no município de Fundão.

“Aonde tem gente, tem comunidade e tem recuperação ambiental”, destaca Lima. Ele conta ainda que é central garantir o envolvimento de todos e todas da comunidade no plantio de árvores, como as crianças, mulheres e a juventude. Em paralelo às ações de plantio, ele afirma que o grande desafio é avançar na elevação do nível econômico e organizativo do Plano no estado.

Rio de Janeiro: Plantar árvores e denunciar o agronegócio

Plantio de mudas no Acampamento Cícero Guedes, do MST no Rio de Janeiro. Foto: MST-RJ

Bosques que visam a recuperação ambiental, distribuição de mudas e plantio de árvores urbanas são algumas das experiências desenvolvidas pelo MST no Rio de Janeiro, desde o lançamento do Plano Nacional no estado em fevereiro de 2020.

Uma questão que se destaca é a realização do plantio de árvores e a ocupação de um latifúndio em paralelo. Mostrando que plantar árvores, também é uma forma de luta em denúncia ao modelo de produção do agronegócio.

Em junho de 2021, as famílias Sem Terra ocuparam a fazenda Cambahyba, formando o acampamento Cícero Guedes. Com um mês de resistência a ocupação já teve sua primeira grande vitória conseguindo efetivar a emissão de posse das terras da antiga Usina de Cambahyba, em Campos dos Goytacazes, concedida pela Justiça Federal ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Desde a ocupação, as famílias entenderam que era necessário realizar uma ação de recuperação ambiental e iniciaram o processo de construção do bosque Marielle Franco. A área de um hectare, com projeção de expansão, recebeu a construção do bosque com 500 mudas de árvores frutíferas distribuídas.

Junto ao cultivo e construção do Bosque, a produção avança na implementação de um sistema de irrigação automática de “bailarina” e está em estruturação um viveiro para produção de novas mudas.

Outra experiência citada foi a construção de uma Unidade de Produção Agroecológica no Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Oswaldo de Oliveira. A área está localizada em Macaé e é referência na produção coletiva de alimentos saudáveis e sem veneno, sendo modelo na matriz agroecológica de desenvolvimento sustentável no estado.

O assentamento é pioneiro nesta modalidade de produção, com respeito aos bens da natureza e organização do território através da coletividade. Mesmo assim, as famílias Sem Terra têm sofrido ao longo dos anos decisões arbitrárias de despejo, como a que ocorreu em 2021. As experiências agroecológicas se tornaram elementos de resistência na ocasião.

Minas Gerais: Mudas e sementes contra o modelo destrutivo da mineração

Inauguração de Viveiro em Minas Gerais. Foto: MST-MG

No estado de Minas Gerais, as principais iniciativas de recuperação ambiental estão atreladas à denúncia dos crimes ambientais causados pelas empresas Vale e Samarco de Mineração.

programa Semeando Agroflorestas, desenvolvido pelo MST junto a famílias assentadas de Minas Gerais, reúne ações de restauração florestal aliadas à coleta de sementes e produção de mudas nativas, frutíferas e de hortaliças. O principal método é a implantação de sistemas agroflorestais na perspectiva agroecológica.

O desenvolvimento desta iniciativa tem como marco a construção e evolução da cadeia produtiva de mudas e sementes no estado. O impulso inicial foi dado em 2016 com a assinatura de um convênio com o governo estadual, quando foram construídos quatro viveiros nas regiões Norte (assentamento Estrela do Norte), Sul (assentamento Nova Conquista), Vale do Rio Doce (assentamento Liberdade) e Triângulo (assentamento Emiliano Zapata), no intuito de produzir mudas nativas para reflorestamento.

Os viveiros se tornaram centros de referência regionais, com grande mobilização de pessoas e animação de processos. Seminários, capacitações, visitas acadêmicas, coleta e beneficiamento de sementes e mutirões são exemplos de ações desenvolvidas.

Em linhas gerais, essa experiência está conectada com outras desenvolvidas nas Escolas do Campo, junto com os Sistemas Agroflorestais (SAFs) e a construção de viveiros. Hoje, o estado tem sido um berço de experiências, que focam na recuperação ambiental frente ao modelo destrutivo da mineração.

São Paulo: Sistemas agroflorestais

Sistema Agroflorestal do Assentamento Mário Lago, do MST em São Paulo. Foto: Filipe Peres

Uma das experiências produtivas construídas em São Paulo conectada com a ação do Plano Nacional é o “Projeto Dandara: transição agroecológica em territórios de reforma agrária”. A ação é uma parceria do MST com o Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão em Educação e Conservação Ambiental (NACE-PTECA/ESALQ/USP).

O projeto tem como objetivo facilitar o planejamento, implantação, manejo e monitoramento de SAFs, tendo como base a construção de metodologias participativas de base agroecológica, em parceria com as famílias vinculadas à Cooperativa dos Produtores Campesinos (COPROCAM), residentes nos assentamentos Dandara e Reunidas, município de Promissão, centro-oeste do estado de São Paulo.

Em números, participam 22 famílias e foram implantados 20 SAFs, totalizando 13 hectares (1.450 mudas/ha), média de 0,5 ha/família, todos em áreas produtivas dos assentamentos, com 18,8 mil mudas de 81 espécies arbóreas (83% nativas e 17% exóticas) e mais 700 kg de sementes de adubação verde.

Como desdobramento, outras iniciativas foram construídas, como as cestas agroecológicas, que visam a venda direta de alimentos saudáveis entre o produtor e o consumidor, e a recuperação de rios.

Fonte: Mídia Ninja. Foto: Lavinia Fornasiari.

Block

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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