Testes de gravidez eram feitos com rãs vivas – e funcionavam

Testes de gravidez eram feitos com rãs vivas – e funcionavam

Até os anos 1960, médicos usavam anfíbios vivos para ver se havia bebê a bordo – e funcionava!…

Por Fred Linardi/via aventurasnahistoria

Muitos métodos caseiros e imprecisos foram utilizados ao longo dos séculos para confirmar ou não uma suspeita de gravidez. A maioria desses procedimentos, porém, sempre teve uma prática em comum: o uso da urina para obter a resposta que mudaria para sempre a de uma . No Egito antigo, a possível futura fazia xixi sobre sementes de trigo ou de cevada por dias seguidos. Se germinassem, era sinal de que estava à espera de um bebê. Era comum também os observarem a coloração da urina, procurando mudanças em seu visual.

Na Europa da Idade Média a aparência do líquido era valorizada. Para tentar saber se uma mulher estava grávida ou não, uma amostra era colhida e misturada a vinho ou a outras bebidas alcoólicas para ver se os fluidos produziam reações químicas. Há registros do século 16 que descrevem colorações esverdeadas e esbranquiçadas da urina, interpretadas como indícios de uma provável gestação.

Foi apenas no fim do século 19 e início do 20 que começou-se a desvendar o caminho para detectar uma gravidez com mais precisão. Em 1904, o cientista inglês Ernest Starling identificou substâncias liberadas por glândulas que foram chamadas por ele de hormônios. Nos anos seguintes, essa descoberta fundamental levaria a novos testes.

Por volta dos anos 1920, o hormônio HCG (gonadotrofina coriônica humana), presente na placenta e, consequentemente, no xixi, começou a ser usado como uma forma de reconhecer a gravidez. O hormônio fazia com que mamíferos como ratos e coelhos ovulassem. E isso podia ser usado como teste. O problema é que o único jeito de notar isso era matar e dissecar o .

Em 1930, o médico britânico Lancelot Hogben notou que o efeito também acontecia com anfíbios – como as fêmeas botavam ovos, isso podia ser facilmente verificado, e não era preciso sacrificar o animal.

Hogben começou pelo comum (gênero Bufo), mas descobriu que a rã-de-unhas africana, Xenopus laevis – era mais rápida. O animal botava ovos poucas horas depois de receber uma injeção de urina de uma grávida. Como as rãs são fáceis de criar, isso foi, usado como método de detecção de gravidez até a criação dos testes modernos. E tantas dessas rãs foram criadas que elas se tornaram uma espécie invasiva em vários países, como os EUA, Reino Unido e Canadá.

Nas décadas seguintes, a presença do HCG começou a ser identificada em exames de laboratório. O teste de farmácia que conhecemos hoje, também baseado no HCG, só chegou ao mercado dos nos anos 1970.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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